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Estádio do Atlético-MG será hostil para rivais e vai gerar R$ 80 milhões com bilheteria

Arena MRV custou mais de R$ 1 bilhão, se propõe a ser a arena mais moderna, inclusiva e sustentável do País e deve receber seu primeiro jogo oficial ainda neste mês

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Foto do author Ricardo Magatti
Atualização:

BELO HORIZONTE - Nos últimos anos, o arquiteto Bernardo Farkasvolgyi visitou 21 estádios na Europa, todos os principais do Brasil e algumas arenas multiuso nos Estados Unidos. O motivo das viagens era sempre o mesmo: encontrar inspirações para desenhar a Arena MRV, novo estádio do Atlético Mineiro, que já foi inaugurado, recebeu evento-teste com ex-jogadores históricos do clube e está na iminência de abrir suas portas para seu primeiro jogo oficial.

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Farkasvolgyi e os responsáveis pelo equipamento esportivo, da concepção à conclusão, se gabam de fazer parte do projeto da arena “mais moderna, tecnológica, inclusiva e sustentável da América Latina”. São esses os pilares do novo estádio atleticano. “Não tem luxo, mas tem conforto”, diz o arquiteto.

O lema é repetido por Bruno Muzzi, CEO do Atlético-MG e também da arena. Segundo o gestor, o projeto passou por alterações ao longo dos anos até ser definido que o equipamento erguido no bairro Califórnia, região noroeste de Belo Horizonte, seria uma palco para eventos dos mais variados. “Tinha cara de futebol, hoje é uma arena multiúso”, afirma Muzzi.

O Estadão visitou o novo estádio do Atlético e conheceu toda a sua estrutura, desde a esplanada, passando pelos vestiários até o gramado, que atualmente é natural, mas, no futuro, será sintético, seguindo o que fizeram Athletico-PR e Palmeiras em seus estádios. “Provavelmente, vamos acabar tendo de migrar para o sintético. A incidência do sol é pequena em arenas fechadas. A hora que tiver muito evento, mesmo com a luz, não dá tempo de recuperar”, explica o CEO do clube mineiro.

Fachada da Arena MRV, nova casa do Atlético Mineiro Foto: Ricardo Magatti/Estadão

Arena MRV

A Arena MRV foi construída em três anos em um terreno de 128 mil metros quadrados doado pelo empresário Rubens Menin, um dos donos da SAF atleticana - os outros são Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador. A capacidade será de 46 mil torcedores, subindo para 60 mil pessoas em dias de shows, já que, nessas ocasiões, o gramado pode ser usado. São 112 camarotes, 45 bares e lanchonetes, um restaurante, 42 banheiros, todos adaptados para pessoas com deficiência, e 2.300 vagas de estacionamento.

Apesar da dívida de R$ 1,8 bilhão, a maior dos clubes brasileiros, o Atlético ergueu a arena com seus próprios recursos, sem que o futebol seja impactado. O clube vendeu por R$ 350 milhões 50,1% de um shopping que lhe pertencia em uma região nobre de Belo Horizonte, levantou R$ 60 milhões com a venda do nome do estádio para a construtora MRV Engenharia, empresa ligada à família Menin, e conseguiu o restante por meio da comercialização de cadeiras cativas e camarotes por 15 anos.

Estádio atleticano foi projetado para ser caldeirão e abafar cantos dos adversários Foto: Ricardo Magatti/Estadão

Inicialmente, o estádio custaria R$ 410 milhões. No entanto, o valor subiu para R$ 650 milhões por causa da inflação, que elevou o preço dos insumos e, no fim, vai custar R$ 750 milhões.

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Como se trata de uma construção de grande porte, o Atlético teve de fazer uma série de benfeitorias e cumprir as contrapartidas sociais, ambientais e viárias exigidas pela Prefeitura de Belo Horizonte. Considerando os gastos com condicionantes, de cerca de R$ 250 milhões, o valor das obras supera R$ 1 bilhão.

Faturamento

A expectativa do Atlético é faturar R$ 80 milhões com bilheterias em jogos do time em 2024, R$ 18 milhões a mais do que o projetado para 2023 e R$ 30 milhões acima do que o clube arrecadou com essa fonte de receita em 2022. “Vai mudar a dinâmica do sócio-torcedor e tem os eventos também”, afirma Muzzi. O CEO do clube usa o Allianz Parque, do Palmeiras, como parâmetro para prever que essa receita pode mais do que dobrar com a inclusão dos shows e eventos.

Casa atleticana se propõe a ser a arena mais moderna, inclusiva e sustentável do País Foto: Ricardo Magatti/Estadão

Além dos R$ 60 milhões que ganhou da MRV, o clube negociou naming rights com outras três empresas: Brahma, que dá nome ao nível 1 da arena (arquibancadas inferior), ArcelorMittal, para o nível 2 (camarotes), e Banco Inter, nomeando o nível 3 (arquibancada superior).

