ENVIADOS ESPECIAIS A DOHA (CATAR) - O “esquenta” oficial para a estreia do Brasil na Copa do Mundo do Catar diante da Sérvia, nesta quinta-feira, 24, amealhou 2.500 pessoas na área externa de um hotel de luxo em Doha, incluindo “argentinos” infiltrados, reuniu conhecidos dirigentes do futebol brasileiro e teve venda de bebida alcóolica.
Organizado pelo Movimento Verde e Amarelo, torcida uniformada da seleção brasileira, com apoio de grandes marcas, como a Brahma, o evento começou às 12h, pelo horário local. O ingresso custou 100 riais do Catar (cerca de R$ 146), e deu direito a duas latas de cerveja.
O local, aliás, foi escolhido pensando na autorização para consumir bebida alcoólica, produto cuja venda e consumo são restritos no Catar. Havia vários quiosques de comida, a maioria internacional. Grande parte da renda ficou com o hotel.
“Considerando todas as peculariedades que a gente achou, esse foi o melhor lugar que juntou as melhores condições”, justificou Fernando Pontes, um dos fundadores do Movimento Verde e Amarelo. Bebidas alcoólicas são permitidas apenas nas fan fests oficiais da Fifa, com restrição de horário e limite de copos por torcedor, além de hotéis, restaurantes e outros poucos espaços no Catar.
A cerveja foi alvo de uma crise na Fifa depois que passou a ser proibida dentro dos estádios e nos arredores na quinta-feira, 18, antevéspera da abertura da Copa do Mundo. O governo do Catar, um país de regime autocrático de maioria islâmica governado pela mesma família desde o século 19, pediu e a entidade máxima do futebol mundial vetou a comercialização.
No evento com torcedores brasileiros, meio litro de cerveja era vendido por 45 riais catarianos, o equivalente a R$ 65. O valor é o mais alto da história dos Mundiais. Mesmo assim, não afugentou os torcedores, que carregavam até dez latas ao mesmo tempo depois de enfrentarem uma longa fila para ter acesso ao que tanto procuram, mas raramente acham no Catar. Também era possível comprar vodca, uísque, gin e outras bebidas de teor alcoólico.
O gaúcho Felipe Henkin, 41 anos, era um deles, mas já está acostumado com as restrições. Piloto da Qatar Airways, ele mora em Doha há uma década. “A cerveja está mais ou menos gelada”, constatou o brasileiro, vestido com uma camisa do Inter, vice-campeão nacional. Ele enfrentou quarenta minutos de fila.
“Nunca vi tanto brasileiro junto como agora aqui em Doha”, acrescentou Henkin. Foi essa atmosfera que atraiu o casal de palestinos, Youssef Emad, 33 anos, e Reem Mohamed, 30. Moradores do Catar, eles foram à festa brasileira vestidos com a camisa argentina.
“Sei que a Argentina é rival do Brasil, mas sabia que o pessoal era cordial. Por isso, vim com a camisa argentina para mostrar que é possível conviver em harmonia”, disse Youssef, pai do pequeno Emad, que também se juntou à multidão verde e amarela.
“Amamos a atmosferas, os brasileiros são simpáticos e gostamos muito da América do Sul”, completou Youssef, confiante na vitória brasileira sobre os sérvios. A sua favorita, porém, segue sendo a Argentina. “Brasil vai vencer a Sérvia por 4 a 0 e tem chance de ser campeão, mas vou torcer para a Argentina primeiramente”.
Saga por ingresso
Sentado em um dos bancos de uma espécie de praça de alimentação do espaço onde aconteceu o esquenta, o administrador Fabio Martinelli, 37 anos, estava ansioso. O motivo da ansiedade era menos o jogo em si, mas a busca por um ingresso para assistir à estreia do Brasil das arquibancadas do Lusail. A poucas horas da partida, ele fazia contatos em busca de uma entrada.
“Se não for ao jogo, é como comer o bolo sem a cereja em cima”, resumiu. Passados alguns minutos, seu irmão, o empresário Caio Martinelli - já portador de ingresso para quase todos os jogos do Brasil, inclusive os do mata-mata - deixou o irmão eufórico.
Um brasileiro que mora em Orlando, nos Estados Unidos, não veio ao Catar e vendeu seu ingresso para Fábio. A transferência do tíquete foi feita pelo celular. “Pagamos 200 dólares, o valor do ingresso normal”, contou Caio.
Cartolagem
Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol e um dos oito vice-presidentes da CBF, e Andrés Sanchez, ex-diretor de Seleções da CBF e ex-presidente do Corinthians, foram ao evento no norte de Doha antes do primeiro jogo do Brasil no Mundial. Com eles também estava o procurador-geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Ronaldo Piacente.
Eles não quiseram falar com a reportagem do Estadão. “Estou a lazer aqui”, limitou-se a dizer Carneiro Bastos.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.