São Paulo pretendia concorrer à sede dos Jogos Pan-Americanos de 2031, mas resolveu retirar a candidatura para abrir caminho ao pleito conjunto de Rio e Niterói. Nesta quarta-feira, 29, o COB deve confirmar, em Assembleia Geral, os municípios fluminenses como os representantes brasileiros na disputa para sediar o evento.
A capital paulista já havia manifestado o desejo de sediar o Pan de 2027, mas não enviou enviou a carta de compromisso à Panam Sports, responsável pela organização dos Jogos, dentro do prazo. No final das contas, Lima disputou com Assunção, atual adversária dos candidatos brasileiros, e foi eleita como sede.
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A ideia de sediar o evento não foi extinta, e a Prefeitura de São Paulo a levou adiante preparando nova candidatura, mas para a edição de 2031. Ao fim de 2024, ganhou a concorrência nacional de Rio e Niterói, em meio à qual travou-se uma pequena disputa nos bastidores, entre apoios de atletas e federações para cada uma das candidaturas.
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No dia 16 de janeiro deste ano, novamente a candidatura paulistana foi retirada. Em nota oficial assinada pela Prefeitura de São Paulo e o Governo do Estado de São Paulo, foi declarado apoio à candidatura fluminense, com elogios ao projeto e às condições das então concorrentes. A decisão foi tomada após um encontro entre prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos)
“A decisão, tomada em comum acordo com o governo do Rio e as prefeituras do Rio de Janeiro e de Niterói, tem como base a relevante infraestrutura disponível das duas cidades – Rio de Janeiro sediou as Olimpíadas em 2016. O objetivo agora é trabalhar conjuntamente para que os jogos Pan-Americanos venham para o Brasil”, dizia o comunicado.
Para Sergio Schildt, presidente da Recoma, empresa especializada em infraestrutura esportiva responsável por inaugurar, em 2024, o Complexo de Atletismo Aída dos Santos, no campus do Gragoatá da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ).
“O Pan-Americano no Brasil é extremamente positivo, já que ele traz visibilidade para modalidades diversas e inspira uma nova geração de atletas. A manutenção deste calendário é um ponto fundamental para que o país possa avançar no ranking mundial, não só no esporte olímpico, como também no esporte paralímpico, que temos pretensões maiores”, afirma Schildt, que atuou em projetos do Pan do Rio-2007, de Lima-2019 e Santiago-20233.
“O Rio de Janeiro é uma grande praça no cenário esportivo internacional, com uma história recente significativa após os Jogos Olímpicos de 2016. A cidade possui um legado que, mesmo com desafios estruturais, ainda pode oferecer boas condições para sediar o evento”, completa.
Joaquim Lo Prete, country manager da agência de experiências esportiva Absolut Sport no Brasil, que é parceira da Conmebol e realiza ações logísticas em eventos de grande porte, defende que o apoio paulistano a candidatura fluminense foi o melhor caminho a ser tomado frente às circunstâncias.
“Acredito que essa decisão de São Paulo apoiar Rio-Niterói foi acertada, pois ambos chegaram a um consenso que, somando forças, poderiam proporcionar uma experiência em logística, estrutura e turismo ainda maiores. Isso certamente foi relevado, pois os últimos eventos no Rio foram muito bem sucedidos, inclusive em questões de segurança e relação com instituições públicas, além do profissionalismo entre todas as autoridades. A experiência recente da final da Libertadores em 2023 foi um exemplo”, diz Lo Prete.
“O governo estadual e municipal de São Paulo reconheceram que a experiência da última década da cidade carioca em grandes eventos esportivos, tanto do ponto de vista de operação quanto de infraestrutura são mais adequados aos Jogos e com o apoio, ampliam as chances do evento ser dedicado no país, uma vez que não divide votos”, acrescenta Ivan Martinho, professor de marketing esportivo pela ESPM.
Após São Paulo sair de cena, o Governo Federal também declarou apoio ao Rio e à Niterói. O presidente Lula (PT) assinou a carta de garantias que será apresentada à Panam Sports para oficializar a candidatura brasileira.
“O presidente Lula mais uma vez manifesta seu apoio e compreensão desse papel que o Rio tem a cumprir. Ele tem essa percepção do Rio como a capital internacional do Brasil e, com certeza, será o nosso maior cabo eleitoral. Temos 80% das instalações prontas e o restante dos equipamentos serão temporários, o que torna nossa candidatura ainda mais forte”, afirmou Eduardo Paes (PSD), prefeito do Rio.
A estrutura que o Rio já possui em razão de ter sediado os Jogos Olímpicos de 2016 ajudou São Paulo a aceitar o acordo a favor da candidatura fluminense e convenceu os escalões superiores de que a opção era mais viável, embora Niterói tenha de receber investimentos, caso o pleito seja vencido. De qualquer forma, Niterói já tem alguns equipamentos esportivos modernos, caso do Complexo de Atletismo Aída dos Santos.
Espera-se também que a Região Metropolitana do Rio seja beneficiada em termos de infraestrutura. Uma das expectativas é de que sediar o Pan ajude a tirar do papel o projeto da linha 3 do metrô, que ligaria o centro da capital a Niterói e São Gonçalo.
“Nós temos no Rio uma estrutura esportiva toda pronta e Niterói tem toda a intenção de fazer isso, de aproveitar esse momento para levantar orçamento para a cidade”, disse o secretário municipal de Esportes do Rio, Guilherme Schleder, à Agência Brasil. “O que tem que se buscar, e a gente vai tentar fazer, são as obras que ficam de legado. E nesse momento, tem grandes obras que podem ser pleiteadas e a mais clássica é a Linha 3 do metrô, que atenderia tanto Rio quanto Niterói, que seriam as sedes do Pan. É uma obra grandiosa e seria um legado incrível.”
Nesta quarta, a postulação Rio/Niterói defende a candidatura frente ao colégio eleitoral do Comitê Olímpico do Brasil (COB), no que deve ser uma apresentação de até 30 minutos, com argumentos sobre a infraestrutura e planejamento. Tal etapa ocorre por ser parte do procedimento e não deve haver problemas de aprovação por parte do COB, que terá a responsabilidade de oficializar a candidatura junto à Panam.
As cidades brasileiras têm como concorrente Assunção, que anunciou a candidatura no dia 26 de dezembro. Durante o processo de eleição da sede do Pan 2027 - que teve de ser reiniciado após a então escolhida Barranquilla não cumprir obrigações contratuais -, a capital paraguaia também concorreu e foi derrotada por Lima. O vencedor do pleito para sediar o Pan 2031 será anunciado em agosto deste ano.