Entenda o que pode acontecer com Robinho em julgamento de recurso no STF

Plenário do Supremo Tribunal Federal tem sete dias para analisar pedido de habeas corpus a partir desta sexta-feira, 13; defesa busca reviravolta no STJ e atleta nega as acusações

PUBLICIDADE

Foto do author Rodrigo Sampaio
Atualização:

Robinho tem a possibilidade de ser solto a partir desta sexta-feira. O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julga entre os dias 13 e 20 de setembro o habeas corpus (HC) do ex-jogador de 40 anos, preso desde o dia 21 de março no Centro Penitenciário de Tremembé, onde cumpre condenação da Justiça da Itália a nove anos pelo estupro de uma mulher em uma boate de Milão. O relator do caso é o ministro Luiz Fux, cujo voto será o primeiro a ser apresentado. O atleta nega as acusações.

PUBLICIDADE

Após a prisão de Robinho, a defesa do jogador entrou com dois pedidos de HC. O primeiro foi negado após a análise de Fux. Os advogados do atleta entraram com um novo recurso, pedindo ao STF para não reconhecer a competência do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) para determinar a prisão do jogador. A decisão da Corte Especial ocorreu em 20 de março, com o atleta sendo preso no dia seguinte.

Paulo Gonet, procurador-geral da República, posteriormente enviou dois pareceres ao STF se manifestando contrário à soltura de Robinho e defendendo que a sentença italiana seja aplicada no País. Ele sustenta que o início do cumprimento da pena na prisão não está condicionado a um pedido do Ministério Público ou de outra parte interessada.

Robinho terá habeas corpus julgado pelo STF a partir desta sexta-feira.  Foto: Reprodução/Justiça Federal

O julgamento ocorre de forma virtual, sem a necessidade da leitura do voto pelos ministros diante dos colegas. Assim, existe a possibilidade de o resultado sair já nesta sexta-feira, 13. Contudo, a expectativa é de o tema perdurar ao longo dos próximos dias. O caso começaria a ser analisado pelos magistrados na última semana, mas acabou sendo retirado de pauta por Fux. Cabe ressaltar que mesmo se receber o habeas corpus, Robinho pode voltar à prisão.

“Se o STF conceder o HC, muito provavelmente será para assegurar a ele o direito de aguardar em liberdade a definição no STJ sobre a homologação da sentença italiana. Após o término definitivo do processo de homologação, depois do julgamento de todos os recursos cabíveis, e tendo a conclusão sido pela regularidade da condenação estrangeira, ele poderia retornar à prisão para retomar o cumprimento de pena”, comenta Rafael Valentini, advogado criminalista, pós-graduado em Direito e Processo Penal pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e sócio do FVF Advogados.

Publicidade

“Creio que se o STF, em uma hipótese remota, conceder o HC, será com base em uma desconsideração da decisão condenatória da Justiça Italiana. Isso, na minha opinião, feriria a nossa Constituição, já que compete ao STJ essa decisão, e não ao STF”, diz Rafael Paiva, advogado criminalista, pós-graduado e mestre em Direito, especialista em violência doméstica e professor de Direito Penal, Processo Penal e Lei Maria da Penha.

“Uma das principais alegações da defesa é que Robinho não poderia iniciar o cumprimento de pena porque a decisão do Superior Tribunal de Justiça ainda estaria sujeita a recursos. Se apenas esse argumento defensivo fosse aceito pelo plenário, ele retornaria à prisão com o trânsito em julgado da decisão do STJ”, Jenifer Moraes, doutoranda em Direito Penal pela Universidade de Salamanca, mestre em Direito Penal pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e professora de Direito Penal da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Os especialistas destacam ainda que não há possibilidade de recurso no STF quanto à questão do habeas corpus. A exceção seria se ao menos quatro ministros votassem pela concessão do HC, o que possibilitaria um novo julgamento no próprio STF sobre o tema. Um aceno positivo à Robinho significaria soltura imediata do jogador.

Encabeçada pelo advogado José Eduardo Alckmin, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a defesa de Robinho pretende recorrer no STJ quanto ao mérito do caso. Os advogados do jogador entendem que a prisão antes do trânsito em julgado da homologação de sentença fere a Constituição Federal. A Corte Especial formou maioria ao acompanhar o voto do relator, o ministro Francisco Falcão, que argumentou não ser necessário aguardar o trâmite em julgado por se tratar de uma sentença estrangeira.

Foto do registro de Robinho na prisão. Jogador está no Centro Penitenciário de Tremembé II Foto: Reprodução/Secretaria de Administração Penitenciária (SAP-SP)

Ao Estadão, Alckmin afirmou que Robinho está sendo vítima de injustiça e que o caso deveria ser reanalisado com base na legislação do País. “O cidadão brasileiro que comete crime no exterior tem o direito de ser processado pelas leis brasileiras. Ao rigor da lei é o que tem de acontecer, ser julgado ao padrão das nossas leis. Esse caso deixa muitas dúvidas. Ele foi condenado somente pelas gravações”, afirma.

Publicidade

Em contrapartida, uma nova análise do mérito é considerada difícil — recentemente, a Justiça negou à defesa também um recurso pela diminuição da pena.

“O STJ já analisou isso na sua decisão. Ficou claro que ele teve a oportunidade de se defender lá. Aqui, o STJ apenas homologou a decisão estrangeira, dando validade para que ela fosse cumprida aqui no Brasil”, argumenta Paiva. “O STF poderá ter entendimento diverso e, por consequência, acolher o pedido para que um novo processo seja iniciado no Brasil, no qual Robinho poderia ser absolvido ou condenado novamente (agora pela jurisdição brasileira)”, diverge Valentini.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.