Cuca se defende sobre condenação por estupro: ‘Sou inocente. Nunca encostei o dedo em uma mulher’

Treinador diz ter ‘lembrança vaga’ do episódio, revela arrependimento por ter falado pouco sobre o assunto e promete ‘passar por cima’ dos protestos contra a sua chegada

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Foto do author Ricardo Magatti
Atualização:

Cuca falou suas primeiras palavras como técnico do Corinthians. Em 40 minutos de entrevista no fim da tarde desta sexta-feira, o treinador respondeu, principalmente, a perguntas a respeito da condenação que sofreu em Berna, na Suíça, por estupro a uma menina de 13 anos, quando ainda era jogador do Grêmio, e que provocou uma série de protestos de torcedores contra a sua chegada.

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Ele afirmou ser “totalmente inocente”, disse ter “vaga lembrança” do episódio ocorrido em 1987 - a condenação se deu em 1989 - revelou arrependimento por ter falado pouco sobre o assunto, prometeu “passar por cima” dos protestos contra a sua contratação e manifestou o desejo de abraçar causas sociais em benefício das mulheres e que combatem casos de violência e abuso sexual.

“É um tema delicado, pessoal, mas faço questão de falar e ser aberto. Eu estava no Grêmio há uns 20 dias. Tenho vaga lembrança de tudo que aconteceu. Na lembrança que tenho, tinha 23 anos, íamos jogar uma partida e pouco antes subiu uma menina para o quarto. O quarto em que eu estava com mais três jogadores era duplo, tinha duas camas. Essa foi minha participação nesse caso”, começou por dizer o treinador.

“Sou totalmente inocente, não fiz nada. As pessoas falam que houve um estupro. Eu não fiz nada”, enfatizou Cuca. “A gente vê e ouve um monte de coisas falando inverdades, chegando a me ofender. Vou fazer 60 anos, tenho duas filhas, de 32 e 34 anos. Venho de uma casa em que sou o único homem”, defendeu-se.

Cuca foi apresentado no Corinthians e se defendeu de condenação por estupro Foto: Reprodução/TV Corinthians

Arrependimento

Cuca falou muito mais de 1987 do que 2023. Avaliou que um de seus erros foi ter falado pouco a respeito do caso que o levou à condenação pela Justiça suíça e alegou não ter podido se defender à época. Segundo ele, a vítima declarou que o treinador, então jogador à época, não foi um dos agressores.

“O meu erro foi não ter me defendido. Primeiro, não tinha dinheiro para me defender. Segundo, nem soube que eu tinha sido julgado. Por três vezes, a moça esteve lá na frente. Ficamos para averiguação. Eu juro por Nossa Senhora que eu não estava. Como posso ser condenado pela internet? A internet te julga e te pune”, declarou.

Protestos

Ele revelou o desejo de participar de movimentos contra abusos e que defendem as mulheres. “Sou pai, sou avô. Quero que as mulheres estejam cada vez mais protegidas. Por isso estou aqui. Mais da metade da torcida do Corinthians é feminina. Um time que tem a causa respeita às minas. Essa causa que está existindo eu quero abraçar também até por proteção às minhas filhas, minha mulher, minha irmã”, comentou. “Por que eu devo uma desculpa pra sociedade se eu não fiz nada?”, voltou a repetir.

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Do lado de fora do CT Joaquim Grava, um coletivo de torcedores, formado majoritariamente por mulheres, protestou contra a contratação do treinador. Uma delas, Luciana, contou que uma amiga, vítima de abuso infantil, não teve forças para se manifestar porque o caso de Berna gerou gatilhos nela. “Duílio e patrocinadores, o que é respeito às minas para vocês”? Questionou Luciana. “Respeito às minas não é fazer campanha de dias das mulheres, de dia das mães, levar mulher à arena e fazer uniforme para mulher”.

O técnico disse que “não é bandido” e afirmou não se importar com as manifestações pedindo a sua saída.

Cuca se defendeu e disse ser inocente em relação à condenação por estupro Foto: Diego Vara/Reuters

“Do fundo do coração, pode haver protesto, mas ele não é maior que minha vontade de estar aqui”, salientou o técico. “Eu vou passar por cima de tudo, de protesto, do que tiver. E se não tiver, vou me fortalecer. Hoje eu sou Corinthians”. O comandante corintiano garantiu que dorme “tranquilo” porque tem saúde e paz.

“Se eu pudesse não estar no quarto, eu não estaria. Mas eu não fiz nada, se é que aconteceu alguma coisa. Qual é a palavra da mulher? Que o Cuca não esteve lá. Como pode ser condenado?”, completou.

Foi a primeira vez em que o paranaense de 59 anos falou extensamente sobre o assunto. O episódio teve repercussão na imprensa na época, mas não atrapalhou a carreira de Cuca como jogador, inclusive com passagens no futebol europeu, e como treinador vitorioso. Mas voltou à tona mais recentemente na esteira das mudanças na sociedade, que cobra com mais afinco punição a abusadores.

Pausa na tensão

A entrevista tensa só mudou a expressão sisuda de Cuca quando recordou da marcação de um pênalti para o Corinthians, em 2010, contra o seu Cruzeiro. O lance envolveu o zagueiro Gil, hoje também no Corinthians, e Ronaldo Fenômeno. “Não foi pênalti. Se bem que estava com o Gil e ele disse que foi, né? Está bem, foi pênalti”, brincou.

O oitavo nos quatro grandes

Cuca se tornará o oitavo técnico da história a treinar os quatro grandes de São Paulo. Vai se juntar a Aymoré Moreira, Carlos Alberto Silva, Émerson Leão, Nelsinho Baptista, Osvaldo Brandão, Oswaldo de Oliveira e Rubens Minelli. Eu sinto que no Corinthians posso desenvolver meu trabalho. E era o único grande de São Paulo em que não havia trabalhado. Vou dar meu máximo para fazer o time jogar”, projetou.

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Entenda o caso que levou à condenação de Cuca

Então meio-campista do Grêmio, Cuca foi detido em 1987 com os também atletas Eduardo Hamester, Henrique Etges e Fernando Castoldi, sob a acusação de “manter atos sexuais” com uma menina de 13 anos em um hotel em Berna, na Suíça.

Os jogadores permaneceram em cárcere por 30 dias. Fernando foi o primeiro a ser liberado, já que a sua participação no ato não foi comprovada. Dois anos mais tarde, Cuca acabou condenado a 15 meses de prisão e ao pagamento de US$ 8 mil. Julgado e condenado, ele não cumpriu pena porque o caso prescreveu. Em matéria publicada à época pelo Estadão, o treinador disse que o episódio o fez adquirir “experiência e maturidade”.

Em depoimentos à época, a vítima narrou ter sido segurada à força pelos quatro jogadores do Grêmio. O processo permanece sob sigilo protegido pela lei de proteção de dados da Suíça. O julgamento foi feito à revelia, já que ele e os outros gremistas envolvidos no caso já haviam voltado ao Brasil depois de serem liberados ao fim da fase de instrução no processo.

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