Crianças esportistas são mapeadas por empresários e fecham acordos de patrocínio cada vez mais cedo

Joia do Palmeiras, Diego Lionel, de apenas 9 anos, já tem contrato com a Adidas, por exemplo, seguindo os passos de Endrick, de 15 anos

PUBLICIDADE

Foto do author Ricardo Magatti

Diego Lionel é ainda bem jovem. Tem 9 anos, mas os contratos que assinou recentemente já prometem mudar a sua promissora carreira. O menino tem vínculo de formação de base com o Palmeiras e outro de patrocínio com a Adidas, gigante alemã de material esportivo. Ele foi batizado com esse nome emblemático pelos pais em homenagem aos dois maiores jogadores da história da Argentina: Diego Armando Maradona e Lionel Messi.

O jovem atleta chamou a atenção do clube depois de ser um dos principais destaques da Dani Cup Sub-12, tradicional torneio disputado na Bahia. Ele participou da competição com jogadores até três anos mais velhos e fez 12 gols em sete partidas, sendo o vice-artilheiro do campeonato. Diego Lionel se descreve como um "canhoto habilidoso". Como manda a lei, todo garoto só pode ter contrato profissional no futebol depois dos 16 anos, a exemplo do atacante Endrick, também do Palmeiras, cujo acordo será consumado em julho.

Diego Lionel, de 9 anos, já tem contrato de formação com o Palmeiras Foto: Reprodução/Instagram

PUBLICIDADE

"Estou aqui para aprender e muito com essa base do Palmeiras que revela grandes jogadores para o futebol mundial e quero (e vou) ser um deles", disse o menino na ocasião em que fechou contrato de formação com o time alviverde. 

Diego Lionel já é representado por empresários. Quem cuida de sua carreira é a Three Sports Group (TSG), cujo sócio é Bruno Martins, um ex-jogador de futebol que encerrou a sua trajetória como atleta precocemente, aos 30 anos, para se aventurar nos negócios do futebol. Bruno foi apresentado ao garoto por Kaike Cordeiro, coordenador da escolinha de futebol ARJ, em Salvador.

Publicidade

"Gostei muito do que vi. É um menino que chamou muito a minha atenção. Tem uma expectativa muito grande em cima dele e um potencial enorme. A gente sabe que o caminho é longo, mas acreditamos que ele tem potencial de ser um dos grandes talentos do futebol brasileiro no futuro", diz o agente ao Estadão

É também a empresa de Bruno que representa Kauan Basile, jogador de futsal do sub-9 do Santos que se tornou o atleta brasileiro mais jovem a fechar acordo de patrocínio com a Nike. Na época, o garoto tinha 8 anos. Antes, William Nascimento, do Flamengo, e Enzo Peterson, do São Paulo, ambos com apenas 11 anos de idade, já tinham assinado contratos com a Nike. Todos esses garotos são promessas do futebol brasileiro.

Bruno prefere não citar nomes, mas revela que Diego Lionel recebeu propostas de vários clubes brasileiros. A escolha pelo Palmeiras foi "tranquila pelo projeto e estrutura" que o clube paulista tem. "A gente sabe o trabalho que o Palmeiras faz e a projeção que dá aos garotos da base", justifica.

Crianças celebridades

Publicidade

Diego Lionel, diz seu representante, não tem a noção real do que está acontecendo em sua vida aos 9 anos. Por ora, ele só quer jogar bola. A família do garoto se faz presente e dá o suporte de que o menino precisa para evitar problemas futuros e possíveis traumas. "Temos agora que respeitar o processo. Trabalhar e deixá-lo ser criança. No momento certo, ele vai saber lidar muito bem com as cobranças e responsabilidades", comenta o empresário.

Têm se tornado frequentes casos de crianças esportistas, cada vez mais novas, fechando acordo de patrocínio com grandes empresas. Antes, os episódios não eram tão comuns. É possível lembrar de Neymar, que assinou com a Nike quando tinha 13 anos, e Rodrygo, também formado na Vila Belmiro. Hoje no Real Madrid, o atacante fechou com a mesma empresa aos 8 anos.

"Esse processo vai muito em linha com a relação de risco que elas (empresas) correm caso o atleta não vire um jogador expoente. Se o atleta vinga, existe uma narrativa de ter feito parte de toda a história dele, e caso ele não vingue, financeiramente não foi feito um grande investimento, até porque a maioria desses contratos é feito em relação a produtos, ou seja, além de receber kits para o atleta performar, ele recebe uma cota de aquisição de produto nas lojas oficiais, mas financeiramente não existe um valor envolvido", afirma Bernardo Pontes, sócio da Alob Sports, agência de marketing de influência focada no esporte.

"Além disso, tem o fator de que o Brasil é um país onde esses jovens despertam a atenção desde muito novos", acrescenta. Cada vez mais cedo os clubes da Europa tentam comprar os jogadores brasileiros. "Tem uma linha que separa materiais esportivos e outras marcas em geral. O material esportivo é mais óbvio, pois o atleta precisa calçar, precisa vestir, e o investimento é muito pequeno. Na maioria das vezes sem dinheiro nenhum, porque são poucos os 'Neymares' ou jogadores do gênero, mas que também não começaram com grandes contratos, mas vão lá e amarram o garoto por um período", diz Armênio Neto, especialista em geração de receitas na indústria esportiva. 

Publicidade

PUBLICIDADE

"Existe uma corrida dessas marcas por esses talentos, e o custo é muito baixo. Além disso, tem a questão da confiança e a identificação com a família ao assinar um contrato deste porte", emenda o executivo.

Outros jogadores conseguiram alcançar o mesmo caminho. O atacante Estevão Willian, de 15 anos, foi contratado junto ao Cruzeiro pelo Palmeiras e, em 2018, já tinha assinado um contrato esportivo com a Nike enquanto vestia a camisa celeste. Ele é chamado de "Messinho" e brilha na base palmeirense ao lado de Endrick.

Há casos de jovens estrelas, considerados fenômenos, que vão além dos materiais esportivos. Pelo talento e precocidade, acabam conseguindo outras parcerias, ainda mais vultosas. Foi assim com Rayssa Leal, a "fadinha" do skate, e Endrick, joia da base do Palmeiras que assina em julho o seu primeiro contrato profissional. Ambos são patrocinados pela pela OdontoCompany, maior rede de clínicas odontológicas do mundo. 

"Mas casos que vão além dos materiais esportivos são raros", pontua Armênio Neto. O executivo diz ter fechado um contrato para Gabigol, à época no Santos, com a Gatorade, quando o atacante tinha apenas 15 anos. "Ele já era um fenômeno na base e a marca precisava de um menino com potencial lá na frente. O Santos também vivia grande momento, daí oferecemos o Gabriel", conta.

Publicidade

Essa deve ser uma tendência cada vez mais constante no futebol mundial, já que a procura dos clubes por jogadores mais novos é cada vez maior, e a ascensão destes meninos acompanha esse movimento.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.