Continente com pouca tradição no futebol, a Ásia começou a crescer no esporte a partir do início dos anos 90, quando o Japão passou a contratar jogadores estrangeiros famosos para popularizar a modalidade no país. Mais recentemente, quem adotou a mesma estratégia foi a China, que atraiu craques de peso graças ao forte investimento do governo. Agora, é a vez de a Índia apostar na antiga fórmula de contratar jogadores de renome internacional para atuar na Indian Super League.
Entretanto, sem o mesmo poder financeiro de Japão e China, os indianos entregaram a tarefa de superar o críquete no gosto do público local nos pés de veteranos como o italiano Del Piero, 39 anos, os franceses Trezeguet, 36, e Robert Pirès, 40, e os espanhóis Luis Garcia e Capdevila, ambos de 36 anos. Entre os treinadores, Zico é a grande estrela e o italiano Marco Materazzi vai acumular os cargos de zagueiro e técnico do Club Chennai.
O campeonato começará no dia 12 de outubro com oito franquias e terá apenas três meses de duração. Os times se enfrentarão em turno e returno e os quatro melhores colocados se classificarão para as semifinais. A final vai acontecer em 20 de dezembro. Para não dividir a atenção do público, será disputado apenas um jogo por dia, o que fará com que a competição seja realizada de segunda-feira a domingo.
Cada franquia terá em seu elenco um jogador consagrado internacionalmente, além de estrangeiros de menor expressão e jovens indianos. A organização será compartilhada entre a rede de televisão Star India, a Federação Indiana de Futebol e a multinacional IMG, que promete investir pesado em publicidade.
Assim, os atletas estrangeiros também vão desempenhar a função de promotores do esporte no país, com participação em eventos sociais e beneficentes. “Eu me vejo como um viajante nas estradas de futebol. Para mim, o campo não é a única coisa que conta e o que rodeia o jogo também é importante. A possibilidade de unir minha atuação profissional com o papel de embaixador do futebol é fundamental”, disse Del Piero, que exerceu função semelhante durante as últimas duas temporadas, quando defendeu o Sydney FC, da Austrália, após deixar a Juventus.
As oito franquias estão localizadas nas cidades de Chennai, Nova Délhi, Goa, Guwahati, Cochim, Calcutá, Mumbai e Pune. Os donos são empresários, atores e diretores da indústria cinematográfica de Bollywood que compraram as ações dos clubes por dez anos e tiveram o direito de escolher os jogadores locais e os estrangeiros por meio de um draft.
Mesmo sendo o segundo esporte mais popular da Índia, com aproximadamente 20 milhões de praticantes, o futebol não possui nenhuma tradição no país asiático. Atual 150.ª colocada do ranking da Fifa, a seleção local se classificou para apenas uma edição da Copa do Mundo, a de 1950, mas desistiu de viajar para o Brasil às vésperas do torneio.
Apesar de ter a segunda maior população do mundo, com 1,2 bilhão de habitantes, a Índia nunca foi capaz de ter uma seleção minimamente competitiva. O maior feito do país no futebol foi o segundo lugar da Copa das Nações Asiáticas de 1964. Para colocar a Índia em um Mundial, o plano dos organizadores da Indian Super League inclui investimento nas categorias de base, remodelação dos estádios das oito cidades-sede do torneio e novos padrões de organização, com a profissionalização dos clubes. A meta é fazer a seleção nacional disputar a sua primeira Copa em 2026.
Em 2012, os indianos chegaram a criar a Premier League Soccer, com cinco times. Assim como agora, os astros seriam veteranos estrangeiros. À época, os craques seriam o argentino Hernan Crespo, então com 36 anos, e o italiano Fabio Cannavaro, de 38. O campeonato seria de tiro curto, disputado em apenas sete semanas, e os jogadores, contratados por meio de leilões. O torneio, no entanto, foi cancelado devido às “infraestruturas deficientes”, de acordo com os seus organizadores.
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