Torcedor do Flamengo acusado de atirar garrafa e matar palmeirense é indiciado por homicídio doloso

Polícia Civil usa reconhecimento facial para identificar outros envolvidos na briga que resultou na morte da torcedora Gabriela Anelli

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Foto do author Ricardo Magatti
Atualização:

Leonardo Felipe Xavier Santiago, de 26 anos, torcedor do Flamengo preso em flagrante acusado de atirar a garrafa que atingiu e matou a palmeirense Gabriela Anelli, de 23, teve a prisão preventiva decretada pela Justiça nesta segunda-feira, dia 10, e vai responder por homicídio doloso, quando há a intenção de matar.

Cesar Saad, titular da Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade), afirmou que o flamenguista confessou, em conversa informal com os policiais, que atirou a garrafa de vidro. Segundo o delegado, o flamenguista contou não ter mirado na palmeirense, mas ele assumiu o risco ao jogar propositalmente o objeto no local em que estavam torcedores do rivais do Palmeiras. O estilhaço da garrafa atingiu a veia jugular e a glândula tireoide da palmeirense.

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“As provas testemunhais descrevem até a roupa que ele estava usando. Na delegacia ele confessou que jogou a garrafa. Todas as testemunhas que estavam lá, que também foram atingidas por garrafas, apontaram ele como autor”, declarou o delegado da Polícia Civil.

“Com certeza, ele pegará uma pena bastante alta. É um crime com qualificadora. Vai aumentar a pena dele o fato de matar alguém com uma garrafada. É crime de motivo fútil”, detalhou.

No entanto, de acordo com o g1, em depoimento oficial no interrogatório na delegacia, Leonardo deu outra versão. Ele disse que palmeirenses jogaram rojões em direção à torcida do Flamengo e que. como revide, lançou pedras de gelo, “mas essas eram muito pequenas e sequer atingiram a barreira”.

Leonardo é do Rio e ex-membro de uma organizada do clube, a Fla Manguaça, mas não veio a São Paulo com integrantes de uniformizadas. Ele não tinha passagem pela polícia. O flamenguista foi preso em flagrante após o ocorrido, passou por audiência de custódia e teve sua prisão convertida em preventiva depois de confirmada a morte da jovem torcedora do Palmeiras na manhã desta segunda.

Gabriela Anelli foi morta por estilhaço de garrafa arremessada por torcedor do Flamengo Foto: Reprodução/Instagram @femarchiano

O crime aconteceu por volta das 17h45 do último sábado, 8, isto é, mais de três horas antes do início do jogo entre Palmeiras e Flamengo, na rua Padre Antônio Tomas, entre os portões C e D, este que dá acesso aos torcedores visitantes. Havia uma proteção de metal para separar os flamenguistas dos palmeirenses, mas ela não foi suficiente para evitar a morte da torcedora. Uma outra pessoa também foi ferida pelos estilhaços de vidro.

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Segundo a Polícia Civil, Leonardo Felipe atirou a garrafa no momento em que a divisória de metal que separava a torcida local e visitante foi aberta próxima ao portão D para que passasse uma viatura da Guarda Civil Metropolitana.

“Naquela divisória, passam-se, além de xingamentos, torcedores arremessando garrafas. Rapidamente dá para ver que a Gabriela cai no chão, depois fomos entender que ela foi atingida por um estilhaço”, disse Saad. “O portão estava com uma parte aberta, e foi possível identificar o autor do arremesso da garrafa”.

Um outro torcedor do Palmeiras, Carlos Vanderlei Inácio de Oliveira, que estava com Gabriela, também se feriu em razão dos estilhaços, mas ele sofreu apenas corte no antebraço direito.

O delegado esclareceu que a briga que resultou na morte da jovem palmeirense não teve envolvimento de membros de torcidas organizadas de Palmeiras e Flamengo. Também deixou claro que essa confusão na rua Padre Antônio Tomas não tem relação com a briga que ocorreu horas depois, na rua Caraíbas, próximo do portão A da arena palmeirense.

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Esse segundo conflito obrigou o árbitro a paralisar a partida duas vezes em razão do gás de pimenta usado pela polícia para conter a briga. A substância irritou os olhos dos jogadores e torcedores dentro do estádio. A PM também fez uso de bombas de efeito moral para dispersar o confronto.

A Polícia Civil trabalha, agora, para conseguir imagens que registram o exato momento em que a garrafa é atirada, e também busca identificar outros envolvidos na confusão. “A gente vai trabalhar para identificar, por meio do reconhecimento facial, outros torcedores que estavam envolvidos também nessa briga”, declarou o delegado.

Gabriela foi socorrida no posto de atendimento do Allianz Parque. Ao ser constatada a gravidade dos ferimentos, ela foi encaminhada à Santa Casa, onde ficou internada e passou por cirurgia. A palmeirense teve duas paradas cardíacas, ficou em coma induzido e morreu na madrugada desta segunda-feira.

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O irmão de Gabriela, Felipe Anelli, confirmou a morte da palmeirense em uma publicação nas redes sociais. “Sei o quanto você lutou cada segundo. Você foi de fato uma guerreira. Olhe por nós do céu e proteja nossa família”, escreveu.

O pai de Gabriel, Ettore Marchiano Neto, e a mãe, Dilcelene Prado Anelli dos Santos, estiveram na delegacia na manhã desta segunda. Eles contaram que a filha era apaixonada pelo Palmeiras, tanto que era integrante da principal organizada do clube, a Mancha Alvi Verde.

O avô da palmeirense, Luiz Henrique Nery, espera Justiça, mas não tem ódio do suspeito de matar a sua neta. “Não estou aqui para profetizar ódio contra ninguém. Justiça sim, ódio não. Nunca. Afinal de contas ele também é ser humano, mesmo com um ato desumano”, salientou. “Eu peço para as torcidas organizadas: vão se divertir, vão curtir o seu time. Agora, violência? Pra quê? O mundo já está tão cheio de violência”.

Os familiares da torcedora chegaram a fazer uma campanha na redes por doações de sangue para ajudá-la. Palmeiras e seus três maiores rivais de São Paulo lamentaram “profundamente” a morte da jovem e pediram o fim da impunidade e da violência no futebol.

O Ministério do Esporte, por meio da Secretária Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor, informou que está dialogando com o movimento das torcidas organizadas e coletivos de torcedores brasileiros desde o início da gestão de Ana Moser e reforçou que “atos de violência envolvendo torcedores (organizados ou não) devem ter os envolvidos identificados, punidos e os responsáveis devem ser retirados do espetáculo esportivo que é o futebol”.

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