O empresário italiano Federico Pastorello agencia jogadores como o astro belga Lukaku e tem clientes espalhados por diversos clubes da Europa. Não se limita, contudo, aos negócios no Velho Continente e atua com força no mercado brasileiro, não à toa tem uma sede em São Paulo e escritórios inaugurados neste ano em Porto Alegre e no Rio de Janeiro.
Na carta de clientes, nomes promissores como o volante Alexsander, ex-Fluminense e agora no Al-Ahli, e o zagueiro Vitor Reis, joia do Palmeiras, além do experiente Arthur, em vias de sair da Juventus. Pastorello não trabalha apenas para levar seus clientes do Brasil para mercados com mais poder financeiro. Ele percebeu que o caminho inverso, de trazer ao País estrangeiros de nacionalidades fora da América do Sul e com carreira europeia, despertou o interesse dos atletas.
“Quando iniciamos esse projeto no Brasil, não procuramos apenas encontrar jovens talentos para depois trazer para a Europa, mas vimos essa tendência, ou seja, o caminho oposto. Então, além jogador brasileiro que veio e voltou para o seu País, vimos algo potencialmente diferente, nomeadamente o futebolista estrangeiro que pode vir jogar no Brasi”, diz o empresário ao Estadão.
O zagueiro angolano Bastos, do Botafogo, que jogou cinco temporadas na Lazio e estava no futebol saudita, é um exemplo desse caso entre os jogadores agenciados pelo italiano. Nenhum exemplo é mais emblemático, entretanto, que Memphis Depay no Corinthians, contratação responsável por grande impacto midiático e também dentro de campo.
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“Hoje, um jogador de futebol europeu vem ao Brasil. É uma oportunidade. Quando começámos o nosso negócio, vimos que esta tendência poderia criar uma área de negócio, e o caso dos Bastos é um exemplo. O caso de Depay é outro. No final das contas, acho que o Depay veio para o Brasil porque foi a melhor oferta que encontrou e por que queria essa experiência”, afirma.
“Notei entre nossos clientes, o interesse em avaliar oportunidades no Brasil, e não estou falando apenas dos jogadores de futebol brasileiros, estou falando dos jogadores franco-italianos, argentinos, africanos”, conclui.
Para Pastorello, o resultado colhido até agora pelo investimento feito no holandês de 30 anos tem tudo para encorajar outros atletas do mesmo calibre a seguir o mesmo caminho, mas entende que o movimento desse tipo de contratação já estava em construção.
“Grandes clubes, como Palmeiras, Flamengo, Corinthians e São Paulo, já eram grandes antes, mas estão se modernizando e criando oportunidades financeiras importantes. A movimentação interna do futebol brasileiro para mim, hoje, representa um potencial muito importante”, afirma. “Os clubes brasileiros representam uma oportunidade para esses jogadores, não só os jogadores de 33 a 34 anos ou os brasileiros que vêm encerrar a carreira, mas também jovens de 27 a 30 anos.”
“O futebol e os clubes brasileiros também representam uma oportunidade para esses jogadores, não só os jogadores de 33 a 34 anos que vêm encerrar a carreira ou os brasileiros que vêm encerrar a carreira, mas também os jovens de 27, 28, 29 e 30 anos. Até porque, do ponto de vista econômico, hoje os grandes clubes brasileiros conseguem competir com clubes europeus em termos de contrato e salário. Acima de tudo oferecem um espetáculo importante, porque de qualquer forma o futebol no Brasil é uma festa incrível”
Principal ativo entre os agenciados por Pastorello, Lukaku tem perfil e idade, 31 anos, próximos aos de Memphis Depay. O atacante belga também tem certa conexão com o Brasil, pois gosta da cultura e da comida do Brasil e até aprendeu a falar português, por causa da convivência com atletas como David Luiz, Ramires, Willian, Thiago Silva e Jorginho. No caso dele, contudo, uma transferência para o Brasil não está no horizonte.
“Lukaku é um fã de futebol e vive para o futebol, basicamente vive para sua família e para a bola . Ele vê também o campeonato brasileiro. Olha com muita admiração, porque os estádios estão sempre cheios, o campeonato está em bom nível, mas não creio que uma mudança para o Brasil possa estar no futuro dele. Até porque ele acaba de assinar com o Napoli e tem contrato de três anos. Seu foco obviamente é tentar vencer com o Napoli, mas digamos que para jogadores semelhantes e, portanto, para jogadores importantes, o Campeonato Brasileiro pode ser uma oportunidade”, diz o agente italiano.
Vitor Reis, o zagueiro de R$ 35 milhões de Euros?
Apesar da tendência reforçada pela chegada de Memphis Depay, o volume é pequeno e o futebol brasileiro continua sendo devorado pelo mercado europeu. Agenciado por Federico Pastorello, o jovem Vitor Reis, de apenas 18 anos, gera no Palmeiras a expectativa de concretizar a venda mais cara de um zagueiro brasileiro. A diretoria alviverde projeta o valor de 35 milhões de euros (cerca de R$ 212,51 milhões) para negociar o defensor.
“Se vamos para 30 milhões de euros não cabe a mim dizer, mas digamos que o preço de uma transferência não é determinado apenas pelo desempenho do jogador, mas obviamente também pelo mercado que determina o preço”, conta. “Os palmeirenses vão decidir se o valor é o certo ou se vale a pena, talvez esperando porque, no final das contas, o Vitor acabou de se aproximar do time titular.”
Para Pastorello, além da qualidade técnica, o que valoriza a joia palmeirense é a maturidade que demonstra apesar da idade.
