Gols, visual e carisma: como imagem de Endrick é construída para ele ser ídolo nacional

Fenômeno nos gramados e fora deles, jogador do Palmeiras tem gestão de carreira inspirada em Cristiano Ronaldo e Roger Federer

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Foto do author Ricardo Magatti
Atualização:

Gols, maturidade incomum para a sua idade, carisma, atenção aos fãs, vestimentas com estilo clássico que remetem a décadas passadas e um estereótipo que se afasta da maioria dos “boleiros”. Convocado pela primeira vez para defender a seleção brasileira, Endrick é um jovem fenômeno dentro e fora das linhas com a reunião de elementos que conquistam torcedores - não só os do Palmeiras.

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Endrick é conhecido e acompanhado ao menos desde seus 11 anos, quando começou a impressionar a todos na base do Palmeiras. Por isso, sua imagem também é construída desde cedo. Há duas empresas que cuidam dos passos do jogador fora de campo: a Roc Nation, agência de entretenimento norte-americana comandada pelo cantor Jay-Z e a Wolff Sports.

Existem cuidados, nessa construção da imagem de Endrick, desde sua formação, pensando na idolatria que pode alcançar com o torcedor brasileiro. Daí o motivo de o atleta se recusar a provocar rivais. Ele procura não se envolver em discussões em campo e evita as controvérsias. Também diz não gostar de festas e balada.

“Para ser sincero, eu odeio sair. Odeio ir para festa, balada. Eu gosto mais de restaurante, comer, sabe? Gosto mais de fazer coisas com a minha família”, disse em entrevista recente à TNT Sports o atleta mais novo a ser convocado pela seleção brasileira desde Ronaldo.

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Endrick faz seus primeiros treinos com a seleção brasileira Foto: Pedro Kirilos/Estadão

O planejamento estratégico desenhado para Endrick foi inspirado em três gigantes do tênis e um do futebol: Roger Federer, Rafael Nadal e Cristiano Ronaldo. Os três são usados como exemplos de valorização ao esporte, respeito aos adversários e comportamento discreto.

O publicitário Fábio Wolff é responsável pelo contratos comerciais do jogador. A empresa passou a representar o atleta em fevereiro de 2022, quando Endrick ainda tinha 15 anos.

A ideia de Wolff não é fechar patrocínios em profusão, mas ter poucos e bons parceiros, que agreguem valor e tenham ligação de fato com o jovem. As marcas que patrocinam o palmeirense hoje são New Balance, OdontoCompany e Rei do Pitaco. Ele recusou propostas da Nike, Adidas e Puma para fechar com a fornecedora esportiva britânica por causa do tratamento que lhe foi prometido. A promessa é de que seja a grande estrela mundial da marca.

Como Neymar no começo de sua carreira, Endrick tem uma legião de seguidores nas redes sociais e é querido por torcedores de outros times além do Palmeiras, incluindo crianças, o que fica claro a cada partida. Contra o Flamengo, por exemplo, dezenas de flamenguistas pediram para tirar foto com jogador. Ele atendeu gentilmente aos pedidos no Maracanã e trocou sua camisa com o centroavante Pedro.

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“O talento do Endrick desperta a atenção e a admiração de outras torcidas e isso pode ser visto desde a base até os jogos do time profissional. Isso ocorre muito em razão da reciprocidade com a atenção e respeito que ele tem pelas outras torcidas e clubes. É dele, é da paixão que ele tem pelo futebol e da educação que teve em casa, sempre deixando claro tudo o que o Palmeiras fez e continua fazendo por ele”, afirma Wolff ao Estadão.

Endrick é o jogador do Palmeiras com mais seguidores nas redes sociais. Só no Instagram, amealha mais de 4 milhões. Nos últimos dias, ele ultrapassou a marca de 6 milhões de seguidores nas mídias digitais. Com apenas 17 anos, virou um dos atletas brasileiros que mais obteve esse crescimento.

Quase 70% deste montante foi conquistado nos últimos 12 meses, desde a estreia dele pelo Palmeiras em 6 de outubro de 2022, na vitória de 4 a 0 sobre o Coritiba, no Allianz Parque.

“Nós temos consciência de que nessa esfera as mudanças são contínuas, e que a repercussão de tudo é imediata. Por isso procuramos sempre validar nossas impressões com profissionais especializados, sem nunca ‘adestrar’ ou reprimir as individualidades de cada um. Estamos falando de um cenário muito diferente do que existia antes da criação das redes sociais”, analisa Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil.

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Endrick se apresentou à seleção brasileira em Teresópolis com roupa de grife italiana Foto: Joilson Marconne/ CBF

Visual inspirado em Pelé?

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Endrick se apresentou à seleção brasileira na Granja Comary, em Teresópolis, com um visual incansavelmente replicado nas redes sociais. Muitos entenderam ser uma estratégia para emular Pelé, já que as vestimentas tinham um estilo clássico, retrô, que remetia à década de 1960.

O Estadão apurou que a escolha das roupas não tem qualquer relação com o maior jogador de todos os tempos. Todos os movimentos de Endrick fora dos gramados são estudados, avaliados e planejados, há conselho sobre publicações nas redes sociais e orientações, mas Endrick não é um profissional “adestrado”, logo tem autonomia para fazer suas escolhas. E foi isso que aconteceu quanto às marcas que usa.

Havia uma dúvida se ele se apresentaria à seleção com terno ou esporte social. Em conversa num almoço de família junto com a mãe, Cintia, e o pai, Douglas, Endrick avisou que iria usar um traje esporte fino da Gucci, que é a marca preferida do atleta ao lado de outra grife de luxo, a também italiana Dolce & Gabanna. Não houve parceria com a grife. Ele gastou de seu bolso os cerca de R$ 41 mil em todo o traje, incluindo a mala e a mochila.

Endrick com Fernando Diniz, que acredita que o jovem pode ser um jogador 'lendário' Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Maturidade incomum

Não existe o temor de que Endrick faça bobagens porque o garoto é bem orientado e próximo de sua família. A força mental e a maturidade do jovem são proporcionais ao seu talento. O pai diz que se surpreende com a postura do filho diante da nova vida de estrela que leva.

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“O Endrick parece que está mais preparado do que eu e minha mulher. Tem a cabeça muito boa, é um garoto muito tranquilo. Gosta de jogar videogame dele, de curtir o irmão, ficar com a família e a namorada. Sabe levar da melhor forma possível”, contou ao Estadão no ano passado o pai de Endrick, Douglas Ramos.

“Ele surpreende a gente a cada dia que passa. É um menino maduro, consciente. As declarações que ele dá não somos nós que orientamos. Ele responde às perguntas da maneira que acha ser melhor”.

Para Fernando Diniz, o técnico responsável pela convocação de Endrick para a seleção brasileira, o garoto do Palmeiras pode se tornar um jogador “lendário”, como Ronaldo, graças ao seu “potencial gigantesco”. “É um jogador muito especial, com a idade que tem conseguir produzir o que já produz, abre uma margem para projetar um futuro brilhante. Vem pelo mérito que tem e pelo enorme potencial futuro”.

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