O Palmeiras disputará neste fim de semana a primeira partida da final do Campeonato Paulista, diante do novato Água Santa, de Diadema. Será a quarta final seguida do time alviverde no Estadual. O time de Dudu é favorito. Foi o único grande nas semifinais do torneio. A sequência positiva dos comandados de Abel Ferreira contrasta com a má fase duradoura dos rivais paulistas São Paulo, Corinthians e Santos e impõe uma hegemonia assistida outras vezes na competição estadual.
Desde 2015, quando se iniciou a era Crefisa, com importante aporte financeiro das empresas da atual presidente Leila Pereira em consonância com o equilíbrio fiscal proporcionado pelo então mandatário Paulo Nobre, o Palmeiras tomou um novo rumo e acumulou grandes conquistas. Eram mais de R$ 100 milhões para gastar em jogadores. O time começou quase que do zero e foi melhorando o grupo a cada ano desde então. Dessa forma, foi se fortalecendo e se impondo nas disputas.
TÍTULOS DOS PAULISTAS (2015-2023)
- PALMEIRAS: 2 Libertadores (2020 e 2021), 3 Campeonatos Brasileiros (2016, 2018 e 2022), 2 Copas do Brasil (2015 e 2020), 2 Campeonatos Paulistas (2020/22), Recopa Sul-Americana (2022) e Supercopa do Brasil (2023). Total: 11 títulos.
- CORINTHIANS: 2 Campeonatos Brasileiros (2015 e 2017) e 3 Campeonatos Paulistas (2017, 2018 e 2019). Total: 5 títulos.
- SÃO PAULO: Campeonato Paulista (2021). Total: 1 título.
- SANTOS: 2 Campeonatos Paulistas (2015 e 2016). Total: 2 títulos.
RETRATO FIEL
Entre 2017 e 2020, o Corinthians também foi à decisão em quatro oportunidades seguidas, levantando a taça em três ocasiões, de forma consecutiva, sob o comando de Fábio Carille. Desde então, porém, a equipe alvinegra não voltou ao lugar mais alto do pódio em quaisquer competições e vive uma seca de três temporadas sem troféus. As trocas de treinadores atrapalharam muito. O elenco enfraqueceu e também ficou mais velho.
Neste ano, o presidente Duílio Monteiro Alves, após a decepcionante decisão do técnico Vítor Pereira de trocar o Corinthians pelo Flamengo, decidiu efetivar no comando da equipe o interino Fernando Lázaro. No Paulistão, o novo comandante mudou a formação tática e buscou encaixar melhor as peças e contentar o elenco, feito que seu antecessor não alcançou.
O desempenho do Corinthians animou parte da torcida e ainda gera expectativa de um ano positivo. A eliminação nos pênaltis para o Ituano, na Neo Química Arena, ainda nas quartas de final do Paulistão, transformou a percepção e borrou o horizonte alvinegro. Na última semana, uma cena lamentável se repetiu e tomou conta do noticiário. Membros da principal torcida organizada cortaram o alambrado do CT Joaquim Grava, invadiram o local e interromperam o treinamento para cobrar diretoria e jogadores pela desclassificação no Estadual. Diante da pressão, Roberto de Andrade pediu demissão do cargo de diretor de futebol.
Elenco e torcida organizada não se acertam no Parque São Jorge. As cobranças são muitas. A diretoria não tem dinheiro para nada e o Corinthians foi notícia nesse período por sustentar uma dívida de R$ 1 bilhão. As receitas estão sendo colocadas em ordem, segundo o presidente, mas não há dinheiro para nada. Um patrocinador trouxe Paulinho de volta para o clube, mas as transações não deram certo. O time se aperta mensalmente para pagar suas despesas. Em Itaquera, o torcedor comparece, sofre, lota o estádio, mas não está contente com o time. Há bons jogadores no elenco. Lázaro tem a missão de fazer esse time jogar mais e se machucar menos.
PODE PIORAR?
