Goleiros roubam o show no Mundial apesar de enxurrada de gols

Os torcedores de todo o mundo têm comemorado a grande quantidade de gols na Copa do Mundo no Brasil, mas são os goleiros, e não os atacantes, quem têm merecido mais manchetes no torneio durante a fase de mata-mata. Em um Mundial que bem antes das quartas de final já tinha ultrapassado e muito os 145 gols da Copa da África do Sul em 2010, os goleiros têm roubado o show com uma série de desempenhos brilhantes. Um indício de sua qualidade é o fato de que, quando a Argélia perdeu de 2 x 1 para a Alemanha na prorrogação, o goleiro argelino Rais Mbolhi foi eleito o jogador da partida, apesar da eliminação de sua seleção. Até a Alemanha marcar seu primeiro gol no início do tempo extra, ele deteve sozinho os tricampeões, frustrando seus ataques com defesas soberbas que deram esperanças aos norte-africanos até o fim. No mesmo jogo, o alemão Manuel Neuer deu uma aula de goleiro, saindo da área em boa parte do jogo para anular o perigo quando sua zaga era pega desprevenida. Neuer minimizou seu desempenho depois da partida. “Sempre jogo assim, inclusive no Bayern de Munique”. Mas analisando seu posicionamento durante o jogo, Neuer, que já atuou na linha quando jovem e participa do bate-bola nos treinos, atuou bastante fora da área. Ele chegou a alcançar 22,4 quilômetros por hora quando disparou para deter um atacante argelino. Por isso não foi surpresa que, nas oitavas de final, cinco dos melhores jogadores em campo foram goleiros.

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Por Redação
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JOVENS TALENTOS Tirando Neuer, alguns dos pesos-pesados da Copa não cumpriram com as expectativas, como Iker Casillas, da Espanha, e Igor Akinfeev, da Rússia. Ao invés disso, foram nomes menos conhecidos que roubaram o show --como o goleiro mexicano Guillermo Ochoa, atualmente sem clube, que frustrou o anfitrião Brasil no empate sem gols que ajudou sua seleção a chegar à fase eliminatória. Na sequência, Ochoa conteve os holandeses repetidas vezes até sofrer dois gols nos minutos finais, mas ainda assim brilhou o suficiente para ser eleito o melhor jogador em campo nos dois confrontos. Keylor Navas, da Costa Rica, lidou ainda melhor com a pressão da Grécia nas oitavas, fazendo tudo certo durante quase uma hora quando seu time estava reduzido a dez homens. Ele mostrou o valor novamente na prorrogação, quando os gregos partiram para o ataque como se sentissem que, se fossem para os pênaltis, Navas faria sua parte mais uma vez. Foi exatamente o que ele fez, salvando uma cobrança e levando os centro-americanos para as oitavas, e até recebendo elogios dos gregos. Navas, que joga no espanhol Levante mas agora está sendo cortejado por grandes clubes, tem vários truques na manga. Um deles é defender bolas de tênis atiradas contra seu gol a 160 quilômetros por hora pelo tenista Pablo Andujar, da equipe espanhola na Copa Davis, de uma distância de 20 metros para melhorar os reflexos. O goleiro dos Estados Unidos, Tim Howard, também foi coberto de elogios por deter 16 ataques da Bélgica antes de sua seleção ceder à pressão dos europeus. Ele foi a única razão de seu time ir para a prorrogação antes de perder de 2 x 1, e os belgas o cumprimentaram com abraços e tapas nas costas no final do embate. Foi o maior número de grandes defesas em uma Copa do Mundo desde 1966, de acordo com a Fifa.

SEM OSCILAÇÕES  Dois dos motivos para o desempenho exemplar dos goleiros sem dúvida são a baixa altitude em comparação à África do Sul e a pouca oscilação da bola, especialmente em chutes de longa distância. No torneio de 2010, os goleiros já se queixavam antes do início da competição de que a bola oficial, aliada à alta altitude, tornava quase impossível prever a trajetória da bola. Outra razão óbvia é que as defesas neste Mundial são muito mais abertas e o vaivém é maior durante o jogo. As zagas de Itália e Alemanha são uma pálida sombra de suas linhas defensivas quase impenetráveis do passado. O esquema tiki-taka da Espanha, que envolve muita posse de bola e reduz drasticamente o ritmo de jogo, também está saindo de moda, fazendo com que o jogo mais aberto visto no Brasil pareça uma corrida de Fórmula Um quando comparado ao da Copa de quatro anos atrás. Mesmo o brasileiro Júlio Cesar, ovelha negra de 2010, virou herói. O goleiro, crucificado depois dos erros que levaram à eliminação da seleção diante da Holanda, fez defesas contra o Chile na cobrança de pênaltis das oitavas de final que definiram o resultado e a passagem para a fase seguinte.

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