O Campeonato Brasileiro de 2019 começa neste sábado para uma longa maratona de 380 partidas até dezembro, com direito a uma parada de três semanas para a realização da Copa América. A 17ª edição a ser disputada por pontos corridos vai distribuir aos seis primeiros colocados vaga na Copa Libertadores de 2020, presença na Copa Sul-Americana para quem terminar entre a 7ª e a 12ª posição, assim como vai rebaixar os quatro últimos na tabela de classificação.
A competição terá novidades, como a presença inédita do árbitro de vídeo (VAR) em todas as partidas, adoção das novas regras do futebol já a partir da primeira rodada, assim como alteração nos direitos de transmissão das partidas e a limitação nas inscrições de até 45 atletas para cada clube.
Estreante no Brasileiro, VAR promete deixar campeonato 'mais justo'
Com a expectativa de diminuir os erros de arbitragem e deixar o resultado de campo "mais justo", o Campeonato Brasileiro inicia neste sábado uma nova era: a do árbitro de vídeo, popularizado pela sigla (do inglês) VAR. A CBF enaltece a implantação do sistema e promete seu uso nos 380 jogos da competição, mas admite que a novidade ainda levará um tempo até cair no gosto de clubes e torcida. Afinal, o exemplo dos Estaduais mostrou que ainda falta muito para que o desempenho do VAR seja próximo àquele visto na Copa do Mundo do ano passado.
Utilizado nas finais dos principais regionais do País, o sistema de vídeo de fato ajudou em alguns lances, mas não impediu protestos no Rio, em Porto Alegre e Florianópolis, para ficar só em três exemplos. Na finalíssima do Carioca, o primeiro gol do Flamengo sobre o Vasco saiu de um lance que iniciou com impedimento. No Gaúcho, um pênalti marcado para o Grêmio graças a uma imagem congelada no vídeo gerou muitos protestos pelo lado do Inter. No Catarinense, o VAR foi acionado para avaliar se a bola cruzou a linha fatal em uma das penalidades cobradas pela Chapecoense, mas a imagem foi inconclusiva – e agora a Chape quer anular a partida no tribunal.
Na CBF, o discurso é de que os Estaduais ajudaram para o uso do VAR no Brasileirão. "Foram um treinamento fundamental para que a gente conseguisse ter uma melhora da nossa performance no Campeonato Brasileiro", afirma o novo presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Leonardo Gaciba. "Não podemos comparar a experiência de Copa do Mundo com a experiência dos Estaduais. Aqui estão experimentando pela primeira vez, lá tinha um quadro de árbitros de vídeo formado, eram todos especializados."
Gaciba admite que o sistema está sujeito a falhas. "O objetivo do árbitro de vídeo não é chegar a 100% de acerto. Ele tem que chegar o mais perto possível na questão da perfeição, mas perfeição não se alcança nunca", considera.
Opinião semelhante tem Sérgio Corrêa, ex-chefe da arbitragem brasileira e um dos responsáveis pela implantação do VAR no Brasil. "É claro que nós teremos dificuldades. Você não tira de um campo de futebol um cara que está trabalhando há 10, 15 anos, e coloca numa sala de tecnologia e diz 'faz aí meu jovem, resolve todos os problemas'. Isso vai demandar um tempo. É um processo, e é necessário que todos entendam."
Apesar disso, os dois estão otimistas quanto ao uso da ferramenta. "A sigla VAR passará a ser Vamos Aumentar Rendimento. A arbitragem brasileira vai aumentar seu rendimento", promete Gaciba. "O Brasil var terminar o ano como o país do mundo com o maior número de jogos sob a coordenação e a implementação do árbitro de vídeo. Vamos terminar o ano com nossos árbitros com uma experiência que ninguém no mundo terá em 2019."
O sistema utilizará as imagens captadas pelas TV durante os jogos. Segundo Gaciba, serão utilizadas pelo menos oito câmeras. Nos casos em que a transmissão ofereça apenas sete equipamentos – comum em jogos menos badalados do Pay-Per-View –, a CBF fornecerá uma câmera extra.
"A gente tem que saber que aqui nós temos um árbitro de vídeo com uma realidade (diferente). Na Copa do Mundo tínhamos 36 câmeras na transmissão de um jogo, toda uma estrutura com uma base em Moscou. Aqui o sistema será outro, completamente diferente. Queremos ter as câmeras certas nos locais certos", pontua o dirigente.
Crítica comum vista nos Estaduais – inclusive nos lances em que o VAR acertou –, o tempo de análise não é uma preocupação na CBF. "Uma ressalva que eu faço: a Europa está com 800, 900 jogos de experiência. Nós estamos com 52 partidas até o momento. Não dá pra chegar e dizer que faremos igual na Europa, que os árbitros terão as mesmas decisões rápidas. É preciso de tempo para se adaptar", pondera Sérgio Corrêa. "O que mais importa é ter uma decisão correta, mesmo que demore um pouco, do que uma decisão rápida e errada."