‘Caldeirão’

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A arena atleticana tem muitas semelhanças com o Allianz Parque, considerado hoje o estádio mais moderno do País. Farkasvolgyi afirma que a casa do Palmeiras serviu como a maior inspiração entre os estádios brasileiros para projetar a arena do Atlético. O conceito “caldeirão” é uma das características replicadas.

Mas o caldeirão atleticano será diferente em um aspecto: a pressão sobre os adversários. Há uma peculiaridade no projeto acústico do local que, segundo o arquiteto, permite que apenas o som emitido pelos torcedores do Atlético seja amplificado, batendo no topo do estádio e voltando ao gramado. O canto da torcida rival vai bater e se dissipar.

Vestiário conta com arquibancada, que pode ser usada por familiares de jogadores ou sócios-torcedores Foto: Ricardo Magatti/Estadão

“Na torcida adversária, o som é menor. Existe uma lã de vidro, colocamos mais lã lá (no setor em que ficam os visitantes)”, explica Farkasvolgyi. Esse material funciona como uma barreira de som. Quanto maior a quantidade de lã, menos o som voltará para o campo. Além disso, foram instaladas caixas de reverberação apenas onde ficam os atleticanos, não no setor dos torcedores rivais.

O ambiente para os adversários também será hostil devido à curta distância entre as arquibancadas e o gramado. Nas laterais, é de oito metros e, atrás dos gols, de dez metros, medidas mínimas exigidas pela Fifa e pela Conmebol nos dois casos.

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Nos vestiários, há outra singularidade. Foi construída uma pequena arquibancada com 28 assentos na área onde os jogadores realizam o aquecimento. O plano do clube é investir em ações de marketing com sócios-torcedores, que serão contemplados com a experiência de ver de perto os atletas momentos antes da partida. O espaço também poderá receber, segundo o clube, familiares dos jogadores.

Wi-Fi que funciona

Com a promessa de ser “o estádio mais tecnológico da América Latina”, a Arena MRV dispõe de dois telões com 144m² cada, 600 painéis de led e o acesso será feito por reconhecimento facial, como acontece no Allianz Parque - esse processo será gradual. A conectividade, garante Muzzi, será uma das virtudes da arena. Existem 800 pontos de acesso para Wi-Fi de “alta densidade”.

Estádio do Atlético terá grama artificial no futuro Foto: Ricardo Magatti/Estadão

“São equipamentos de Wi-Fi geração 3, que é a última, de alta densidade, para permitir que as pessoas possam fazer upload e download”, ressalta o CEO atleticano, prometendo o que não se tem na maioria dos estádios brasileiros, mesmo os mais modernos: internet de alta velocidade. A fim de conseguir novas fontes de renda, o clube busca explorar comercialmente o uso das redes sem fio em seu estádio.

“De fato, vamos ter uma arena em que você consegue ligar seu celular e usar o Wi-Fi. Posso arriscar a dizer que no Brasil é a mais tecnológica”, diz o arquiteto.

Primeiro jogo oficial

Ainda não há uma data definida para a primeira partida oficial da Arena MRV, mas os dirigentes do clube acreditam que será o duelo com o Santos, no dia 23 deste mês, pela 21ª rodada do Brasileirão, a primeira do segundo turno. A agremiação, porém, trabalha para que essa data seja antecipada para jogo com o Bahia, já no dia 13.

O projeto de lei que permitirá a inauguração da arena ainda tem de ser votado na Câmara de Belo Horizonte. A previsão é de que o texto seja apreciado em segundo turno na terceira semana de agosto. “O que atrasou foi lá atrás. As coisas andaram como esperado agora”, considera Muzzi, citando os desentendimentos com a prefeitura referentes às licenças para a obra. Segundo o CEO atleticano, atualmente, o diálogo com a gestão municipal está “super em linha”.

Certo é que a partida oficial inaugural do estádio não será realizada com capacidade máxima de torcedores. Serão liberados 30 mil torcedores para o evento. No “Jogo das Lendas”, 20 mil atleticanos puderam estar na arena.

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Acesso à Arena MRV será feito por reconhecimento facial Foto: Ricardo Magatti/Estadão

Sustentabilidade

O Atlético diz que a sua arena é, também, a mais sustentável do Brasil. No terreno ao lado existe uma reserva ecológica de mata atlântica preservada de 26 mil metros quadrados, com duas nascentes que foram recuperadas. O clube se comprometeu a plantar 46 mil árvores em parques da cidade, uma para cada assento do estádio, num período de dez anos.

“Sustentabilidade, hoje, deixou de ser um capricho, é uma exigência”, declara Farkasvolgyi. “Fizemos tudo que podíamos, desde o tratamento com as nascentes. As nascentes estavam assoreadas, hoje você vê a água. Recuperamos a mata. É a única arena do mundo que tem uma mata atlântica em seu entorno”, acrescenta, Segundo o profissional, as lâmpadas de LED e o reaproveitamento de água pluvial para os vasos sanitários são outros exemplos de sustentabilidade.

*O repórter viajou a convite do Atlético Mineiro

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