Em quanto tempo Neymar deve voltar aos gramados? Entenda gravidade de torção no tornozelo

Atacante sofreu entorse em confronto contra a Sérvia e pode retornar só no mata-mata da Copa do Mundo; sair andando e conseguir pisar é ‘bom sinal’, mas médicos não descartam pior grau de contusão

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Por Fabio Tarnapolsky
Atualização:

Neymar saiu de campo chorando no confronto contra a Sérvia pela Copa do Mundo de 2022, na última quinta-feira, 24, e deixou os torcedores brasileiros preocupados com uma possível lesão grave no tornozelo do craque, que traria riscos de o tirar do resto da competição. As primeiras previsões é de que um retorno seria, no mínimo, somente no mata-mata, caso a seleção avance. Imagens iniciais e os movimentos do camisa 10 causaram discordância entre médicos ortopedistas e do esporte, que não descartam uma seriedade maior.

Geralmente, quando um atleta se machuca na região de modo com que tenha que se ausentar durante vários meses, ele não consegue nem caminhar. O atacante não só andou até o banco de reservas como ainda estava jogando no segundo gol da Canarinho. Caso se confirme a baixa gravidade nos próximos dias, o tempo de volta aos gramados deve girar em torno de sete a dez dias. Se for de grau 2, depende do local de lesão do ligamento, e se confirmar grau 3, ele está fora do torneio.

Neymar saindo contundido de Brasil x Sérvia pela Copa do Mundo; ter conseguido andar pode ser bom sinal para o atacante. Foto: Ali Haider/EFE/EPA

Ligamentos e estabilidade articular

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Dentro dos ligamentos, temos receptores responsáveis por nos orientar ao pisar em locais que possam propiciar uma torção, como buracos e desníveis - a chamada “propriocepção”. Quando há lesão no local, o indivíduo perde parte dessa capacidade, que deve ser restaurada com o tempo através de fisioterapia. Nos piores casos, a entorse pode evoluir ou apresentar instabilidade.

O que define o tempo de reabilitação e o quanto desse aspecto foi afetado é a resposta inflamatória no dia seguinte. Segundo Fabiano Nunes, médico ortopedista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, isso também é avaliado para o tratamento. “Inicialmente, é repouso, gelo e reabilitação o mais precoce possível” disse. “Antigamente, a gente deixava o paciente completamente parado, sem fazer nada. Hoje, na medida do possível e da dor, tentamos a reabilitação o para que ele volte à atividade o quanto antes”.

No caso de Neymar, a reação corporal ao se machucar indicaria que não houve ruptura. “Como ele saiu andando, pisando e irão tentar fazer o tratamento, deve ter sido uma entorse com lesão ligamentar leve. Provavelmente, uma pequena distensão. Senão, já estaria fora da Copa”, comentou.

Carlos Daniel Cândido, médico do esporte e cirurgião de pé e tornozelo nos hospitais São Camilo, Albert Einstein, Samaritano e da rede Américas, não vê as imagens com a mesma opinião. Para ele, a possibilidade da seleção perder o craque é real. “Acredito que, pela energia do trauma, movimento do tornozelo e imagem final ao encerramento do jogo, tenha sido uma entorse grau 3, com lesão ligamentar principalmente do ligamento fíbulo-talar anterior, que é um dos mais lesados durante as torções no local”, disse.

Tempo de recuperação

Mesmo uma contusão menos grave pode deixar o atleta de fora por mais tempo do que o esperado, pois também deve ser avaliada como está a dor na localidade, inclusive após a recuperação.

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Há diferentes estimativas de retorno em entorses no esporte, que podem ser de duas semanas em casos de estiramento/grau 1, quatro semanas se for lesão parcial/grau 2 e seis semanas para entorses com ruptura ligamentar total/grau 3, como explica Cândido.

“Seguindo os protocolos, não seria possível um retorno do atleta aos playoffs”. Apesar disso, ele ainda não descarta a volta: “Creio que o Neymar irá submeter-se a alguns tratamentos não convencionais e acabará por ‘jogar no sacrifício’, coisa que muitos dos atletas fazem nessas situações”, reiterou.

Outro fator determinante é a condição física do lesionado. No caso de profissionais de alto rendimento, que já estão acostumados a fisioterapias e reabilitações, o tempo de ausência costuma ser menor e mais bem definido. “Eles recuperam-se mais rapidamente por três motivos: preparo físico melhor, metabolismo mais acelerado e dedicação total e exclusiva de uma equipe médica de ponta”, reitera Roberto Ranzini, médico do esporte e ortopedista e membro do corpo clínico dos hospitais Albert Einstein e Alemão Oswaldo Cruz.

“Para um atleta de alto nível, e dependendo da contusão, é possível recuperar em dez dias. Evidente que, com cautela e avaliação diária rigorosa, está no horizonte uma recuperação mais acelerada”, complementou. Junto a isso, os jogadores também tem uma memória muscular e trabalho articular bem feito, com menos vícios na hora de caminhar e fazer movimentos. Um paciente bem nutrido, bem suplementado, com níveis proteicos normais e, teoricamente, bem acompanhado tende a responder melhor.

Tratamento fundamental para volta saudável

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Mesmo alguém com um corpo “preparado” para adversidades do tipo deve seguir com afinco a reabilitação, principalmente jogadores de futebol, que devem retornar ao maior rendimento rapidamente. Um agravamento pode acarretar até em encerramento da carreira. “Caso o tratamento não seja adequado e muito sério, pode levar a condições catastróficas da articulação do tornozelo”, alerta Cândido.

“Tendo em vista os ex-jogadores de futebol Batistuta e Van Basten, ambos aposentados, de certa forma, precocemente por artrose do tornozelo e instabilidade da articulação, os pacientes devem seguir as orientações médicas e o tratamento proposto em cada caso”, adicionou. Exemplos de métodos de recuperação são: uso de imobilização por tempo proposto, fisioterapia em período adequado e restrição de atividades até ordem médica.

Neymar será reavaliado ainda nesta sexta-feira, 25, pelos médicos da seleção brasileira. Assim que feitos os procedimentos, ficará mais claro quanto tempo ele deverá se ausentar e se realmente corre risco não só a participação na Copa do Catar, como também no restante da temporada.

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