QUATRO PERGUNTAS PARA – LEONARDO GACIBA - Presidente da Comissão de Arbitragem da CBF
Qual a importância do VAR para o Brasileiro?
É fundamental. É um passo gigantesco e inovador que a arbitragem brasileira está dando. É o primeiro campeonato (nacional) da América a utilizar isso, e acho que os árbitros estão tendo um grande apoio e estão muito felizes com isso.
Como é feito o treinamento?
Temos um treinamento básico que foi feito anteriormente, cursos que são feitos aqui (Granja Comary) de 21 dias. Temos aproximadamente 100 árbitros habilitados no Brasil inteiro.
Árbitro de campo também pode ser árbitro de vídeo? Pode. Aliás, se não tiver o curso de árbitro de vídeo, não pode apitar no Campeonato Brasileiro.
Vai haver equipes fixas?
No primeiro momento, não. A gente vai rodar, até porque cada jogo tem suas características, suas particularidades. Talvez, no futuro, a gente pensa alguma coisa assim. Cada jogo vai ser uma equipe diferente, mas normalmente a gente trabalha com estados.
DÚVIDAS SOBRE O VAR
Quando entra em ação?
Apenas em lances de gol, pênalti, cartão vermelho e erro de identificação.
Existe tempo máximo para verificação?
Não. O árbitro pode usar o tempo que achar necessário.
Quem decide o lance?
A decisão final cabe ao árbitro de campo.
Jogador ou técnico pode solicitar uso do VAR?
Não, e poderão ser penalizados com cartão amarelo em caso de abordagem ostensiva. Apenas o árbitro pode solicitar o VAR.
Quem gera as imagens do VAR?
As imagens são fornecidas pelas emissoras detentoras de direito de transmissão (Grupo Globo e Turner). Caso algum jogo não tenha transmissão, a própria CBF irá gerar as imagens.
Onde ficarão os árbitros de vídeo?
A equipe que analisará os lances ficará em uma cabine no estádio onde o jogo é disputado.
Quem banca os custos?
A CBF gastou cerca de R$ 12 milhões para instalação do sistema nos estádios. Cada clube terá de desembolsar cerca de R$ 17 mil para pagar os árbitros em cada um dos 20 jogos como mandante.
Corinthians e Palmeiras fizeram 'dobradinha' nos últimos anos
Desde 2015 tem sido assim: Corinthians e Palmeiras se revezam na conquista do Campeonato Brasileiro. E para manter a escrita na atual temporada os dois rivais apostam nos técnicos com que conquistaram as últimas taças.
O Palmeiras, que faturou a competição em 2016 e no ano passado, chega para a atual edição mais uma vez apostando na força de um elenco milionário. Graças à força de seu patrocinador, o clube manteve os principais jogadores de 2018, como o atacante Dudu e o volante Bruno Henrique, e ainda trouxe reforços de peso como o meia-atacante Ricardo Goulart.
No ano passado, o técnico Luiz Felipe Scolari soube administrar seus jogadores durante a maratona de jogos do calendário brasileiro e garantiu boa vantagem para seus rivais na reta final da competição. Agora, o time começa de certa maneira pressionado após a eliminação na semifinal do Campeonato Paulista e a oscilação na Libertadores.
O Corinthians, campeão nacional em 2015 e em 2017, teve um segundo semestre de 2018 para ser esquecido. Depois de Fábio Carille levar o time à conquista do Estadual do ano passado, ele foi para o futebol árabe. A diretoria também não conseguiu segurar seus principais jogadores. Com o elenco desmanchado, lutou para não cair no final do ano.
Para reagir em 2019, o clube trouxe de volta Carille e mais 12 reforços para o elenco. A equipe oscilou no início do ano, mas mesmo sem apresentar um grande futebol conquistou pelo terceiro ano seguido o Estadual. O segredo da equipe está na força defensiva, marca do atual treinador. Ele aposta em dois zagueiros experientes como Manoel e Henrique e em dois volantes que mostraram resultado no Paulistão, Ralf e Junior Urso.
Campeonato Brasileiro terá novo sistema de transmissão na TV
O Campeonato Brasileiro de 2019 vai desafiar o velho hábito do torcedor de procurar sempre os mesmos canais para acompanhar as partidas. Com a adoção de um novo formato de negociações individuais entre os clubes e as emissoras nos acordos de direitos de transmissão, quem gosta de futebol vai precisar buscar mais informações para saber como assistir cada uma das partidas.
