Diretor revela número de processos contra o Corinthians e cita ‘questões extremamente sensíveis’

Para Yun Ki Lee, estratégia de recuperação passa por aumentar credibilidade da instituição e se valer de novas ferramentas de gestão

Por João Pedro Adania
Atualização:

A má fase do Corinthians parece não ter fim, com péssimas notícias dentro e fora dos gramados. O time ocupa a última posição no seu grupo no Paulistão. Além disso, tem dívidas que assustam, na casa dos R$ 840 milhões, sem contar os R$ 700 milhões devidos da arena em Itaquera, que terá novas negociações com a Caixa Econômica Federal. O time alvinegro também enfrenta, de forma recorrente, problemas nos tribunais, como afirmou ao Estadão o novo diretor jurídico do clube, Yun Ki Lee. São 600 processos, a maioria vindos de jogadores e agentes. Lee foi empossado recentemente pelo presidente Augusto Melo.

O diretor foi responsável pela transição do setor jurídico no ano passado, que, segundo ele, durou cerca de três semanas. Ao assumir, preferiu moderação nas mudanças do setor. A primeira foi a contratação de um diretor jurídico adjunto, cargo que não existia no Parque São Jorge. Foi então contratado o advogado Fernando Perino.

Yun Ki Lee é o novo diretor jurídico do Corinthians e integrante da gestão de Augusto Melo. Foto: Divulgação/LBCA

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A questão financeira do Corinthians assusta. O diretor diz que a realidade é pior do que a anunciada pela gestão anterior. “Para além da quantidade e do volume da dívida, o vencimento é que vai matar no curto prazo”, diz Lee. “Tem muita coisa já vencida ou para vencer que foi jogada para agora pela gestão passada”, alerta.

O número de ações judiciais sofridas pelo clube também foi apontado pelo diretor, mas, segundo ele, não há motivos para preocupações. “A quantidade de processos contra o Corinthians não passa dos 600. Parece alto, mas não é tão alto se pensar em receita e se levar em consideração que essa receita é cerca de R$ 1 bilhão ao ano. O que tem são questões consideradas extremamente sensíveis, ou pelo valor ou pelo reflexo”. Ele ainda está debruçados sobre os processos. Por isso, preferiu não revelar os casos mais pitorescos.

Com 23 anos de vida política no Corinthians, Lee conta que detectou desconexões no departamento jurídico tão logo o novo presidente assumiu, em janeiro. “Tínhamos um desenho do que era o organograma jurídico, e depois (da posse), vimos o desenho real e como funcionava de verdade. Era muito diferente, sem colocar crítica alguma, do que era o desenho que todo mundo dizia que funcionava no clube”.

Em relação a acordos com empresários, o diretor pondera. “Não é só o meu pensamento, mas o do presidente e de qualquer outro diretor: Nós não vamos demonizar nenhum empresário, nenhum jogador ou patrocinador”, diz. “As execuções tão anunciadas do Carlos Leite, por exemplo, não achamos que ele é um problema, essa não é a questão. Houve dívida que ele cobrou e a gestão passada assinou uma confissão de dívida, vamos procurar pagar na medida que a gente consiga, e não ficar fazendo acordos para inglês ver.”

A fama de mau pagador contamina as negociações do Corinthians, segundo Lee. Ele afirma que a estratégia do presidente Augusto Melo é mostrar um novo Corinthians para o mercado, capaz de enterrar essa fama e abrir novas janelas no mercado. Na temporada passada, o clube teve receita de R$ 900 milhões e começou o ano com novo patrocinador máster na camisa. “Anunciar o maior patrocínio do Brasil não é contra senso para atrair devedores? Pode até ser. Mas a gente precisava mostrar para o mercado que estamos no jogo”.

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O caminho é colocar na frente os boletos que vencem primeiro. Nesta semana, depois da entrevista feita com Lee, a Caixa Econômica Federal anunciou que não vai aceitar as condições do Corinthians feita pela diretoria passada de Duílio para pagar o estádio em Itaquera. Augusto Melo deve se reunir com o banco na quinta-feira, após o carnaval.

Corinthians tenta renegociar dívida que possui com a Caixa pela construção da Neo Química Arena. Foto: Alex Silva/ Estadão

Exemplo de enrosco no começo da temporada, o atleta Rodrigo Garro só foi regularizado no Boletim Informativo Diário (BID) da CBF na terça-feira, dia 6, mesmo tendo feito toda a pré-temporada com o elenco. “Para falar do Talleres, foi fechado um acordo de lá para que o clube recebesse o valor líquido, a gente fez o que é chamado de gross up, quando se acrescenta por volta de 15% e que o valor emitido cairia do jeito que foi fechado, mas o outro lado queria também o gross up para fechar a conta”, justifica Lee. “O Corinthians contava com a razão jurídica, porque era valor bruto e não valor líquido. Ou seja, o que eu remetia do Brasil para o exterior ia se submeter ao imposto descontado na fonte e também o IOF. Mas o sujeito queria receber”.

A busca do Corinthians por credibilidade

Como se não bastassem os problemas atuais, os antigos também voltam à cena depois da troca de comando no clube, como as dívidas com o treinador português Vítor Pereira. “O caso Vítor Pereira ainda não chegou para a gente, não fomos intimados. Por que não corre para intimar? Vamos gerir, é uma conta do passivo, se eu correr e intimar, vou ter de ter alguma razão”, diz. O técnico deixou o Corinthians para comandar o Flamengo.

Mesmo com decisões confusas, a nova administração garante que vai se organizar e projeta perspectivas de curto prazo, principalmente com ajuda de empresas contratadas. “Em seis meses, a gente vai conseguir recuperar a parte da credibilidade da instituição”, diz Lee. “Estamos com um grande trabalho sendo feito pela EY, que foi contratado pelo início desta gestão. O foco não é uma auditoria, na verdade são due diligences para que o trabalho da EY nos capacite em termos de gestão, buscar melhor governança, processos e procedimentos dentro do Corinthians.”

A nova diretoria, que completou um mês no comando, já acumulou alguns desencontros também, como a volta do lateral-direito Matheus França ao Flamengo após o jogador participar de treino aberto no Parque São Jorge e a demissão do técnico Mano Menezes um dia depois de o presidente afirmar que ele tinha contrato até dezembro de 2025.

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