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Entidade que monitora apostas emitiu alertas em 4 jogos suspeitos no Brasil entre abril e junho

Associação Internacional de Integridade de Apostas (IBIA), organização que verifica eventos estranhos no esporte, adiantou dados de relatório trimestral deste ano

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Foto do author Ricardo Magatti
Atualização:

Alertas de possíveis manipulação de resultados em quatro partidas de futebol no Brasil entre abril e junho deste ano foram emitidos pela Associação Internacional de Integridade de Apostas (IBIA, na sigla em inglês), segundo revelou o CEO da entidade, o Khalid Ali. O relatório com os números consolidados deve estar disponível em julho, mas Ali, um escocês de descendência libanesa, adiantou parte dos dados em conversa com o Estadão em São Paulo. Segundo o executivo, os alertas foram enviados à Fifa.

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No mundo, a organização registrou 40 alertas de apostas esportivas suspeitas junto às autoridades relevantes a respeito de nove modalidades esportivas durante o primeiro trimestre de 2023. Futebol é o esporte que lidera os alertas: foram 15, três mais que o tênis, o segundo com mais suspeitas de manipulação.

Já o relatório de 2022 da mesma associação apontou 265 alertas de eventos suspeitos. No ano passado, o tênis ficou à frente do futebol e foi o esporte com mais sinais: 102 contra 67 do futebol. O Brasil aparece cinco vezes no relatório, com três alertas em jogos de futebol, e um em tênis, vôlei, basquete e tênis de mesa. Entre 2017 e 2022, foram 1,2 mil alertas emitidos pela IBIA.

Khalid Ali, CEO da Associação Internacional de Integridade em Apostas, que monitora atividades suspeitas Foto: Ricardo Magatti/Estadão

“É fundamental criar sistemas de educação para os agentes esportivos, como atletas e técnicos, especialmente os mais jovens. E também combater desinformações, como pessoas que prometem riqueza em um mês no mercado de apostas. Isso não existe”, alerta o executivo. Segundo ele, 91% de todos os alertas de futebol entre 2017 e 2020 ocorreram em mercados primários de apostas, isto é, em apostas relacionadas ao placar do jogo ou do primeiro tempo, uma vez que a liquidez é muito maior.

A Ibia faz alertas sobre eventos suspeitos e é a principal voz global sobre integridade para o setor de apostas licenciadas. A organização representa cerca de 50 empresas que englobam mais de 120 marcas de apostas que, somadas, têm faturamento anual de US$ 137 bilhões (R$ 654 bilhões).

Criada em 2005 e conhecida anteriormente como Essa, a Ibia diz que seus integrantes têm o objetivo em comum de combater a corrupção nas apostas esportivas e proteger a integridade do esporte. Ela compartilha seus serviços com Fifa, Uefa, Comitê Olímpico Internacional (COI) e outras entidades do esporte mundial.

“Quando ocorre manipulação de resultados, as pessoas geralmente querem apontar o dedo para a casa de aposta. Elas esquecem que operadora está sendo fraudada. É o criminoso que está tentando roubar dinheiro da empresa”, afirma Ali. “É de 100% do nosso interesse ter certeza de que estamos protegendo a empresa de aposta”.

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A principal diferença entre a Ibia e empresas com sistema de monitoramento capaz de detectar padrões de apostas irregulares e suspeitos, como a suíça Sportradar, é que a associação não tem fins lucrativos, portanto, não vende seus dados nem serviços. Trata-se de uma rede de informações das próprias casas de apostas que integram a organização.

“Basicamente, há nos relatórios uma descrição da atividade, o volume que nossos membros viram e um tipo de processo padrão”, explica Ali. “O mais importante é que, uma vez enviado o alerta, quando a confederação quiser ter mais informações, eles serão contatados e são obrigados a fornecer mais informações, como detalhes do cliente”.

Brasil ainda não regulamentou mercado de apostas e encara prejuízo bilionário e manipulação de resultados Foto: Felipe Rau/Estadão

Regulamentação das apostas

O CEO da IBIA veio ao Brasil para discutir a regulamentação do setor e fazer sugestões sobre o que pode ser benéfico ao mercado brasileiro. “Da perspectiva de nossos membros, nós realmente queremos ver a regulamentação acontecer o mais rápido possível”, diz Ali. Ele se reuniu com o José Francisco Mansur, assessor especial da Secretaria Executiva do Ministério da Fazenda, para conversar a respeito do assunto.

O governo concluiu o texto da Medida Provisória que regula o setor há mais de um mês, mas a MP não foi publicada por divergências com o Congresso e pode ser substituída por um projeto de lei. O presidente Lula costura um acordo com os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, respectivamente, para destravar a Medida Provisória e fazê-la avançar.

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Enquanto isso não acontece, a concepção dos envolvidos é que o País continua perdendo dinheiro que deveria ser tributado com as apostas. O cálculo é de que, sem uma legislação que regule o setor, o Brasil perca R$ 3,6 bilhões em impostos ao ano. A estimativa do ministro Fernando Haddad é arrecadar de R$ 12 bilhões a R$ 15 bilhões com a medida.

Nesse limbo regulatório, há margem para quadrilhas operarem com facilidade e fraudar apostas em importantes eventos esportivos, como revelou a Operação Penalidade Máxima, do Ministério Público de Goiás. Fora do Brasil, a estimativa é que o prejuízo da indústria global de apostas reguladas por causa da manipulação de resultados seja de US$ 25 milhões por ano (R$ 120 milhões).

“O desafio é garantir que as operadoras que desejam vir ao Brasil sejam licenciadas de acordo com um determinado padrão”, diz Ali. Para ele, o Reino Unido é um exemplo de país no qual o Brasil pode se inspirar para construir o seu modelo de regulamentação.

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A opinião de Ali tem lastro em outro relatório da Ibia que aponta a Inglaterra como a líder do ranking de “mercado ideal” para apostas, com 91 pontos. Segundo o documento, os ingleses têm “regulação robusta, custos operacionais moderados” e “permanece como um dos melhores exemplos de regulação ao redor do mundo”.

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