Ídolos viram executivos em ‘nova turma’ de ex-jogadores que ainda busca profissionalização

Victor, do Atlético-MG, avalia experiência na função em conversa com o ‘Estadão’; projeto que regulamenta a profissão está parado desde 2022 no Senado

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Foto do author Leonardo Catto
Atualização:

Tão logo encerrou a carreira, em partida pelo Campeonato Mineiro, em fevereiro de 2021, Victor Bagy foi anunciado como gerente de futebol do Atlético-MG. Foram 424 jogos na meta atleticana, decidindo com as mãos - e por vezes o pé esquerdo, como em 2013, na Libertadores.

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Três anos depois, Victor foi promovido a diretor de futebol. Para o desafio ser ainda maior, ele substituiria Rodrigo Caetano, nome forte do Atlético-MG e chamado a prestar seus serviços para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em fevereiro.

“Foi um dos grandes pontos para tomar a decisão de encerrar minha carreira. Foi um processo rápido, mas que não me pegou desprevenido, porque eu já vinha me especializando. E sempre tive a referência do Rodrigo Caetano para poder adquirir conhecimentos específicos da função. Foi um processo não tão traumático, foi natural, porque eu realmente me preparei. E estava em um clube com o qual eu me identificava e já conhecia o dia a dia, a cultura do futebol do clube”, conta Victor ao Estadão. Aos 22 anos, ele havia se formado em Educação Física e, antes de assumir o primeiro cargo, ele fez o curso de executivos da CBF.

Victor Baggy, foi ídolo no gol do Atlético-MG e hoje é diretor-executivo do clube. Foto: Pedro Souza / Atletico

Ainda em 2021, o ambiente do Atlético-MG favoreceu. Para Victor, contudo, isso não é garantia de sucesso. “O fato de você ter uma ligação forte com o clube é um caminho que te abre. Isso é inegável. Mas, se você não estiver preparado, você não se sustenta. Uma coisa é você ser atleta, outra é estar preparado para assumir”, pondera.

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O que também facilitou para o ex-goleiro foi contar com um dos principais nomes no mundo dos executivos do futebol, quem ele acabou substituindo neste ano. “Foi quase um estágio com o Rodrigo. O fato de ele ter me indicado e ter validado a minha efetivação me deu muita tranquilidade, porque foi a palavra dele, que tem um peso”, lembra.

Em 2013, Victor foi campeão da Libertadores com o Atlético-MG, com defesas decisivas em penalidades. Foto: Bruno Cantini/Atlético-MG

Já um obstáculo foi a transição rápida. Victor assumiu como gerente e foi do vestiário para a administração, exigindo uma mudança em relação aos ex-companheiros de elenco. “Eu tive essa dificuldade de me distanciar e comunicar para os atletas que eu estava numa outra função, num nível de comando. Para não perder também a boa relação, porque eu tinha jogado com todos, afinal de contas. Até hoje é algo que eu tenho, essa preocupação de ter um ótimo relacionamento com os atletas”, comenta.

Ele considera que tomar decisões que podem não agradar “faz parte da função”, mas comemora o modo de trabalho do Altético-MG. “Aqui nós temos uma comunicação muito direta com a diretoria, com os donos do clube. Funciona muito bem toda a tomada de decisão, que nunca é feita de forma isolada. Sempre é compartilhada e debatida. Quando acerta, acertam todos. E quando você tem essa coletividade facilita bastante” avalia.

Como gerente e diretor, Victor conquistou o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil, em 2021, a Supercopa do Brasil, em 2022, e quatro campeonatos mineiros. Enquanto jogador, foram cinco estaduais, uma Libertadores e uma Copa do Brasil com a camisa atleticana.

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O Atlético-MG, de Victor, está na semifinal da Copa do Brasil e vai disputar a vaga nas decisões contra o Vasco. Na Libertadores, a equipe tenta a virada contra o Fluminense, nas quartas de final, nesta quarta-feira, 25, na Arena MRV, às 19h (horário de Brasília).

Para Toninho Cecílio, executivo de futebol do Botafogo de Ribeirão Preto, o ex-atleta tem facilidade maior em algumas tarefas. “Identificar problemas no vestiário, avaliar a gestão do treinador e seus auxiliares, prever o potencial de rendimento de uma contratação, identificar as lideranças no grupo de atletas, montar elencos com encaixe setorial através de características convergentes dos atletas escolhidos”, elenca ao Estadão.

Toninho foi zagueiro, com maior parte da carreira nos anos 1990. Passou a ser treinador e, após formar-se como executivo pela CBF Academy, atuou no Palmeiras e na Portuguesa, antes de chegar ao clube de Ribeirão Preto.

Via eleitoral também coloca ídolo no comando

Pedrinho foi eleito presidente do Vasco em novembro de 2023. O nome dele já estava na história do clube com os títulos da Libertadores (1998), Campeonato Brasileiro (1997 e 2000), Copa Mercosul (2000), Campeonato Carioca (1998) e Torneio Rio-São Paulo (1999).

