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Massagistas da seleção brasileira guardam segredos e também agem de ‘psicólogos’ de jogadores

De pedido de Neymar para antecipar tratamento para jogar a final olímpica de 2016 até conselhos para Endrick (do Palmeiras), profissionais se desdobram nos bastidores

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Por Toni Assis
Atualização:

Vestiário da seleção brasileira em dia de jogo. Em meio à movimentação intensa para deixar tudo em ordem, Sergio Luiz de Oliveira, de 57 anos, e Marcelo Climenes Araújo, de 42, se multiplicam nos bastidores. Envolvidos no projeto da Copa do Mundo, a dupla acumula multitarefas e se transforma em psicólogos, conselheiros e até escudeiros. Tudo isso em nome do projeto do hexa no Catar.

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Nomes desconhecidos de grande parte do público, os dois massagistas trabalham juntos há quatro anos com a seleção brasileira de Tite. Eles são responsáveis pela organização de todo o material esportivo, medicamentos e hidratação dos atletas em treinos e jogos.

Eles estiveram na quinta-feira em São Paulo para um evento organizado pela Gatorade, um dos patrocinadores da CBF, e falaram um pouco da responsabilidade de cuidar e fazer parte do estafe da comissão técnica de Tite. Não é comum que esses profissionais apareçam. Geralmente, trabalham atrás das cortinas para que jogadores como Neymar brilhem em campo.

Mais antigo da dupla e com oito anos de CBF, Sérgio, também conhecido como Serginho, é massagista do Palmeiras também e tem uma passagem com o principal nome da seleção brasileira de Tite para falar dessa relação mais próxima. “Pouca gente sabe, mas agora vou falar: o Neymar torceu o tornozelo na véspera da final contra a Alemanha na Olimpíada do Rio, em 2016. À noite, ele me chamou no quarto e pediu para levar o gelo. Ele mesmo fez questão de começar o tratamento para atuar”, contou. Neymar jogou aquela partida em que o Brasil festejou seu primeiro ouro olímpico. Ele fez o gol de pênalti da conquista.

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Massagista Serginho faz parte da delegação da seleção na Copa do Mundo do Catar Foto: Alex Silva / Estadão

Nesse período, a convivência com astros do nível de um Neymar, um Thiago Silva, ou ainda atletas que despontam no universo da seleção brasileira como Vinícius Júnior fortalecem a convivência entre as partes. “Num primeiro momento, tentamos resolver tudo pela amizade que temos com os jogadores. Eles têm muita confiança no trabalho da gente. Funcionamos como psicólogo, conversamos sobre muita coisa. Da mesma forma que o jogador fica ansioso, a nossa responsabilidade aumenta e criamos uma identificação com o elenco”, diz Serginho.

A função de psicólogo também costuma ficar a cargo do massagista no contato com os atletas. E isso se deve à experiência de vida, segundo ele. Não fica restrito só à seleção. No Palmeiras, o ritual é o mesmo. “Falando das coisas mais recentes, os meninos como o Rony, o Dudu e até o Weverton passam na minha mão.” As conversas fluem naturalmente.

Até mesmo Endrick, a joia de 16 anos do clube, já entrou no radar do ‘massagista conselheiro’. “Falo da minha experiência de vida, da trajetória de luta, dos caras com quem já trabalhei. O Endrick é um garoto ainda e estou sempre dando um alô para ele. Digo que a coisa é ‘assim e assado’, que ninguém nasceu rico e que ele tem de correr atrás. Temos muito contato e sei que ele é bom menino. Tenho idade para ser avô dele né”, se divertiu Serginho ao revelar o seu espírito protetor.

“Estou sempre alerta e quando vejo alguém falar alguma coisa de algum jogador que não condiz com a verdade, eu saio em defesa mesmo. Isso é na seleção ou no Palmeiras”, afirmou.

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82 baús de medicamentos para a Copa

Em sua primeira Copa do Mundo, Marcelo comentou do trabalho envolvendo os preparativos para o Catar. “Temos 82 baús fechados só da parte médica. Todos com 32 quilos. O peso é controlado por questão da aeronave”, afirmou Marcelo. Ambientado com o biótipo dos atletas, ele contou ainda o cuidado que ambos têm no momento de preparar os jogadores. “Temos o total conhecimento da musculatura do atleta. Jogadores como Casemiro ou Thiago Silva, por exemplo, são atletas maiores, com musculatura mais elevada. Isso exige mais força e técnica para melhorar o trabalho. O convívio com os jogadores nos proporciona um atendimento personalizado.”

Sonho era ser jogador de futebol

Natural de Capão Bonito, no interior de São Paulo, Marcelo tinha o sonho de ser jogador de futebol. Ele iniciou a carreira em um time da cidade, atuou até a adolescência nas categorias de base, mas o destino o levou para a beira do campo. “O Marco Antonio, irmão do Zé Maria, ex-lateral do Corinthians, o super-Zé, me colocou para trabalhar na parte administrativa de uma escolinha de futebol. Dali fui puxado para o campo e depois conheci o Chicão, ex-volante do São Paulo. Passei a atuar na comissão técnica. Fui estudando e me especializando.”

Marcelo, além de massagista, é também técnico de enfermagem, socorrista e massoterapeuta (massagem). “Esses cursos de aperfeiçoamento me ajudaram a chegar à seleção”, afirmou.

A carreira de massagista também não estava nos planos de Serginho, que chegou a trabalhar em uma serralheria. Após sofrer um acidente, ele fez um curso de enfermagem e também se especializou em massoterapia. Antes do futebol, ele teve uma passagem pelo vôlei, onde chegou a trabalhar com o técnico José Roberto Guimarães. No futebol, rodou por times da terceira divisão até chegar ao Palmeiras. Em breve, ambos estão com o Brasil no Catar.

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