O Atlético-MG tem um novo técnico para 2025. O sucessor do argentino Gabriel Milito, demitido recentemente, será um velho conhecido do clube e da torcida: Alex Stival, o Cuca. Com passagens vitoriosas pelo time de Belo Horizonte, o treinador de 61 anos estava livre no mercado desde junho, quando pediu demissão do Athletico Paranaense.
O último trabalho de Cuca no Atlético foi em 2022, ano em que um trabalho discreto, sem títulos. O mais importante trabalho do técnico no clube foi um ano antes, em 2021, quando conquistou a tríplice coroa: Estadual, Copa do Brasil e Brasileirão. Depois das conquistas, alegou problemas pessoais e resolveu encerrar seu trabalho. Ele também foi o responsável por comandar o time no título da Libertadores, em 2013. Dessa maneira, Cuca dará início em 2025 à sua quarta passagem pelo time mineiro.
Apesar do histórico vencedor, o acerto com o treinador não é bem visto por parte dos torcedores, que reagiram contra a contratação nas redes sociais. O principal motivo é a condenação por estupro envolvendo o profissional.
Em janeiro deste ano, o Tribunal Regional de Berna-Mitteland, na Suíça, anulou a sentença de 1989 que condenou o treinador por manter relação sexual sem consentimento com uma menina de 13 anos. O caso aconteceu em 1987, quando ele era jogador do Grêmio, durante um excursão do time ao país europeu.
Em março, ele acertou com o Athletico Paranaense, mas pediu demissão em maio após sequência ruim do time, que terminou o ano rebaixado. À época, o presidente Mario Celso Petraglia criticou bastante o treinador e lhe acusou de usar o clube para limpar sua imagem após a saída conturbada do Corinthians.
O Atlético-MG terminou 2024 de forma melancólica. Após perder as finais da Copa do Brasil e Libertadores, o time lutou contra o rebaixamento e só escapou na última rodada. Em momento de reconstrução, a diretoria conversou com os treinadores Luis Castro e Pedro Caixinha, mas as conversas não evoluíram.
Cuca é inocente?
A defesa de Cuca solicitou a revisão do caso argumentando que o treinador não contou com um representante legal na época e foi julgado à revelia. O pedido de um novo julgamento foi aceito, mas o Ministério Público alegou não ser possível realizá-lo pelo fato de o crime ter prescrito. O órgão, então, sugeriu a anulação da pena e o fim do processo, o que acabou sendo acatado pela Justiça. Foi determinado, ainda, uma indenização de 13 mil francos suíços (R$ 75 mil) — atualizado para 9,5 mil francos suíços (R$ 54,8 mil) após cumprimento de despesas.
MAIS SOBRE O CASO
Afinal, Cuca é inocente? Apesar da extinção da sentença, não se trata de uma mudança de veredito. Isso porque o mérito do caso não foi reavaliado pela Justiça da Suíça. Assim, é errado afirmar que Cuca foi inocentado. Com a anulação de sentença e prescrição do processo, não poderá haver novo julgamento. A vítima morreu em 2002, aos 28 anos. Um dos herdeiros foi consultado, mas não quis ser parte do processo. A presidente do tribunal, então, decidiu então pela anulação do caso. Em tese, cabe recurso, mas nenhuma das partes está disposta a recorrer.
Com a extinção do caso, o clube que decidir contratar Cuca vai estar assegurado de que não há histórico de condenação do ponto de vista jurídico, mas terá de lidar com a polêmica do ponto de vista moral.
Entenda o caso ‘Escândalo de Berna’
Alex Stival, o Cuca, Henrique Arlindo Etges, Eduardo Hamester e Fernando Castoldi, então atletas do Grêmio, foram detidos sob a alegação de terem tido relações sexuais com uma garota de 13 anos sem consentimento. O caso ocorreu no hotel Metrópole, em Berna, na Suíça, em 1987, ano em que o time gaúcho fez uma excursão pela Europa. De acordo com a investigação da polícia local, a garota pediu autógrafos e camisetas para os jogadores, que, então, a levaram para dentro do quarto e abusaram dela. Ela registrou queixa na polícia horas depois sob a alegação de ter sofrido violência sexual.
Segundo publicou o Estadão em 7 de agosto de 1987, a versão do Grêmio, naquela época, era de que a jovem invadiu o quarto em que estava os atletas para pedir flâmulas, camisetas e autógrafos e depois saiu. No mesmo dia, o Estadão reportou que Eduardo e Henrique haviam admitido ter tido relação sexual com a garota, mas de forma consensual. Fernando e Cuca negavam qualquer participação. O advogado da vítima, porém, contestava a versão e afirmava que a menina reconheceu, sim, o então jogador do Grêmio como um dos que participaram do ato.
Tanto Cuca quanto os outros três colegas do Grêmio permaneceram em cárcere por 30 dias. Depois desse período, retornaram para o Brasil após darem depoimento por mais de uma vez e ser encerrada a fase de instrução do processo. Cuca, Henrique e Eduardo foram condenados em 1989, portanto dois anos depois do episódio. A Justiça suíça condenou os brasileiros a 15 meses de prisão e a pagamento de US$ 8 mil. Mas eles nunca cumpriram a pena estipulada para o crime, que prescreveu em 2004. Fernando foi condenado a três meses de prisão e ao pagamento de US$ 4 mil por ser considerado cúmplice.
Cuca foi enquadrado no antigo artigo 187 do Código Penal da Suíça, que prevê prisão de até cinco anos por envolvimento em um ato sexual com uma criança menor de 16 anos. A Justiça entendeu que não houve violência por parte de Cuca e dos outros jogadores, mas sim “coerção” e “fornicação”, segundo afirmou ao Estadão uma porta-voz do Tribunal Superior de Berna, responsável por dar a sentença há 34 anos.
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