Grupo DIS afirma ter provas de corrupção na ida de Neymar do Santos ao Barcelona; entenda o caso

Atualmente no Paris Saint-Germain, jogador brasileiro será julgado nesta segunda-feira por causa de transferências em 2013 e pode até ficar fora da Copa do Mundo do Catar se for condenado

PUBLICIDADE

Por Antonio Vessani
Atualização:

Neymar enfrenta uma das principais decisões de sua carreira nesta segunda-feira, dia 17, em Barcelona, mas desta vez o confronto será fora dos gramados, no tribunal, e o adversário é um ex-aliado, o Grupo DIS, que adquiriu 40% dos direitos econômicos do camisa 10 antes mesmo de ele se tornar profissional, lá atrás, em 2009, na Vila Belmiro.

PUBLICIDADE

A sociedade de empresários, liderada por Delcir Sonda, investiu R$ 5 milhões para comprar porcentagem do contrato de Neymar - os 60% restantes permaneceram com o Santos - e agora acusa o jogador, seus pais, o Barcelona e o próprio alvinegro da Vila Belmiro de uma manobra para não pagar o que lhe é de direito, culminando com delitos de corrupção entre particulares e fraude por contrato simulado.

“O que aconteceu, de forma clandestina, foi uma operação secreta, confidencial, que defrauda os direitos do meu cliente. Em 2011, houve o início de pagamentos, que depois chegaram a 40 milhões de euros, para o jogador e suas empresas, coordenadas pelo pai do atleta”, expõe o advogado Paulo Nasser, representante da DIS e da FAAP (Federação das Associações de Atletas Profissionais) no processo.

A lei espanhola prevê dois anos de reclusão e inabilitação profissional, além de multa em dinheiro. A DIS ainda deseja uma indenização de 25 milhões de euros (R$ 131 milhões) para cobrir seu prejuízo. Caso Neymar seja condenado, poderá perder a Copa do Mundo no Catar, marcada para começar no dia 20 de novembro ou até mesmo ter de retornar ao Brasil, por proibição de atuar na Europa.

“Os compromissos pessoais de outras partes estão fora do nosso âmbito de análise e são pouco relevantes para nós. Tanto a DIS e a FAAP quanto a promotoria espanhola pedem que sejam aplicadas as penas previstas para os alegados delitos de corrupção entre particulares e fraude por contrato simulado. Dentre essas penas estão a detenção, a pena de inabilitação profissional na União Europeia, as multas e as indenizações. Nosso cliente não quer nem mais nem menos daquilo que a lei espanhola prevê como consequência para os delitos. Não é uma questão de dinheiro, mas, sim, de justiça”, enfatiza Paulo Nasser.

Publicidade

Neymar ao lado do então presidente do Barcelona, Sandro Rosell, em sua apresentação oficial em 2013 Foto: Albert Gea / Reuters

Segundo a DIS, em 2011, poucos dias antes da final do Mundial de Clubes da Fifa, disputada entre Santos e Barcelona no Japão e vencida pelo clube espanhol, Neymar recebeu um pagamento de 10 milhões de euros (R$ 32 milhões na época) assegurando a futura transferência.

Até ela ocorrer de fato, dois anos mais tarde, em 2013, o jogador e sua família, por meio da N&N Consultoria, teriam recebido mais 30 milhões de euros. Assim, a livre concorrência estaria comprometida. O Real Madrid, por exemplo, chegou a oferecer o valor de 55 milhões de euros ao Santos. Proposta recusada. O Barcelona, que havia oferecido 45 milhões de euros anteriormente, passou a negociar diretamente com o jogador e firmou o tal pré-contrato citado. Caso Neymar desistisse da ida ao clube catalão, teria de devolver os 40 milhões de euros, tornando outra opção quase inviável.

O Santos, até então prejudicado em todo imbróglio, pois havia recebido oficialmente 17 milhões de euros pelo seu camisa 11 (R$ 49 milhões naquele momento), passou a colher compensações por meio de outros acordos. Um deles foi a prioridade na compra de três jogadores, à época na base alvinegra: Giva, Victor Andrade e Gabigol, hoje no Flamengo. Os dois primeiros deixaram o clube de graça, sem despertar o interesse do Barcelona, que desembolsou 7,9 milhões de euros somente pela preferência.

Outra quantia que chegou à Vila se deu pela não realização do segundo amistoso entre as duas equipes. Foram mais 4,5 milhões de euros nos cofres alvinegros, após dois jogos festivos estarem acordados no pacote de venda de Neymar aos catalães, mas somente um foi realizado. O primeiro jogo aconteceu no Camp Nou, em 2013, com o Troféu Joan Gamper em disputa, e terminou com o placar de 8 a 0 para os mandantes.

“E qual é a prova cabal desse pacto entre Barcelona e Santos? Descobriu-se um documento confidencial que não estava registrado perante o comitê de gestão do Santos, um documento firmado totalmente fora dos padrões normais de negociação, em que Barcelona e Santos afirmam o seguinte: ‘se a DIS, futuramente, cobrar alguma coisa a mais em relação a transferência de Neymar para o Barcelona, Santos e Barcelona dividirão igualmente o prejuízo. Então, na nossa visão, esse documento, que foi descoberto e está no processo, é um documento que comprova a intenção de Santos e Barcelona de manter a fraude viva e enganarem a DIS”, diz Nasser.

Publicidade

Com o início para esta segunda-feira, o julgamento terá de sete a oito sessões e terminará no dia 31 de outubro, encerrando o caso na Justiça espanhola. Ainda caberá recurso à Suprema Corte do país. Um acordo entre as partes antes do julgamento é improvável, segundo a parte que representa a DIS.

Estão convocados para responder ao processo tanto na esfera penal quanto na esfera cível os seguintes envolvidos: Neymar, seu pai, sua mãe Nadine, dona da empresa N&N Consultoria, que recebeu os 10 milhões de euros iniciais, o Barcelona e seus ex-presidentes Sandro Rosell e Josep Maria Bartomeu, além do Santos e seu ex-presidente Odílio Rodrigues. O Estadão procurou a defesa de Neymar, mas não obteve retorno. As outras partes envolvidas já se manifestaram em outras oportunidades e negaram qualquer irregularidade na transação.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.