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Logo no começo da gestão, Pedrinho precisou gerir a “bomba” da 777 Partners. A empresa foi acusada, pela direção, de descumprir contrato, atrasar pagamentos e até tirar dinheiro do Vasco e destinar a outra companhia do grupo.

Agora, contudo, o Vasco precisa pagar contas sem os aportes previstos, com a saída da 777. Ainda não há definição sobre um novo comprador das ações, hoje com a seguradora A-CAP, que assumiu o controle da empresa. A venda mesmo deve ficar para 2025. Para esse desafio, Pedrinho contratou o diretor-executivo Marcelo Sant’Ana, ex-presidente do Bahia e professor na CBF Academy, e Felipe, outro ídolo vascaíno, para a função de diretor técnico.

Pedrinho já apresentou dois grandes trabalhos no Vasco: a crise com a 777 e o retorno de Phillipe Coutinho. Foto: Leandro Amorim/Vasco

Senado analisa regulamentação, e formação vai de R$ 370 a R$ 13,5 mil

Não é exatamente uma novidade que ex-jogadores ocupem função de dirigentes. Edu Gaspar tem carreira desde 2012, entre Corinthians, seleção brasileira e Arsenal. Raí é outro exemplo, que foi diretor-executivo do São Paulo entre 2017 e 2021. Entretanto, mesmo com nomes conhecidos, a profissão aguarda regulamentação desde 2017.

Um projeto de lei (PL 7396/2017) tramitou lentamente pela Câmara dos Deputados e foi aprovado em 2021, chegando ao Senado somente em 2022. De modo geral, a proposta institui a profissão formalmente, estabelece atividades do executivo de futebol, além de tornar obrigatória a formação em cursos reconhecidos para a função.

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A matéria está, desde março, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, sob relatoria de Cid Gomes (PSB-CE). Após relatório, o texto ainda vai tramitar nas comissões de Assuntos Sociais, Assuntos Econômicos e Educação e Cultura, mas não há data prevista para a finalização da primeira análise.

A regulamentação é uma pauta defendida pela Associação Brasileira dos Executivos de Futebol (Abex). Atualmente, a entidade conta com 112 filiados, dos quais 12 são ex-jogadores. Para filiar-se, não é cobrada taxa, mas há cobrança de uma anuidade a depender da categoria.

  • Gerentes, supervisores e coordenadores e profissionais sem clube: R$ 990.
  • Executivos empregados: R$ 1.980.

A Abex lista cursos recomendados para a formação em gestão do futebol. São citados programas nacionais, como da Universidade do Futebol e da CBF Academy. As aulas são online e valores que variam de R$ 372 a R$ 13,5 mil.

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A formação em gestão de clubes da Universidade do Futebol, por exemplo, é a mais barata e prevê oito aulas que somam 15 horas. Ela é recomendada a quem já atua no esporte. Mais amplo e sem recomendação de público, o Programa Gestão de Clubes de Futebol, da mesma instituição, oferece 143 aulas onlines, somando 170 hora, por R$ 2.590.

A CBF Academy é mais exigente. É preciso que os interessados já tenham experiência como executivo ou função similar; atleta ou treinador; graduação em Educação Física, Esporte ou Administração (ou correlatos; graduação em qualquer curso de Graduação e possuir Certificado de Conclusão do Curso de Gestão de Futebol da CBF Academy.

O curso “Gestão de Futebol” tem 160 horas, divididas em oito módulos. O custo é R$ 13,5 mil. Para participar, é preciso esperar abertura de turmas. A próxima começa em outubro e irá até setembro de 2025.

Para o mestre em Direito Internacional do Esporte e autor do livro “Direito aplicado à gestão do esporte”, Cristiano Caús, a regulamentação, por si só, não garante profissionalização, mas se juntaria a um escopo de leis que caminha nesse sentido

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“Foi o que ocorreu, por exemplo, com os serviços oferecidos aos consumidores esportivos, que tiveram enorme salto de qualidade a partir 2003, quando foi publicado o Estatuto do Torcedor. Também notamos grande avanço na relação patrocinador-entidade esportiva após a edição da Lei de Incentivo ao Esporte, em 2006, o que culminou no fortalecimento do esporte olímpico brasileiro.”, avalia.

“Os novos investidores que aportaram no país recentemente, estimulados em grande parte por outra lei, a da SAF, encontraram um ambiente profissional muito mais maduro e capacitado, tanto que com exceção das posições técnicas, dentro de campo, não se vê muitos estrangeiros ocupando cargos de gestão”, conclui o advogado, que defende que o ambiente de formação, organizações como o Abex e o intercâmbio de conhecimentos com outros países se complementam na evolução da gestão.