A Copa do Mundo da Rússia em 2018 foi frustrante para a seleção espanhola, que viu seu favoritismo despencar ao trocar de treinador às vésperas da estreia e encerrou um ciclo de uma geração vitoriosa, liderada especialmente por Andrés Iniesta, Gerard Piqué e Sergio Ramos. Para o Mundial do Catar, a trajetória sofreu turbulências em seu comando técnico, mas despertou uma renovação cujos expoentes são os Golden Boys Pedri e Gavi. Os espanhóis são os primeiros personagens da série ‘Futuro da Copa’, em que o Estadão apresenta nomes que vão estar nesta Copa e em algumas outras ainda.
Ao ser eliminada nas oitavas de final para o país sede do último Mundial, a Espanha escolheu o ex-treinador do Barcelona Luis Enrique como seu novo líder. O trabalho foi interrompido por cerca de três meses em 2019. O técnico decidiu se dedicar ao tratamento de sua filha Xana, de 9 anos, que acabou não resistindo a um tumor ósseo. Quando retornou ao cargo, Luis Enrique destituiu o auxiliar e substituto Robert Moreno, a quem chamou de desleal, apontando “ambição desmedida” pela intenção de devolver o cargo somente após a disputa da Eurocopa.
O asturiano Luis Enrique começou como treinador nas categorias de base do Barcelona. Sua intimidade com a formação de atletas é um trunfo para a seleção espanhola. Substituto de Pep Guardiola na equipe profissional catalã, fomentou o uso de jovens na equipe principal, tornando realidade a “fábrica de sonhos” das “canteras” do clube. Os jovens Pedri e Gavi são mais uma comprovação da preferência do comandante.
Pedri foi revelado pelo Las Palmas, das Ilhas Canárias. Seu bom desempenho despertou a atenção do Barcelona, que o contratou em 2019 por 5 milhões de euros, quando o atleta tinha apenas 16 anos. Na seleção espanhola, atuou pelo sub-17 e sub-21 e foi convocado para o time principal pela primeira vez em março de 2021. Sua estreia foi diante da Grécia, pelas Eliminatórias da Copa.
Meio-campo, Pedri costuma jogar mais pela esquerda e tem nos passes e assistências seus pontos fortes. Medalhista de prata nos Jogos Olímpicos de Tóquio, o atleta soma 14 partidas pela seleção espanhola. Ainda não marcou gols, mas foi titular em dez jogos. Sua condição de titularidade, porém, não é certa.
“Pedri está destinado a ser o líder medular do time de Luis Enrique. Ele demonstra grande maturidade em campo e reúne condições únicas: duelo de um contra um, visão de jogo e facilidade para apoiar seus companheiros”, avalia Antía Aguado, repórter do jornal espanhol La Voz de Galicia.
Com sua sinceridade contumaz, o técnico Luis Enrique pode parecer reticente com Pedri, mas valoriza a formação humana do atleta. “A primeira vez que vi Pedri foi em um aplicativo que temos para treinadores. Eu olhei os seus jogos e alguns cortes de jogadas individuais que fazia. Dava para ver que era especial”, iniciou o treinador.
O que Pedri tem de melhorar? Tudo. Ele pode ser melhor em tudo, tem capacidade e talento para atacar e defender. Tem a mentalidade adequada para melhorar em tudo. Pedri tem apoio de uma ótima família, com valores importantíssimos. Conforme for crescendo, vai cometer erros como todos cometem, mas terá de aceitá-los e aprender com eles.
Luis Enrique, técnico da seleção espanhola
Gavi tem 18 anos e é natural da Andaluzia, por isso, depois de passar por um pequeno time de sua cidade, foi para as categorias de base do Betis. Gavi é um apelido, que encurta seu último sobrenome, Gavira. Seu nome completo é Pablo Martín Páez Gavira. Ele chegou ao Barcelona com 11 anos, em 2015. Assumiu um posto no time profissional no início da temporada 2021-2022.
“Gavi foi outra das grandes revelações do futebol espanhol. Ele passou em poucos de meses de estrear com o Barcelona a jogar pela seleção. Será um recurso importante para o treinador, mas terá concorrência para conquistar o posto de titular. Como meia, ele aporta fluidez ao jogo coletivo graças à sua capacidade de condução de bola e triangulação (jogo apoiado)”, avalia o espanhol Carlos Peralta, repórter do jornal La Voz de Galicia.
A estreia de Gavi na seleção espanhola foi em outubro de 2021, na Liga das Nações da Uefa, em duelo com a Itália pela semifinal. Tornou-se o mais jovem a vestir a camisa da seleção principal na história. Apesar de ser meio-campista como Pedri, não é um concorrente direto. Gavi costuma se dar melhor atuando pelo lado direito do campo, compondo o tripé de meias em outro setor. Pela seleção espanhola, são 12 partidas (nove como titular), com um gol marcado.
“Já falamos que (Gavi) é um caso nada normal. É o futuro e presente da seleção”, analisou Luis Enrique logo após a estreia do jogador na seleção. Mais recentemente, o treinador voltou a avaliá-lo positivamente, sem garantir sua titularidade.
Titular indiscutível (Gavi) não é. Com Gavi tenho uma sensação, talvez por conhecê-lo há muitos anos, que ainda é um desconhecido no futebol espanhol, inclusive para muita gente que está próxima a ele. Não é um jogador que apenas corre e luta e que a nível defensivo é top. Suas qualidades ofensivas e com a bola também são especiais. É um meia interior puro, capaz de aparecer entre as linhas, se perfilar para atacar a linha defensiva, dar o último passe e marcar gols. Ele chuta com as duas pernas, cabeceia e tem um poderio físico espetacular. É um jogador único com essa idade.
Luis Enrique, técnico da seleção espanhola
Eleitos Golden Boys nos últimos dois anos pelo jornal Tuttosport e ganhadores do troféu Kopa da revista France Football, Gavi e Pedri são apontados como uma edição de vanguarda da dupla Xavi/Iniesta. Se para a Copa do Mundo do Catar parecem ser muito precoces, solidificam uma nova era na seleção espanhola.
“É comum pensar a juventude como um elemento negativo no momento de disputar jogos de tamanha importância e calibre. Mas Luis Enrique enxerga na juventude de Pedri e Gavi uma virtude, acrescentando gana, motivação, crescimento e fôlego, além de estarmos tratando de dois jogadores extraclasse. Assim como foram Xavi e Iniesta, ambos são o presente do meio-campo espanhol e, seguramente, estão destinados a marcar uma nova etapa na seleção”, prevê Antonio Panal, comentarista da rádio Cadena Cope de Sevilha.
A Espanha, de Pedri e Gavi, está no Grupo E. A estreia acontece no dia 23 de novembro, às 13h, diante da Costa Rica. O segundo duelo é com a Alemanha, no dia 27, às 16h. A seleção espanhola encerra sua participação na fase de grupos em 1º de dezembro, às 16h, diante do Japão.
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