“Ele tem uma família que ajuda muito e tem ideias claras sobre o que se deve fazer para chegar ao mais alto nível como jogador de futebol: sacrificar, a vida privada, nutrição e dormir bem. É um menino, mas já com a mente de um homem de 27, 28 anos. Para nós é ideal, porque, quando um clube investe num jovem jogador, a preocupação não é só do ponto de vista técnico, mas também do ponto de vista da pessoa. Do ponto de vista moral o Vitor realmente dá garantias”, explica o empresáario.
Já foram especuladas algumas propostas, como uma oferta vinda do Real Madrid, e Federico nega ter recebido qualquer contato do clube merengue. Ele espera contatos oficiais já na janela de transferência de janeiro, mas acha difícil que Vitor Reis deixe o Palmeiras antes da janela de verão da Europa, iniciada em junho, antes do início da temporada 2025/2026.
“Ele está focado no Palmeiras. Depois disso, veremos o que acontecerá no mercado de transferências de janeiro e possivelmente para o mercado verão. Estamos muito tranquilos, porque a ideia do Vtor é muito clara e o momento certo chegará. Discutiremos isso com o clube, tentaremos chegar a um acordo no melhor interesse. Resumindo, tudo é possível, mas digamos que o consenso seria provavelmente esperar pelo mercado de verão, porque o principal mercado brasileiro é o de janeiro, mas o europeu é o de verão, então provavelmente haverá mais oportunidades”, afirma.
Arthur ainda ‘não se sente pronto’ para voltar ao Brasil
O jogador agenciado por Pastorello que mais teve seu nome ligado a clubes brasileiros recentemente é o volante Arthur, atualmente sem espaço na Juventus. Aos 28 anos, o ex-jogador do Grêmio, campeão da Copa América com a seleção brasileira, chegou à Juve na temporada 2020/2021 após passagem pelo Barcelona e foi emprestado ao Liverpool em 2022.
Mal jogou na Inglaterra, prejudicado por uma lesão que exigiu cirurgia. Na temporada passada, melhor fisicamente, foi emprestado à Fiorentina e teve boas atuações, mas não foi o suficiente para ganhar mais oportunidades na Juve, clube com o qual tem contrato até o meio de 2026. Diante da situação, é muito provável que deixe o time de Turim em breve.
“Depois da temporada realmente infeliz no Liverpool, na qual infelizmente jogou pouco, também por causa desta lesão, fez uma temporada maravilhosa na Fiorentina, disputando 43 partidas e disputando uma final de liga conferências. As expectativas que tínhamos eram de um mercado diferente. Infelizmente, a oportunidade certa não chegou e por isso preferimos ficar na Juventus. Vamos esperar para ver em janeiro, porque devemos encontrar uma solução”, diz Pastorello.
O empresário acha difícil que o destino de Arthur seja um clube brasileiro, pois a prioridade é continuar na Europa. A possibilidade de voltar para o País de origem, contudo, não está completamente descartada.
“A prioridade é ficar na Europa, porque o Arthur ainda não se sente pronto para voltar ao Brasil. Mas é claro que nada deve ser descartado. Enquanto não houver certeza, vale sempre a pena avaliar todas as opções. Ele ama o seu país, é brasileiro e, mesmo longe há muitos anos, continua acompanhando o Campeonato brasileiro obviamente.Hoje, portanto, não podemos descartar absolutamente nada. A única coisa certa é que o Arthur não pode ficar mais seis meses na Juventus sem jogar”, avalia o italiano.
Do Brasil para a Arábia Saudita... e da Arábia Saudita para a Europa
Além dos caminhos dos mercados europeu e brasileiro, Pastorello colhe também os frutos da ascensão do futebol da Arábia Saudita. Diferentemente da primeira etapa de investimentos bancados pelo governo da nação árabe, quando o foco era em medalhões como Cristiano Ronaldo e Neymar, agora a injeção financeira está sendo usada para contratar jovens talentos que teriam mercado na Europa. Hoje, se um jogador representado por sua empresa recebe proposta de um time saudita, o empresário expõe ao cliente que considera a oportunidade vantajosa desportivamente e não apenas financeiramente.
“Os campos de treinamento, os estádios, as estruturas estão atingindo um nível muito importante. Os clubes sauditas sempre demonstraram estar na competição, de qualquer forma, com os grandes clubes europeus. Pessoalmente, como empresário, no momento em que surge uma oferta de um clube saudita, não a considero apenas uma oportunidade financeira, porque normalmente as ofertas da Arábia Saudita são maiores do que as ofertas europeias em termos econômicos, mas também do ponto de vista técnico”, opina.
Foi esse pensamento que levou Alexander, hoje com 21 anos, a trocar o Fluminense pelo Al-Alhi em agosto deste ano, em negócio intermediado por Pastorello, que vê a ida para o futebol saudita até como uma possível ponte para a Europa.
“No caso de Alexsander, no final das contas nós decidimos ir para lá porque não tínhamos uma oferta adequada também para o Fluminense de europeus. Mas, neste momento, o Alexsander treina com Mahrez, treina com Mendy, treina com Firmino. Ele está continuando seu crescimento em nível de futebol, então digamos que o fato de fazer a transição Brasil-Europa ou fazer a transição Brasil-Arábia Saudita-Europa são caminhos igualmente interessantes Não vejo qual motivo pode haver um impedimento para um jogador jovem ir para a Arábia Saudita e depois ir para a Europa da Arábia Saudita”, diz.
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