O Fortuna Dusseldorf, da segunda divisão da Alemanha, idealizou um projeto inovador e vai oferecer ingressos gratuitos para os torcedores. A iniciativa, que leva o nome de “Fortuna For All” será válida por enquanto para os três jogos da equipe em casa. O clube anunciou que já tem empresas parceiras que irão cobrir eventuais prejuízos com a organização dos jogos: Hewlett Packard Enterprise, Targobank e Provinzial.
O projeto também deve envolver os torcedores adversários. “Queremos deixar claro o que o Fortuna Düsseldorf representa. Estamos fazendo as coisas de maneira diferente e abrindo novos caminhos.”, disse o CEO do clube, Alexander Jobst, ao site da Bundesliga.
O Fortuna Dusseldorf já foi campeão nacional da elite alemã, e seu estádio, o Merkur Spiel-Arena, tem capacidade para 54.600 torcedores e será palco da Eurocopa 2024. “Estamos felizes com as empresas que já estão a bordo e continuamos abertos a outras que queiram se juntar a nós neste caminho extraordinário. Para poder oferecer bilhetes em todos os jogos em casa, precisamos de mais parceiros de longo prazo”, acrescentou o executivo do time alemão.
O QUE DIZEM ESPECIALISTAS E EXECUTIVOS?
Fernando Patara, cofundador e Head de Inovação do Arena Hub, elogio o comportamento do clube alemão. “Aproximar e engajar seu torcedor e fã é um desafio para todos os clubes. As receitas provenientes de ingressos representam aproximadamente 10% do faturamento, e normalmente os gastos acessórios dentro dos estádios são 2,5 vezes o valor dos tickets, assim com experiências diferenciadas esse déficit também poderia ser suprido. O mais importante é como o clube está construindo sua imagem de marca independente do produto futebol, sua percepção de valor transcende o investimento inicialmente feito, pois se torna longa e duradoura”, afirmou.
Para Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports, é uma iniciativa de vanguarda, mas que ainda é necessário aguardar para uma avaliação mais ampla sobre o modelo de negócio. “Essa ideia do Fortuna é pioneira. É um posicionamento diferente, mas eu acredito que é cedo para dizer que dê certo. Se de fato eles forem colocar isso em prática, se isso vai funcionar no sentido de impulsionar negócios. Como será distribuído esses ingressos? Acho que é uma ideia interessante por ser diferente, mas não necessariamente na prática pode significar algo eficaz.”
“Uma ação que pode proporcionar que novos perfis de público se relacionem com o clube, com estádio lotado e boa atmosfera, e sem ter prejuízo financeiro. Sou a favor de toda e qualquer ação inovadora, que teste novas possibilidades, principalmente em um universo tradicional como de ticketing”, acrescentou Bruno Brum, CMO da Agência End to End.
Para Rogério Neves, CEO da Motbot, o Fortuna Dusseldorf abre uma janela diferente para o futebol. “É algo raro de se ver, porém reforça que o futebol é uma área com infinitas possibilidades. Iniciativas assim podem criar uma admiração maior do clube e das marcas junto à comunidade. Com certeza, será a primeira oportunidade de muitas pessoas irem pela primeira vez ao estádio. Quando vários esforços se juntam, há a chance de se criar algo grande e o esporte é prova disso”, afirmou.
Já Renê Salviano, especialista em marketing esportivo e CEO da Heatmap, aponta que o clube alemão pode até mudar um pouco o perfil do torcedor que acompanha o futebol. “Uma partida de futebol tem custos altos que dependem do volume de pessoas que vão ao campo. Por exemplo, a quantidade de seguranças, limpeza, portões a serem abertos, etc. Além disso, tem o exercício de precificar o ticket que depende do dia, horário, campeonato, rival. Em vários lugares do mundo se vende a temporada de uma vez, pois conseguem inserir essa cultura que ajuda muito na gestão, pois traz previsibilidade de receita, entre outros ganhos. Ações como essa podem ‘quebrar’ uma cultura existente, até pelo fato de não conseguir se manter, pois trata de uma linha de receita importante para as instituições. O cuidado no planejamento é essencial, o fã deve ser sempre o centro de uma instituição, mas com ações pontuais bem pensadas para não influenciar na mudança de uma cultura e, nunca, virar prejuízo futuro para a instituição.”
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