Com o clima quente nos bastidores, Cruzeiro e Palmeiras se enfrentam nesta quarta-feira, às 21h30, no Mineirão, pela penúltima rodada do Campeonato Brasileiro. Na véspera do duelo entre as equipes, o noticiário foi marcado pela prisão de integrantes da Mancha Alviverde, principal organizada palmeirense, suspeitos de participarem da emboscada a um ônibus da Máfia Azul, uniformizada cruzeirense, que terminou com uma pessoa morta e 17 feridos. O episódio alertou a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que determinou jogo com portões fechados.
Organizadas de Cruzeiro e Palmeiras têm histórico de conflito. A rixa se acentuou em 27 de outubro, quando o ataque da Mancha na Rodovia Fernão Dias, em Mairiporã, tirou a vida do cruzeirense José Victor Miranda, de 30 anos. Ele chegou a ser internado em estado gravíssimo em decorrência de ferimentos de queimaduras, mas não resistiu. O episódio seria uma “cobrança” de palmeirenses contra uma ação da uniformizada rival, também na Fernão Dias, em 2022, que terminou com espancamento de Jorge Luis Sampaio Santos, presidente da Mancha, e quatro torcedores feridos a tiros.
A Mancha Alviverde negou participação no ataque deste ano, enquanto a Máfia Azul citou “covardia” ao comentar a morte do integrante. “O choro da mãe do seu rival não traz a alegria da sua”, escreveu a uniformizada. O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) classificou o caso como “inaceitável” e determinou investigações por parte do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) por entender que “que algumas torcidas organizadas atuam como verdadeiras facções criminosas”.
Após o episódio, a Federação Paulista de Futebol (FPF) acatou a recomendação do MP-SP e proibiu a Mancha Alviverde de entrar em estádio de São Paulo. A determinação já dura pouco mais de um mês.
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12 presos e presidente foragido
A investigação foi iniciada pela Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade). Um dos suspeitos que tinha um pedido de prisão contra si teve a determinação revogada após a própria delegacia reconhecer que errou em pedir a prisão de Henrique Moreira Lelis, que estava a 400 quilômetros de onde o crime aconteceu.
Nas últimas semanas, as diligências passaram a ser tocadas pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). Ao todo, 12 pessoas já foram presas por suspeita de envolvimento no ataque da Mancha aos cruzeirenses, sendo dez somente nesta terça-feira, 3. Entre eles está o advogado Luiz Ferretti Junior, que também atuava como representante da Mancha Alviverde. Eles foram identificados pela Polícia Civil de São Paulo pela emissão de sinais de celulares dos suspeitos e imagens de câmeras de segurança.
Jorge Luis Sampaio permanece foragido. Um dos presos foi identificado como Alekssander Ricardo Tancredi, de 31 anos. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP), o integrante da organizada palmeirense foi indiciado por homicídio, lesão corporal, dano, tumulto e associação criminosa.
Morte reacende debate por torcida única e CBF pede portões fechados
A morte do torcedor cruzeirense reacendeu o debate sobre a implementação de torcida única no restante do País. Desde abril de 2016, o MP-SP, em conjunto com a SSP-SP e a FPF, definiram que as principais rivalidades de São Paulo passariam a ser disputadas com torcida única do mandante. A decisão está em vigor no Estado para partidas de Corinthians, Santos, São Paulo, Palmeiras, Guarani e Ponte Preta. Atlético-MG e Cruzeiro se enfrentaram cinco vezes em 2024 somente com a presença dos torcedores do time mandante.
O Tribunal de Justiça de São Paulo deseja ampliar a medida na capital paulista em partidas do Palmeiras diante do Flamengo e Cruzeiro. Para o confronto desta quarta-feira entre paulistas e mineiros, a CBF enviou um ofício aos clubes determinando que a partida seja realizada com portões fechados. A entidade afirma que tomou a decisão para garantir a segurança de todo e qualquer torcedor e cidadão diante dos severos riscos” expostos pelo Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) e pela Polícia Militar local.
O Governo de Minas Gerais recorreu à Justiça comum para que a partida tivesse a presença dos torcedores cruzeirenses, mas a CBF destacou a falta de tempo hábil para a montagem do esquema de segurança por parte da Polícia Militar. Pedro Lourenço, dono da SAF celeste, criticou a decisão da CBF. “Não concordamos com isso”, comentou. “Não faz sentido punir os torcedores do Cruzeiro pela barbárie da Mancha Verde.”
Jogo-chave para o título
A partida entre Cruzeiro e Palmeiras pode ser determinante para a definição do título Brasileiro. Os palmeirenses precisam vencer e torcer para o Internacional derrotar o líder Botafogo para recuperar a liderança — as partidas ocorrem simultaneamente, às 21h30. Os paulistas têm 70 pontos, contra 73 dos cariocas, mas levam a melhor no saldo de gols (28 a 27).
Na rodada derradeira, a equipe de Abel Ferreira terá pela frente o ameaçado Fluminense, no Allianz, enquanto o alvinegro carioca enfrenta o São Paulo, no Rio. Com o tricolor paulista já classificado para a fase de grupos da Copa Libertadores, torcedores do Palmeiras têm o receio de o rival “entregar” na última rodada para evitar o tricampeonato alviverde. Assim, ir para o jogo com o Fluminense na ponta da tabela de classificação é considerado primordial.
A direção do Cruzeiro tinha a expectativa de contar com a sua torcida porque precisa voltar a vencer urgentemente. Depois de perder para o Racing e ficar com o vice da Copa Sul-Americana, o time mineiro tenta a classificação para a pré-Libertadores por meio do Brasileirão. A equipe cruzeirense está no nono lugar, com 49 pontos, a quatro do Corinthians, que está em sétimo, com 53.
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