O Ministério Público de São Paulo não encontrou provas para manter preso o torcedor flamenguista Leonardo Felipe Xavier Santiago, de 26 anos, acusado de matar a palmeirense Gabriela Anelli, e pediu sua liberdade nesta quarta-feira. O MP alega “fragilidade de prova”. Preso desde a segunda-feira, quando a menina morreu, e indiciado por homicídio doloso, Leonardo Santiago responderá as investigações em liberdade, após juíza Marcela Raia de Sant’Anna, da 5ª Vara do Júri de São Paulo, acolher a solicitação do MP.
Ele foi acusado de atirar uma garrafa na direção da torcida palmeirense antes do jogo contra o Flamengo, no sábado. O objeto cortou seu pescoço, ela ficou internada por dois dias e morreu na segunda-feira. De acordo com o MP e o promotor Rogério Leão Zagallo, as provas da investigação não indicam que o torcedor teria sido o responsável por atirar a garrafa que resultou na morte de Gabriela. Ao Estadão, o advogado Renan Bohus, responsável pela defesa de Santiago, cita que a manifestação ocorre após um entendimento do órgão sobre a “fragilidade das provas”.
“Além da inexistência da confissão anunciada pelo Delegado de Polícia César Saad, as imagens que aportaram nesta Promotoria de Justiça evidenciam a necessidade de que a investigação prossiga”, afirma a decisão do promotor. “Ficou mais do que provado que tinham outras pessoas ‘tacando’ garrafa. Uma destas pessoas, inclusive, tinha barba. E o Leonardo Santiago não tem barba. Isso é possível ver no vídeos”, explica o advogado à reportagem. “O MP entende que é possível identificar a identidade dessas pessoas (que arremessaram os objetos) para, enfim, pedir a prisão preventiva.”
O pedido da MP será analisado ainda nesta quarta-feira pelo juiz do caso. O promotor fez críticas à atuação do delegado César Saad, que chegou a declarar que o torcedor do Flamengo assumiu ter atirado a garrafa que matou Gabriela Anelli. Em vídeos, obtidos pelo MP, um dos suspeitos pela morte da torcedora usava uma blusa de cor cinza; Santiago foi preso com uma camisa do Flamengo.
O pedido do MP não faz com que Leonardo Santiago deixe de ser investigado no crime. Em depoimento, ele afirmou que atirou cubos de gelo em direção à torcida palmeirense. Para o promotor, a fala de Saad, em que afirma que o acusado admitiu que arremessou a garrafa, seria uma inverdade.
Bohus ainda explica que a defesa desistiu do pedido de habeas corpus, feito pela defensoria pública, já que estava amparado na primariedade de Santiago. A ideia seria consumar esse pedido com base na fragilidade das provas, conforme explica o advogado. Caso o magistrado aceite a decisão do MP, o pedido não será protocolado, já que o torcedor já responderá ao processo em liberdade.
O que diz o parecer do MP
Além da fragilidade das provas, já descritas pela defesa de Leonardo Santiago, o órgão criticou a atuação do advogado Saad, da Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade), que assumiu o caso na segunda-feira, dois dias após o incidente. O documento, obtido pelo Estadão, cita especificamente a não-similaridade de Santiago com o torcedor, de blusa cinza, que teria acertado Gabriela com a garrafa.
“Ainda cotejando essas imagens captadas por quem estava no chão com aquelas apreendidas por quem estava no apartamento, podemos concluir que Gabriela Anelli foi atingida exatamente no momento que o torcedor que ornava o rosto com barba e que vestia camisa cinza, arremessou a garrafa que ele apanhara no chão”, explicita o promotor. “Ele trajava a camisa do time para o qual torcia, a qual apresenta as tradicionais cores preta e vermelha. Essa camisa é notoriamente diferente daquela que o outro torcedor usava (cinza).”
Ao afirmar que Santiago teria admitido que atirou a garrafa na direção da torcida palmeirense, além de ser uma “inverdade”, o MP destaca a “inexistência da confissão” no depoimento do torcedor preso. “Esse fato praticado por uma autoridade pública é assaz grave e censurável, pois, além de tipificar uma falácia, tem o poder de gerar falsas expectativas nos familiares de Gabriela, fazendo-os acreditar que a pessoa que assassinou o ente querido teria admitido o erro cometido e que sua justa e correta punição não tardará a materializar-se”, ressalta.
Ao passar o caso para o DHPP, a promotoria destaca a “postura estranha” de Saad perante a imprensa como justificativa para essa mudança. Anteriormente, o Drade era responsável pela condução da investigação.
O caso
O crime aconteceu por volta das 17h45 do último sábado, dia 8, mais de três horas antes do início do jogo entre Palmeiras e Flamengo, na rua Padre Antônio Tomás, entre os portões C e D - o D é o que dá acesso aos torcedores visitantes. Havia uma proteção de metal para separar os flamenguistas dos palmeirenses, mas ela não foi suficiente para evitar a morte da torcedora. Uma outra pessoa também foi ferida pelos estilhaços de vidro.
Gabriela foi socorrida no posto de atendimento do Allianz. Ao ser constatada a gravidade dos ferimentos, ela foi encaminhada à Santa Casa, onde ficou internada e passou por cirurgia. A palmeirense teve duas paradas cardiorrespiratórias, ficou em coma induzido e morreu na madrugada de segunda-feira.
O corpo de Gabriela Anelli Marchiano foi velado e enterrado nesta terça-feira, dia 11. O velório no cemitério Memorial Parque Paulista, em Embu das Artes, na região metropolitana de São Paulo, começou às 6h e o corpo foi sepultado perto das 13h. A primeira parte da cerimônia foi reservada a amigos e familiares. Houve homenagens da Mancha Alvi Verde e o hino do Palmeiras foi entoado pelos presentes.
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