Líder da Premier League, o Tottenham tem, até aqui, um início de temporada perfeito. À frente de Manchester City, Arsenal, Liverpool, Manchester United e Chelsea, os demais membros do Big Six, o clube londrino sonha com o primeiro título desde 2008 – que pode significar também o primeiro da era moderna do Campeonato Inglês. O sucesso passa por Heung-min Son, James Maddison e pelo treinador Ange Postecoglou, mas principalmente pela administração de Daniel Levy, presidente do clube desde 2000 e que modernizou o modelo de negócio dos Spurs.
Aos 61 anos, Levy é quem está há mais tempo no cargo de presidente de um clube inglês. Nascido em Essex, na Inglaterra, tem origem judaica e seu pai, Barry Levy, era dono de uma loja de roupas, a Mr. Byrite, que seria renomeada para Blue Inc. posteriormente. Antes mesmo de sonhar em presidir o Tottenham, ainda na infância, o empresário se apaixonou pelo clube londrino: aos sete anos, acompanhou uma partida no demolido White Hart Lane contra o Queens Park Rangers.
Desde então, os caminhos de Levy voltariam a se cruzar com os do Tottenham. Seguindo os trabalhos de seu pai, de administração de empresas, ele cursou Economia na Sidney Sussex College, em Cambridge, formando-se em 1985 com honras. Nos anos seguintes se envolveu diretamente com os negócios familiares e se aventurou, em 1995, em uma parceria com Joe Lewis, que viria a ser um início de seus investimentos no futebol.
A ENIC International Ltd, trust de investimentos fundadas pelos empresários, inicialmente era voltada para a administração de empresas, mas se transformou em uma rede de esportes, entretenimento e mídia. Levy e sua família possuem cerca de 29% do capital social da ENIC, enquanto Lewis detém o percentual restante. Nesse contexto, a ENIC, sob o aval de Levy, iniciou o investimento de uma série de clubes, dentre eles uma “aposta” em seu clube de coração.
No final da década de 1990 e início dos anos 2000, a ENIC deteve ações em uma série de clubes europeus, com o Tottenham sendo um destes. AEK Athens, Slavia Praga, Basel e Vicenza, além dos Rangers, do qual Levy foi diretor até 2004, estiveram sob o escopo da truste. O projeto não se manteve por muito tempo, apesar de cada clube ser de um país, pois as regras da Uefa não permitiam que times com o mesmo dono disputassem as mesmas competições – no caso, aquelas organizadas pela entidade, como Champions e Europa League.
Nessa dispersão e venda, o Tottenham se manteve. Seja pelo amor de Levy pelo clube, ou por enxergar um negócio lucrativo para si, o clube londrino já estava na mira do empresário há anos. Ele tentou comprar o clube de seu antigo dono, Alan Sugar em duas oportunidades – 1998 e 2000 –, mas não teve êxito. Por meio da ENIC, comprou uma parcela das ações do clube em 2000 e, no mesmo ano, já se tornou presidente.
Isso ocorreu devido à insatisfação dos torcedores com a gestão de Sugar. Forçado a deixar o cargo, Levy surgiu à época como a principal opção para suceder o mandatário. Não saiu de lá desde então, mesmo em períodos de crise e mais de uma década sem um título de expressão, a nível nacional e internacional. Em 2007, a ENIC formalizou a compra de 85% das ações de clube e, cinco anos depois, o transformou em uma empresa de capital privado.
Em 23 anos, Levy mudou a história do clube – que agora tenta conquistar seu primeiro troféu desde 2008. O White Hart Lane, pelo qual se apaixonou nos anos 1970, foi demolido em sua gestão, para dar lugar ao Tottenham Hotspur Stadium. Inaugurado na temporada 2018/2019, é um dos estádios mais modernos da Inglaterra e se transformou em uma força do clube, além de um modelo de negócio para além do futebol. A arena recebe, anualmente, duas partidas da National Football League (NFL). O acordo é válido até a temporada 2029/2030 e é uma das vertentes do plano de expansão da liga em escala global.
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