O futebol brasileiro tem três casos de irresponsabilidade durante a pandemia em um dos piores momentos da doença no País. O último deles ocorreu nesta semana e envolveu um jogador do Palmeiras, Luiz Adriano, pego num shopping de São Paulo com a mãe quando deveria estar em isolamento total em sua casa porque testou positivo para a covid-19. Pior. Na saída para um mercado, atropelou um ciclista e teve de se expor ainda mais, com plateia e torcedores pedindo autógrafos. Tudo o que os protocolos de saúde dos clubes e do futebol tentam evitar há um ano.
O Palmeiras informa que tem orientado seu elenco e staff a seguir rigorosamente todos os protocolos contra a covid-19. O Brasil tem sido recordista em número de óbitos diários, como as 3.733 vidas perdidas nas últimas 24 horas de acordo com o consórcio dos veiculos de comunicação do qual o Estadão faz parte. O País já perdeu para a doença 341 mil pessoas. O jogador do Palmeiras pediu desculpas, se explicou e acatou a punição imposta pelo clube: pagamento de cestas básicas para a comunidade.
Sua saída para levar a mãe ao mercado acontece na semana em que a Federação Paulista de Futebol tenta negociar a volta dos jogos no Estado. "Fui orientado a ficar em casa de quarentena sob o acompanhamento do DM (departamento médico), porém fui ao supermercado do shopping levar minha mãe que não sabe dirigir, sem sair de dentro do carro e de máscara, mas acabei me envolvendo em um acidente em que uma bicicleta bateu no carro na saída do estacionamento."
Muitos jogadores já foram contaminados, mas poucos sentiram os sintomas. Estudo recente conduzido pela Universidade de São Paulo (USP) revela que a incidência de infecção pelo novo coronavírus entre os atletas do futebol de São Paulo, vínculados à Federação Paulista de Futebol (FPF), durante a temporada de 2020 foi de 11,7% – um índice equivalente ao de profissionais de saúde que atuam na linha de frente do combate à pandemia. Mas Luiz Adriano não foi o único a quebrar os protocolos e a jogar contra o futebol.
Gabigol, do Flamengo, também abusou nas férias após o término da temporada 2020 ao "jantar" com amigos num cassino clandestino em São Paulo onde estavam 150 pessoas jogando e se divertindo. O episódio ocorreu quando o Brasil lamentava crescimento do número de mortes por covid-19, falta de oxigênio em hospitais e UTIs lotadas.
Gabigol pediu desculpas numa entrevista para a TV Globo, no mesmo tom de Luiz Adriano nesta semana. Tentou se explicar. Tomou um puxão de orelha no clube do Rio, vai responder a processo na Justiça e voltou a treinar.
"Não tenho costume de ir a cassinos, a única coisa que jogo é videogame. Estava com meus amigos, fomos comer. Quando estava indo embora, a polícia chegou mandando todo mundo ir para o chão. Faltou sensibilidade da minha parte. Era meu último dia de férias, e estava feliz de estar com meus amigos. Faltou sensibilidade. Mas usei máscara, álcool em gel... Quando percebi que tinha um pouquinho mais de gente, estava indo embora", disse o jogador.
Outros dois jogadores, esses do Corinthians, Otero e Jô, também postaram fotos pessoais em dias de descanso em um resort. Ótimos para tempos normais, mas pouco recomendado em meio à pandemia. O Corinthians era refém da doença naquela semana, com surtos e ausências devido ao vírus. Nas fotos ninguém usava máscara. O clube tinha 14 atletas afastados por causa ada doença. Para voltar com o futebol em São Paulo, vetado até o dia 11 deste mês, a Federação e o Ministério Público fazem uma releitura dos protocolos de saúde, com mais vigor e cobrando mais a participação e a responsabilidade dos atletas, para que possam dar exemplos positivos.
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