Os contratos de transmissão de jogos do Campeoanto Brasileiro válidos para 2019 a 2014 representaram uma mudança histórica. Após mais de 30 anos de domínio da Globo seja na TV aberta, na TV fechada ou no pay-per-view, desta vez as equipes puderam costurar acordos individuais com outras empresas. A entrada no mercado da Turner mexeu com os bastidores dessa negociação.
A nova empresa conseguiu atrair sete clubes da Série A para contratos de transmissão na TV fechada: Palmeiras, Inter, Athletico-PR, Santos, Ceará, Bahia e Fortaleza. Os outros 13 participantes do Brasileiro assinaram para TV fechada com o SporTV, empresa do Grupo Globo. A divisão nesses acordos acabou também por atingir as negociações para outros contratos: na TV aberta e no no pay-per-view.
Os sete times que fecharam contrato com a Turner recusaram no primeiro momento as ofertas da Globo para exibição das partidas nas duas outras plataformas. A emissora carioca calculou um redutor de 20% no valor da proposta, por entender que pelos clubes terem assinado com outra empresa para TV fechada, acabaram por interferir nos produtos da própria Globo.
Pouco a pouco os sete times do acordo com a Turner conseguiram negociar com a Globo para TV aberta e pay-per-view, porém o impasse não está totalmente resolvido. O Athletico ainda não assinou acordo para exibição no pay-per-view, enquanto o Palmeiras continua sem contrato tanto para esta plataforma, como para a TV aberta.
A situação representa um problema para o torcedor. Como a Lei Pelé determina que para uma partida ter transmissão os dois times precisam ter contrato em vigor com a mesma empresa, a situação de momento é de o Campeonato Brasileiro irá começar sem ter os 380 jogos garantidos na televisão.
Na TV fechada, por exemplo, só será possível acompanhar as partidas entre equipes que têm contrato com a mesma emissora. Ou seja, quem assinou com a Globo não terá o jogo transmitido quando enfrentar um time signatário da Turner.
Times do Nordeste retornam e são as principais novidades
A elite do Campeonato Brasileiro terá em 2019 participantes que há tempo não disputavam a competição. Um dos retornos mais aguardados é o do CSA. O time alagoano é o primeiro da história a ter conseguido três acessos seguidos de divisão no Nacional e agora voltará a estar entre os grandes após 31 anos de ausência.
O CSA teve como um dos responsáveis pela ascensão o trabalho do presidente Cícero Rafael Tenório da Silva. Um dos empresários mais bem-sucedidos de Alagoas, ele assumiu o clube em 2015 e provocou uma mudança de gestão. O dirigente cortou gastos e construiu no clube uma mentalidade empresarial, com a contratação de executivos e uma organização minuciosa dos departamentos.
A equipe ganhou o Campenato Alagoano desta temporada e assim como outros promovidos da Série B, terá como missão a permanência na elite. O técnico Marcelo Cabo foi mantido no cargo e conta nesta temporada com um pacote de reforços. Um dos nomes de maior destaque é o lateral-direito Apodi, ex-Santos, Ceará e Chapecoense.
Junto com o CSA, quem subiu da Série B e estava com saudade da elite era o Fortaleza. O time do técnico Rogério Ceni ganhou a segunda divisão em 2018, justamente no ano do centenário. Desde 2006 o clube não disputava a elite e terá nesta temporada o sabor especial de se encontrar duas vezes na competição com o maior rival, o Ceará.
O Fortaleza conseguiu nos últimos anos dois acessos seguidos. O clube comemorou nos últimos dias a permanência de Ceni, que chegou a ser sondado pelo Atlético-MG. Assim como o CSA, o time foi campeão estadual nesta temporada. Outra expectativa é pelo possível título da Copa da Nordeste: o Fortaleza vai enfrentar o Santa Cruz, na semifinal.
Além dos nordestinos CSA e Fortaleza, os dois novos integrantes da Série A são Avaí e Goiás. O time catarinense esteve pela última vez na elite em 2017, porém nas duas últimas vezes em que disputou a competição, acabou rebaixado. O Goiás conseguiu retornar depois de três temporadas consecutivas na Série B e anunciou na última semana a troca de técnico. Claudinei Oliveira substitui Mauricio Barbieri.
Brasileirão terá 65 estrangeiros
O futebol brasileiro terá nesta temporada um campeonato com ampla presença estrangeira. Os 20 times da Série A terão ao todo 65 jogadores de outros países, com nove nacionalidades diferentes. Inter e Santos são os clubes com maior presença internacional, com sete atletas cada.
O país com mais representantes no Brasileiro será a Argentina, com 18. O número, porém, não inclui a presença do técnico Jorge Sampaoli, do Santos, que é o único estrangeiro a trabalhar na Série A.
Confira os países que terão jogadores no Brasileiro:
Argentina - 18 Colômbia - 15 Uruguai - 10 Paraguai - 9 Equador - 4 Peru - 4 Chile - 2 Venezuela - 2 Costa Rica - 1
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