Da inauguração à reforma: dez momentos do Estádio do Pacaembu, que continua em obras

Histórico estádio paulistano passou por profundas mudanças nos últimos anos, a mais recentes delas é o acordo com a varejista Mercado Livre para vender seus naming rights por R$ 1 bilhão

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Foto do author Ricardo Magatti
Atualização:

Inaugurado em 27 de abril de 1940, o Pacaembu está desde junho de 2021 em obras para ser reformado, modernizado e restaurado. Esta é mais uma das fases do histórico estádio paulistano, cuja reabertura foi adiada diversas vezes e ainda não tem data definida. A previsão da Allegra Pacaembu, concessionária detentora da outorga do local, é reabri-lo até julho deste ano. Ventilou-se a possibilidade de reinaugurar o estádio na final da Copinha, dia 25 de janeiro, mas constatou-se ser inviável pelas obras em andamento.

Ao longo dos seus quase 84 anos, o Pacaembu, palco de memoráveis partidas, passou por inúmeras mudanças até ser concedido à iniciativa privada em setembro de 2019. A novidade mais recente é o acordo da Allegra com o Mercado Livre, que adquiriu naming rights e passará a dar nome ao estádio. O gigante do e-commerce vai desembolsar mais R$ 1 bilhão pelo direito de renomear o local. Pelos próximos 30 anos, o complexo esportivo passará a ser chamado “Mercado Livre Arena Pacaembu”. O acordo foi anunciado nesta quarta-feira, 31. O Estadão separou dez dos estágios mais marcantes do local.

Fachada do Pacaembu, que continua em obras e não tem data definida para reabertura  Foto: Alex Silva/Estadão

Inauguração

O Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho abriu suas portas no dia 27 de abril de 1940 com a promessa de ser o mais moderno estádio da América Latina. À época, era capaz de abrigar 70 mil espectadores. Inaugurado com a presença do então presidente Getúlio Vargas, o equipamento esportivo foi erguido num contexto político, econômico e social importante para a capital paulista, que se desenvolvia em diversos aspectos naquele período. A construção do complexo foi a síntese de uma época de sedimentação do futebol popular e ajudou na reformulação urbana e arquitetônica da cidade.

Jogadores da Espanha e Suécia alinhados antes da partida da Copa de do Mundo de 1950, realizada no Pacaembu Foto: Acervo/Estadão

Copa do Mundo de 1950

Depois de um hiato de 12 anos sem Copas do Mundo, provocado pela Segunda Guerra Mundial, decidiu-se que a quarta edição do Mundial de 1950 voltaria para a América da Sul e seria disputada no Brasil. O torneio, jogador entre 24 de junho e 16 de julho, teve seis jogos realizados no Pacaembu - três da fase inicial e mais três da fase final - entre eles um da seleção brasileira, o empate por 2 a 2 com a Suíça. Acreditava-se na época que o estádio não precisaria passar por muitas obras para receber as seleções. A 23 dias do evento, no entanto, delegados da Fifa questionaram a infraestrutura e o local passou por ampla reforma.

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Pacaembu tinha jogos de futebol e sinfonias de música clássica, graças à antiga Concha Ácustica Foto: Acervo/ Estadão

Demolição da concha acústica

Jogos de futebol e sinfonias de música clássica. Durante mais de duas décadas, o Pacaembu foi o local certo para sediar os dois tipos de eventos. Isso, graças à charmosa concha acústica que existia atrás do seu gol. Ela servia para amplificar o som das apresentações artísticas realizadas no palco que existia no local. Ali tocaram bandas, orquestras e se apresentaram peças e palestras. O efeito sonoro criado pela estrutura em arco transformava as arquibancadas à sua volta numa grande plateia.

Tobogã lotado de corintianos durante a final da Libertadores de 2012 Foto: José Patrício/ Estadão

Construção do tobogã

Mas no fim dos anos de 1960 as atrações da concha perderam o jogo para as partidas de futebol. O estádio estava carente de mais lugares para o público, que se espremia para ver a bola rolar, e decidiu-se demolir a concha para erguer mais fileiras de arquibancadas. A nova estrutura, conhecida como tobogã, foi inaugurada em 1970 e acrescentou mais dez mil novos lugares à lotação do estádio, que oficialmente passou a ter capacidade para 37.730 mil pessoas.

Inauguração do Museu do Futebol teve como 1ª exposição "As marcas do Rei", uma homenagem ao rei Pelé Foto: Felipe Rau/AE

Museu do Futebol

Em 29 de setembro de 2008, foi inaugurado o Museu do Futebol. O projeto ocupa área de 6,9 mil metros quadrados embaixo das arquibancadas do estádio. Sua arquitetura se destaca por integrar os espaços: o teto é a própria arquibancada, uma passarela liga os lados leste e oeste do prédio e permite uma bela visão da Praça Charles Miller. Espaço importante de cultura, esporte e lazer em São Paulo, o museu é um dos mais visitados do País. Seu principal objetivo é aproximar os visitantes da história do futebol.

