Copa do Catar fecha ciclo de 12 anos marcado por acusações de corrupção e concessões da Fifa

Entidade vê sucesso no primeiro Mundial no Oriente Médio, mesmo após controvérsias, escândalos e denúncias

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Foto do author Ricardo Magatti
Atualização:

Assim que o árbitro polonês Szymon Marciniak apitar o fim de Argentina x França, terminará a Copa do Mundo do Catar e, por consequência, um ciclo de 12 anos que começou com a controversa escolha da pequena e endinheirada nação do Oriente Médio para sediar o maior torneio de futebol do planeta.

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Encerra-se neste domingo, 18, um período marcado por polêmicas, acusações de corrupção, prisões, afastamento e banimento de dirigentes do alto escalão da Fifa, que se viu obrigada a mudar suas diretrizes e seu estatuto a partir do Fifagate, o maior escândalo de corrupção da história do futebol, deflagrado em 2015.

Investigações do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, com apoio dos procuradores suíços, trouxeram à tona pagamentos de propina, extorsão, lavagem de dinheiro e fraude envolvendo altos dirigentes da Fifa e que remontavam há quase 20 anos.

Presdente da Fifa, Gianni Infantino, durante a cerimônia da entrega da medalha de bronze para a Croácia. Foto: GIUSEPPE CACACE / AFP

O Catar é parte importante nesse momento mais conturbado da história da entidade que comanda o futebol mundial. A escolha do país do Oriente Médio para sediar o Mundial de 2022 foi revelada em novembro de 2010, quando Joseph Blatter era presidente da Fifa.

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O governo do Catar foi acusado de ter pagado 880 milhões de euros (cerca de R$ 4,6 bilhões) à Fifa para comprar votos em favor de sua candidatura para a Copa do Mundo de 2022. A oferta teria sido feita 21 dias antes de a entidade máxima do futebol mundial definir o país-sede do torneio.

Blatter admitiu posteriormente que dar a sede da Copa para o Catar em detrimento dos Estados Unidos foi um erro. O suíço renunciou ao cargo por causa de denúncias de corrupção e está banido das atividades da entidade, cumprindo suspensão de seis após ter sido condenado pelo Comitê de Ética do órgão

Foi o Fifagate que expôs a corrupção sistêmica na Fifa e causou a queda de Blatter, do francês Michel Platini, ex-presidente da Uefa, e de outros cartolas, incluindo o ex-presidente da CBF, José Maria Marin, atualmente preso. Seu sucessor, Marco Polo Del Nero, foi outro impactado pela operação e acabou sendo banido pela Fifa das atividades relacionadas ao futebol. Ricardo Teixeira, antecessor de Marin, renunciou em 2012, também com acusações de corrupção.

Críticas, contragolpe e diplomacia

Blatter foi sucedido por Gianni Infantino no comando da Fifa. O atual homem mais poderoso do futebol mundial lidou ao longo dos anos com questões que perseguem o Mundial desde que o Catar começou a se preparar para recebê-lo. O dirigente ítalo-suíço falou com a imprensa apenas duas vezes ao longo da competição.

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Em ambas as ocasiões, teve de responder sobre as mortes de trabalhadores imigrantes que trabalharam na construção e reforma dos oito estádios da Copa e nas obras de infraestrutura, as acusações de que o país viola direitos humanos e também cerceia direitos das mulheres e da população LGBT+, o sufocamento da liberdade de expressão e as restrições envolvendo a comunidade LGBT+ - a própria Fifa proibiu manifestações de seleções sobre isso durante a Copa do Mundo.

Presidente da Fifa, Gianni Infantino (C), nas tribunas do Estádio Khalifa para acompanhar a partida entre Croácia e Marrocos.  Foto: JACK GUEZ / AFP

Primeiro, um dia antes da abertura da competição, Infantino adotou postura incisiva, partindo para o contra-ataque no sentido de defender os anfitriões do torneio, citando um suposto preconceito dos europeus. Ele disse se sentir catariano, árabe, africano, gay, deficiente e trabalhador imigrante e afirmou que não eram justos os questionamentos.

Naquele momento, Infantino resolveu dar uma resposta porque a Fifa havia sofrido um revés assim que o Supremo Comitê da Entrega e Legado acatou a ordem da família real catariana e proibiu a venda de cervejas nos estádios a dois dias do início da Copa. Essa não foi a única concessão que a Fifa, nunca antes tão curvada a um país, foi obrigada a fazer. A entidade mudou para o fim do ano a realização do torneio, quebrando uma tradição de organizá-lo sempre entre junho e julho, para fugir das altas temperaturas durante o verão do Catar, onde os termômetros registram até 50ºC.

Quase um mês depois, o presidente da Fifa sentou-se em frente a centenas de jornalistas para fazer um balanço do Mundial. Usou expressões superlativas com o objetivo de exaltar “a melhor Copa de todos os tempos”. Para ele, a jornada no Catar foi um sucesso e “o futebol reforçou seu poder de coesão único ao unir o mundo em um espírito de paz e amizade”.

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Infantino celebrou uma Copa “fantástica, sem incidentes”, e sustentou que as normas do país anfitrião de cada Copa têm de ser respeitadas. No pensamento do dirigente, a Fifa defendeu “valores, os direitos humanos e os direitos de todo mundo” e valorizou os torcedores que foram aos estádios e que assistiram às partidas pela televisão ao entregar um “legado transformador”.

“Todo mundo tem seus problemas, mas essas pessoas querem passar os 90, 120 minutos, sem pensar em nada, apenas desfrutar do futebol”, considerou Infantino. “O que se passa depois ou antes, fora da partida, todo mundo pode expressar sua opinião do jeito que quiser”.

O próximo ciclo começa nesta segunda e será mais curto - de três anos e meio. A expectativa da Fifa é de que seja consideravelmente mais tranquilo com a realização da Copa de 2026 nos Estados Unidos, Canadá e México.

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