O governador de São Paulo João Doria (PSDB) afirmou nesta segunda-feira que os cinco clubes paulistas que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro não poderão começar a disputa nacional antes do término do Campeonato Paulista, paralisado desde a segunda quinzena de março por causa da pandemia do novo coronavírus.
O futebol paulista corre contra o tempo. Por determinação do governo estadual, os clubes só puderam retornar aos trabalhos em seus centros de treinamento no último dia 1.º. Outras equipes do País estão em atividades há mais tempo e o temor é de desequilíbrio técnico no retorno do Brasileirão - o campeonato carioca já está na final da Taça Rio e os clubes gaúchos e mineiros estão treinando há mais de 20 dias, por exemplo.
São Paulo é o Estado com mais equipes na Série A (Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Santos e Red Bull Bragantino) e, segundo Doria, não foi consultado sobre o início do Brasileirão, confirmado pela CBF para o dia 9 de agosto. Esse fato deixou o governador irritado. Para ele, poderá haver conflito de datas entre o Paulistão, ainda a ser finalizado, e o Brasileirão.
“Quanto à decisão da CBF de voltar no dia 9 de agosto, não houve consulta prévia. Mas aqui nós temos um entendimento com a Federação Paulista. Para realizar este entendimento, nós dependemos do comitê de saúde, que tem um relator específico para o futebol do Estado”, declarou o governador.
Doria prometeu que o comitê de saúde anunciará sua decisão sobre o retorno do Estadual até o fim da próxima semana. “Até o fim da semana que vem, no mais tardar, teremos um encaminhamento sobre a conclusão do Campeonato Paulista. Sem concluir (o Estadual), os clubes não poderão participar do Brasileiro”, disse Doria.
DIREITO
Consultado pelo Estadão, o advogado Higor Maffei Bellini, especializado em direito esportivo, informou que Doria não tem poder de vetar que um clube paulista jogue uma partida pelo Campeonato Brasileiro. “Existe a autonomia esportiva, disposta no artigo 217 da Constituição Federal. Por esse artigo, apenas as entidades esportivas podem dizer quem participa ou não de seus torneios e as condições para isso acontecer”, diz o advogado.
Bellini ainda lembrou que “se as entidades que compõem a Federação Paulista de Futebol entenderem que não devem encerrar o Paulistão por algum motivo, o governo do Estado nada pode fazer, jurídica ou administrativamente, para o campeonato terminar”. “Os clubes não precisam necessariamente treinar e jogar em seus Estados de origem. Se eles entenderem que hoje é melhor viajar para treinar em outro Estado, para treinarem em melhores condições, eles podem. Como podem jogar em outros Estados, onde já tenha a possibilidade de atuar com torcida, por exemplo. O mando de jogo é do clube. A CBF, enquanto organizadora, pode autorizar os times a atuarem em outros Estados.”
No início da noite de ontem, em nota, a CBF respondeu ao governador paulista. A entidade afirmou que “os clubes de São Paulo aprovaram as datas” e que “para preservar estas datas, os clubes concordaram em jogar fora de seus domínios, transferindo o seu mando de campo para outra cidade ou Estado caso o seu local de jogo não esteja liberado nas datas de início das competições”.
A confederação ainda informa que voltou a procurar os times paulistas ontem e todos reafirmaram sua posição. Paralisado em março, o Paulista tem duas rodadas a serem disputadas pela primeira fase, antes do início do mata-mata, com quartas de final e semifinais em jogo único e final em duas partidas.
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