Pacaembu virou hospital de campanha durante pandemia de covid Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Hospital de campanha

Sem receber uma partida oficial desde 29 de fevereiro, o Pacaembu foi um dos equipamentos que tiveram sua estrutura transformada em hospital para ajudar no combate à pandemia de covid-19 e salvar vidas. Foi o primeiro hospital de campanha a entrar em funcionamento em São Paulo, epicentro da doença no Brasil. A construção da infraestrutura de 6.300m² levou 12 dias, tendo sido entregue em 1.º de abril, quando a organização social de saúde Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein assumiu a unidade e instalação da estrutura e dos equipamentos hospitalares, fez a higienização e deu treinamento aos funcionários.

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Tobogã foi demolido e dará lugar a um prédio multiuso com hotel de luxo Foto: Felipe Rau/Estadão

Demolição do Tobogã

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A demolição da estrutura do tobogã em junho de 2021 marcou o fim de uma era no estádio. A torcida do Corinthians, por exemplo, usava o tobogã para exibir os seus famosos bandeirões. Com posição privilegiada, do local era possível ver todo o gramado. Outra vantagem era que o preço do ingresso naquele setor era mais barato do que em outros por não haver cobertura. Mas havia torcedor que fazia questão de assistir aos jogos somente naquelas populares arquibancadas para analisar a disposição tática dos jogadores em campo.

Era daquele setor também que torcedores dos times mandantes provocavam seus rivais, que se posicionavam numa área reservada ao lado, separados por um espaço livre que levava aos vestiários, situados atrás do tobogã. O Pacaembu é tombado e a demolição do Tobogã foi autorizada previamente pelos órgãos responsáveis pelo patrimônio histórico da cidade, Conpresp e Condephaat.

Maquete com visão ampla do que será o novo Pacaembu Foto: Divulgação/Allegra Pacaembu

Concessão à iniciativa privada

Em setembro, o então prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), assinou o contrato de concessão do Pacaembu, para a iniciativa privada. O complexo esportivo, composto por uma piscina olímpica, duas quadras de tênis e ginásio poliesportivo, além do estádio de futebol, passou, então, a ser administrado pelo Consórcio Patrimônio SP, vencedor da licitação. O consórcio criou a empresa Allegra Pacaembu para administrar o estádio.

O grupo que assumiu o complexo em 2020 pagou R$ 111 milhões pelo direito de gerir o local por 35 anos. Além do pagamento das outorgas fixa e variável, a concessionária diz estar investindo cerca de R$ 400 milhões na recuperação e modernização do estádio.

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A concessionária planeja oferecer um estádio com vocação para eventos, entretenimento, lazer e esportes. Os jogos de futebol vão continuar, mas serão realizados pelos quatro grandes clubes de São Paulo e também por times de outros Estados. A concessionária quer um campo neutro, sem vinculação direta a uma equipe.

Projeto do Pacaembu prevê a criação de um centro comercial no lugar do tobogã, já demolido Foto: Allegra Pacaembu

Início das obras

A concessionária passou a operar o espaço em janeiro de 2020, mas as obras só começaram no dia 29 de junho de 2021. O atraso se deu por causa da pandemia de covid-19. Eduardo Barella, CEO da concessionária, disse ao Estadão que a ideia da reforma é reverter a lógica atual concentrada no futebol e ampliar o uso do espaço para outras atividades. Ele considera que o público quer consumir “experiências”.

Mas garante que o Pacaembu não perderá seu charme, originalidade e, sobretudo, sua essência histórica. “O Pacaembu tem algo que nenhum novo empreendimento na cidade tem: história. A história construída no Pacaembu impulsiona essa experiência. É o público da música, do esporte, da cultura”, afirmou.

Em reforma, Pacaembu ainda é um grande canteiro de obras Foto: Tiago Queiroz/ Estadão

O Pacaembu hoje

A Allegra não admite que as obras estão atrasadas, mas, pelas imagens panorâmicas do espaço, fica claro que resta muito a se fazer até o local estar em condições de receber uma partida de futebol. Hoje, as fotos evidenciam que o Pacaembu é, ainda, um grande canteiro de obras. O gramado não foi instalado - será um campo sintético, como do Allianz Parque - e o prédio que ficará no lugar do demolido tobogã continua em construção. No local, o que se vê são entulhos, andaimes, estruturas provisórias e materiais de construção.

Antes da reinauguração do equipamento, também é necessário cumprir uma série de burocracias, como a liberação dos alvarás de liberação por parte do poder público. Não é possível saber como estão os espaços internos, como a área de imprensa e vestiários. Segundo a concessionária, a reabertura do espaço será “faseada”, isto é, espaços do complexo serão abertos em datas diferentes. De acordo com a prefeitura, a previsão é de que o estádio seja entregue em julho. A Allegra diz ser possível entregar em junho.

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