A menos de uma semana para o início da Copa do Mundo, um jornalista dinamarquês foi ameaçado por seguranças do Catar durante uma entrada ao vivo para a emissora TV2. A reportagem foi paralisada por três agentes de segurança, em um carrinho de golfe, que tentaram parar as gravações.
Os oficiais se aproximaram da câmera do repórter, tampando a lente e impediram as imagens. Além disso, ameaçaram destruir o equipamento da equipe dinamarquesa. Tantholdt apresentou as credenciais para a Copa do Mundo e a licença para filmar após o incidente, mas os agentes locais exigiram que o sinal fosse interrompido, sem maiores explicações de imediato.
“Estamos ao vivo para a TV dinamarquesa”, afirmou o repórter ao ser abordado. “Vocês convidaram o mundo inteiro para cá (Catar). Por qual motivo não podemos filmar? É um local público”, continuou o jornalista. A entrada ao vivo acontecia em frente a um dos hotéis do país em Doha.
“Aqui está a autorização. Podemos gravar em qualquer lugar que quisermos”, disse Tantholdt. Mesmo assim, os oficiais insistiram em interromper as gravações, inclusive com ameaças de prisão. “Você quer quebrar a câmera? Você pode fazer isso. Vocês estão nos ameaçando.”
Ao longo da organização para a Copa do Mundo, o Catar sofreu críticas da imprensa e de órgãos internacionais sobre as condições dos direitos humanos no país-sede. Leis anti-LGBT+ e machistas, além da suposta utilização de mão de obra escrava na construção dos estádios e infraestrutura para o Mundial, marcaram os últimos anos da nação árabe.
“(Este incidente) diz muito sobre o que é o Catar. Você pode ser atacado e ameaçado enquanto trabalha na mídia”, contou o repórter, que também afirmou que recebeu pedidos de desculpas formais do Comitê Supremo do Catar horas mais tarde. “Não é um país democrático. Minha experiência após visitar 110 países no mundo é: quanto mais você tem a esconder, mais difícil é para fazer uma reportagem lá.”
Ao longo dos últimos meses, a Dinamarca foi um dos países que mais se posicionaram contra a realização do Mundial do Catar por questões da falta de direitos humanos. O uniforme da seleção principal nos jogos irá homenagear os trabalhadores que foram vitimados nas obras. “A cor do luto”, disse o fabricante Hummel em um post nas redes sociais. “Embora apoiemos a seleção dinamarquesa até o fim, isso não deve ser confundido com o apoio a um torneio que custou milhares de vidas.”
Ainda em 2021, a Federação Dinamarquesa de Futebol chegou a cogitar um boicote comercial à Copa do Catar, pelas violações dos direitos humanos envolvendo funcionários imigrantes. As medidas, segundo o órgão, iriam deixar o time focado apenas nas atividades esportivas. Nenhuma explicação foi dada de forma oficial até esse momento sobre a investida dos agentes contra a TV da Dinamarca.
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