Endrick e o Paulistão despediram-se um do outro neste domingo, dia 7, no Allianz Parque, quando o Palmeiras conquistou o Campeonato Paulista ao vencer o Santos por 2 a 0. O menino de 17 anos chega a cinco títulos com a camisa palmeirense, sem medo de assumir protagonismo quando precisou. Na decisão, Endrick não fez o jogo mais brilhante no torneio, mas participou no sacrifício, ainda tratando uma lesão na coxa direita.
A tensão da final em cenário adverso, já que a vantagem era santista, estava em Endrick. Com menos de 20 minutos, o camisa 9 pareceu vestir também a 10, tentando criar jogadas. Não funcionava contra um paredão da defesa santista. No primeiro choque com o muro, fez falta em Felipe Jonatan e esbravejou com o árbitro Raphael Claus. Novas reclamações lhe renderam um cartão amarelo.
O roteiro era avesso ao que Endrick acostumou torcedores e espectadores. Mas ele não desistiu. Se o caminho era insistir no choque, o atacante foi até o final para dividir com o goleiro João Paulo na área santista. A arbitragem ainda tinha dúvidas sobre o que marcar. Endrick tinha certeza: pegou a bola e aguardou na marca da cal, já aguentando a pressão dos adversários. Quando confirmado o pênalti, porém, Raphael Veiga tomou o brinquedo do menino como quem quisesse ensinar uma última lição antes do garoto ir para uma nova aventura.
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Endrick sabia que o 1 a 0 não seria suficiente e continuou a insistir. Todas as chances do Palmeiras passavam por ele, que, se fosse dois, cruzaria para ele próprio finalizar. Contraditoriamente, o segundo gol palmeirense nasceu de cruzamento de Piquerez, assistência de Flaco López e finalização de Aníbal Moreno. Endrick olhava tudo da entrada da área. Ele poderia ali ter certeza que o ataque do Palmeiras estará bem cuidado quando ele voar para a Espanha, em julho, para integrar o elenco do Real Madrid.
Logo, Abel sacou o garoto para a entrada de Marcos Rocha. O Palmeiras estava próximo do título e ele precisava descansar. Ainda sente dores na perna. O descanso será curto, porque Endrick espera voltar a campo na quinta-feira contra o Liverpool-URU pela Libertadores.
A reportagem da transmissão contou que o camisa 9 saiu para o vestiário e voltou já de banho tomado e perfumado. Ele se preparava para uma festa. A última nesta passagem pelo Palmeiras. Não dá para afirmar com certeza se vai retornar. Segundo ele próprio, não dá para ter muitas máximas categóricas. “Única coisa que tem certeza na vida é a morte. Não sei se vou estar vivo amanhã. Então vivo um dia de cada vez. Não estou pensando no Real Madrid ainda. Só pensando no Palmeiras. Vou me tratar para jogar quinta-feira e depois no Brasileiro”, disse ao final do jogo.
São os últimos atos de Endrick no Palmeiras. Ele, por vezes, sente como se fosse o primeiro. ”Antes de a gente subir (no gramado), parecia que era a primeira vez, minha primeira final, meu primeiro jogo aqui no Allianz. Meu primeiro jogo foi no sub-11. Isso aqui mudou minha carreira, minha vida, a vida da minha família”, revelou. De alguma forma, ele também mudou o Palmeiras e uma geração de garotos que sonham em ser um Endrick. No clube, foram dois Paulistões, dois Brasileirões e uma Supercopa do Brasil.
O atacante não tem pretensão de ser ídolo nacional. É consciente que tem quem não goste dele. Ele quer mais. “Para os novos meninos, quero ser um novo ídolo. Quero ser uma pessoa que incentiva e que olhem para mim e pensem: ‘se ele conseguiu, eu posso conseguir’”, contou, como quem defende que ser inspiração é maior que ser unânime.
Endrick se despede aos poucos. Hoje foi do Paulistão. A cada despedida, contudo, ele se apresenta mais, exatamente como faz com o cumprimento que usa em comemorações de gols. “Até logo” ou “muito prazer”, a saudação que for faz sentido para Endrick, um jovem que, mesmo no topo, troca o lugar de receber reverências por ser referência.
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