No São Paulo, a temporada 2023 começou da pior maneira possível. Os resultados esportivos são apenas a ponta do iceberg. A equipe do Morumbi colecionou problemas internos. O técnico Rogério Ceni sofreu desde a primeira rodada do Estadual com o alto número de lesões no elenco. O principal jogador, Jonathan Calleri, pouco atuou até aqui. Além dele, foram desfalques no Paulistão Diego Costa, Igor Vinícius, Arboleda, Rafinha, André Anderson, Orejuela, Ferraresi, Moreira, Wellington, David, Erison, entre outros.
Com mais de um time de desfalques, restou a Ceni improvisar. E o improviso surtiu efeito. Galoppo deu conta do recado no comando do ataque, balançou as redes oito vezes, animou a torcida, mas machucou gravemente o joelho e ficará fora por pelo menos seis meses. No início do mês, o jogador Pedrinho foi denunciado pela ex-namorada por agressão, violência doméstica, ameaça, injúria e lesão corporal. Recém-contratado, o atleta pediu afastamento.
Após a eliminação nos pênaltis para o Água Santa no Paulistão, a crise se instalou de vez no CT da Barra Funda. Rogério Ceni bateu boca com Marcos Paulo e gerou protesto dos jogadores junto à diretoria. O técnico cobrou explicações do atleta, diante de todo o elenco, por uma publicação nas redes sociais com a frase “hipocrisia e simpatia é uma junção venenosa”. Fato é que sobraram sinceridade e animosidade para lidar com o ocorrido no São Paulo, tendo de lidar, acima de tudo, com as cobranças por ter um único título em 14 temporadas.
A crise do São Paulo não é de hoje. O elenco foi reformulado algumas vezes. A torcida está impaciente e esperando por melhoras. Ceni anda no fio na navalha. Seu trabalho também não progride. E não é somente no Paulistão que as coisas não deram certo. O time flerta com o rebaixamento do Brasileirão há anos. O torcedor tem certeza de que o time não cai. O dinheiro também é raro. O clube trouxe no passado Daniel Alves e ainda tem uma dívida com o jogador. Muricy Ramalho, quando fala, expõe essa condição difícil financeiramente do clube. Ele é Ceni ainda são vistos como par perfeito para o time do Morumbi.
SEM FREIO
O Santos tem acumulado fracassos há anos. As finanças pesam contra o time, mas o raio que faz surgir de tempos em tempo um novo menino da Vila cai sempre no mesmo lugar. Em 2023, porém, apesar de contar com alguns desses destaques oriundos das categorias de base, o time da Baixada não tem conseguido manejar experiência e juventude de sorte que progrida nos cenários estadual e nacional.
Nesta temporada, o presidente Andrés Rueda aposta em Paulo Roberto Falcão para dirigir o futebol santista, com Odair Hellmann no comando técnico. O treinador gaúcho não mostrou no Inter ou no Fluminense um estilo de jogo que agrade aos olhos do torcedor do Santos. No Estadual, foram muitas dificuldades e a pressão novamente para lutar contra o rebaixamento. São três anos seguidos da mesma forma. E tem risco nos Brasileirão. O Santos nunca foi rebaixado.
Entre 2006 e 2016, o Santos dominou o Paulistão. Em 11 edições, foram dez finais e sete títulos, alguns deles com a liderança de Neymar dentro das quatro linhas. E de Ganso também. Saiu Neymar, o dinheiro não veio, mas sucessivas crises, sim. Marcos Leonardo e Ângelo são os grandes expoentes da atual geração. Cotados no futebol europeu, os dois não devem ficar por muito tempo na Vila. O time tem dificuldades de contratar, jogadores têm restrições ao clube e falta dinheiro em caixa para grandes aquisições.
A torcida cobra Rueda por novas contratações. Em fevereiro, componentes da torcida organizada invadiram o CT Rei Pelé e conversaram com técnico, funcionários e elenco. Na última semana, o time realizou um jogo treino com o Flamengo de Guarulhos. Enquanto os titulares estavam em campo, o Santos perdeu por 1 a 0. Os reservas reverteram o resultado e garantiram a vitória por 3 a 1. Não há dinheiro, o treinador é novo, os atletas trabalham com muita desconfiança de que serão pagos. O time pode ficar mais fraco se vender no meio do ano alguns dos seus garotos.
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