Início da Copa do Mundo no Catar é marcado por protestos de seleções por causas sociais

Equipes que jogam o Mundial de 2022 já fizeram sinais de apoio à comunidade LGBT+, gestos antirracismo e silêncio durante o hino como forma de protestar contra regime teocrático do Irã

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Por Redação

A Copa do Mundo no Catar começou há poucos dias, mas já é marcada por protestos de jogadores de diferentes seleções por causas sociais. Nesta quarta-feira, 23, os jogadores da seleção da Alemanha taparam a boca antes de entrar em campo como uma forma de protesto contra a proibição de usar a braçadeira de capitão da campanha “One Love” durante os jogos do mundial no Catar. O acessório é um símbolo de apoio à comunidade LGBT+.

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Os jogadores entendem que a proibição é da Fifa, que fez um pedido para as seleções manterem o foco nos jogos em vez de usar a exposição mundial do torneio para apoiar movimentos ideológicos ou políticos. Em carta assinada por Gianni Infantino, presidente da Fifa, e pela secretária-geral Fatma Samoura, a entidade pediu para que o futebol não fosse “arrastado” para o campo de batalha político ou ideológico. Recentemente, a Fifa autorizou a entrada de bandeiras LGBT+ nos estádios, atitude que contrariou a posição do major-general Abdulaziz Abdullah Al Ansari, presidente do Comitê Nacional de Contraterrorismo do Catar.

O ato dos atletas da Alemanha já é o terceiro a acontecer durante o torneio deste ano. Mais cedo nesta semana, os jogadores do Irã não cantaram o hino nacional antes da partida como uma forma de apoio às manifestações contra o regime teocrático do Irã, iniciadas após a morte da jovem Mahsa Amini, de 22 anos, em 16 de setembro, enquanto estava sob custódia policial. Ela foi presa pela Patrulha de Orientação, uma polícia da moralidade do país, por não usar um hijab corretamente. Durante o jogo, mulheres iranianas nas arquibancadas do estádio choraram. Proibidas por 40 anos de entrarem nos estádios em seu país, após a Revolução Islâmica em 1979, muitas delas estavam assistindo a uma partida de futebol da Copa pela primeira vez. Em 2019, protestos levaram a Fifa a determinar ao Irã a entrada das mulheres do país nos estádios.

Seleção Alemã protesta 'OneLove' em partida Alemanha x Japão Foto: Divulgação

No mesmo jogo, a seleção da Inglaterra entoou o “God Save The King” – “Deus Salve o Rei”, em tradução livre – e se ajoelhou em sinal de protesto contra o racismo. Antes da partida, o técnico Gareth Southgate já havia avisado sobre o ato dos jogadores logo antes do apito inicial contra o Irã. “Discutimos sobre ajoelhar, e chegamos à conclusão que devemos fazer isso. É o que acreditamos como time, e temos feito isso por muito tempo”, disse Southgate.

O protesto foi, especialmente, em relação ao assassinato sofrido por George Floyd, que morreu sufocado por um policial nos Estados Unidos, em maio de 2020. Não é a primeira vez que essa atitude é tomada por jogadores. No Campeonato Inglês, jogadores têm se ajoelhado como uma manifestação antirracista. Assim como outras seleções, a Inglaterra deixou de usar a braçadeira “One Love” após a proibição da Fifa.

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Declan Rice, Harry Maguire e Jude Bellingham se ajoelharam antes da partida da Inglaterra contra o Irã, pela Copa do Mundo, como um ato de manifestação antirracista. Foto: REUTERS/Hannah Mckay

As manifestações de jogadores não devem parar por aí. Kasper Hjulmand, técnico da seleção dinamarquesa, disse em entrevista coletiva que o time cogita fazer protestos depois que a Fifa ameaçou punir os jogadores que usarem uma braçadeira “One Love” durante as partidas. “É uma situação extremamente difícil porque seria algo que defendemos. Os jogadores defendem, eu defendo. Talvez haja outras possibilidades, vamos esperar para ver. Defender a diversidade não pode e não deve ser uma declaração política”, comentou o técnico da Dinamarca.

Vale notar que a Copa do Mundo no Catar já levantou diferentes polêmicas, como as péssimas condições trabalhistas das pessoas que construíram os estádios para o Mundial, o desrespeito aos direitos da comunidade LGBT+ e o gasto de US$ 229 bilhões, 16 vezes mais do que a Rússia investiu para sediar o torneio de 2018.

Torcedores do Irã protestam a favor dos direitos das mulheres no país. Foto: Ronald Wittek
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