Impostos e desvalorização: por que Ronaldo ainda não vendeu o Valladolid

Depois de deixar o comando do Cruzeiro, Fenômeno espera que o clube espanhol volte à primeira divisão para negociar todas as suas ações (82%) nos próximos meses

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Foto do author Ricardo Magatti

Sincero, Ronaldo Fenômeno avisou na semana passada que, depois de vender sua parte na SAF do Cruzeiro, fará o mesmo com o Valladolid, no qual a relação com a torcida está há meses deteriorada. O ex-jogador comprou o clube espanhol em 2018 por 30 milhões de euros. É dono de 82% das ações da agremiação - adquiriu 51% inicialmente, anos depois mais 21% e, por fim, aumentou seu controle acionário para 82%.

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“Eu vou tirar esse restinho de vida sabático”, justificou Ronaldo, depois de dizer que “o Valladolid será o próximo”. Sua declaração, em tom peremptório, foi dada na coletiva em que confirmou que passou o controle do Cruzeiro ao empresário Pedro Lourenço, dono da rede Supermercado BH.

Dono de um conglomerado com nove empresas e com fortuna estimada em R$ 1 bilhão, Ronaldo quer se retirar gradualmente dos holofotes e voltar a ter mais tempo livre para lazer e seus muitos compromissos comerciais. Ele continuará focado em seus negócios, mas não deseja mais sofrer a pressão constante que viveu no Cruzeiro e que ainda sofre no Valladolid.

Seu plano, segundo apurou o Estadão, é não mais administrar clubes de futebol. A pessoas próximas, ele afirmou que não mais irá cometer essa “loucura” de comprar outro time no futuro. O Fenômeno diz não ter se arrependido, mas não quer mais ser gestor de uma equipe. A ideia é dar prioridade às suas empresas, algumas delas ligadas ao futebol.

Soma-se a isso, também, a péssima relação que Ronaldo tem com a torcida, que já o chamou de mentiroso e questionou o gestor: “cadê o dinheiro?”, cobraram os torcedores, por meio de cantos e faixas. Eles se revoltaram ainda mais depois que o dirigente decidiu mudar o escudo do clube, em junho do ano passado. No fim do ano passado, quando o time iniciou com uma série de derrotas sua jornada na segunda divisão, os torcedores se revoltaram: “Cinco anos de mentiras. À beira do abismo”, exclamaram em uma faixa.

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Depois do Cruzeiro, Ronaldo quer vender em breve suas ações no Valladolid, da Espanha Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro

A relação com a torcida, após uma breve euforia inicial, tem sido tensa sobretudo por causa dos resultados. O Valladolid foi rebaixado na temporada 2020/21, subiu no ano seguinte, mas voltou a cair em 2022/23. A situação em campo pressionou as finanças do clube. Os torcedores perderam a paciência, e a cobrança por investimentos piorou ainda mais a imagem de Ronaldo entre torcedores.

“A verdade é que a distância entre o atual presidente e o torcedor é abismal. Não há harmonia. A mudança de escudo foi um exemplo claro de que os caminhos são completamente divergentes. É algo que se tornou evidente nos últimos meses, ataques injustificados e perseguições à margem”, escreveu o jornal Marca, em artigo recente.

Em breve, fora do Valladolid

Mas por que Ronaldo ainda não vendeu suas ações do Valladolid? São dois motivos: os altos impostos que se paga na Espanha e a desvalorização do clube depois de cair na temporada passada para a segunda divisão. Ele não considera ser oportuno negociar sua parte agora, já que o time joga a divisão de acesso e, por isso, viu seu valor de mercado cair. O ex-jogador, inclusive, fez um movimento errado, segundo os especialistas em gestão esportiva, ao anunciar publicamente que colocaria à venda o seu controle acionário.

A reportagem ouviu de pessoas próximas a Ronaldo que, caso o o Valladolid consiga o acesso de volta à elite do futebol espanhol, ele negociará suas ações até, no máximo, o reinício da temporada 2024/2025. Embalado na reta final desta temporada, o Valladolid emplacou a quinta vitória consecutiva no último sábado e é o vice-líder da competição, com 67 pontos. Tem mais quatro jogos a disputar e está muito perto de retornar a LaLiga.

Na LaLiga 2, três clubes sobem para a primeira divisão divisão. A terceria vaga é definida por meio de um playoff disputado entre terceiro, quarto, quinto e sexto colocados. No ano passado, o brasileiro afirmou não negociaria o controle acionário “até que tenha deixado o clube no lugar onde quero deixar”.

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Ronaldo recebeu críticas da torcida do Valladolid nesta semana. Foto: Reprodução/Twitter @valladolid1984

Operação fiscal em Dubai

Ronaldo não deve vender sua parte por menos de 100 milhões de euros. Como na Espanha os impostos são altos, ele chegou a estudar a ideia de abrir um domicílio fiscal em Dubai para viabilizar a venda.

Conhecida pelos grandes benefícios fiscais, a capital dos Emirados Árabes Unidos é uma escolha atraente para empresários que buscam obter 100% da propriedade de sua empresa e não desejam pagar impostos corporativos. Mas, como isso leva tempo - ao menos dois anos - e Ronaldo tem pressa, ele desistiu do plano e fará a operação dentro da Espanha. Com isso, será taxado pela Hacienda Espanhola (equivalente à Receita Federal do Brasil).

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