Irmão de Gabriela Anelli relata ameaça de morte após processar o Palmeiras

Pais da torcedora, morta em julho do ano passado após briga entre torcidas, também entrariam com ação contra o clube, mas desistiram depois das intimidações ao filho

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Foto do author Ricardo Magatti

A ação judicial que moveu contra o Palmeiras, pedindo R$ 1 milhão de indenização por danos morais, além de R$ R$ 150 mil em honorários, fez Felipe Anelli Marchiano receber ameaça de morte, conforte relatou a seus amigos e familiares. Não especificou, porém, quem teria lhe ameaçado. Ele é irmão da torcedora Gabriela Anelli, jovem palmeirense que morreu depois de estilhaços de uma garrafa de vidro acertarem seu pescoço em briga entre flamenguistas e palmeirenses no entorno do Allianz Parque, em julho do ano passado.

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Felipe decidiu processar o Palmeiras porque, no entendimento de seu advogado, o clube, promotor do evento, isto é, mandante da partida com o Flamengo, em 8 de julho de 2023, não garantiu a segurança necessária aos torcedores e foi negligente, embora a briga tenha ocorrido do lado de fora do Allianz Parque, na rua Padre Antônio Tomás, uma das que cercam o estádio.

“A ação é baseada em dois fundamentos: o estatuto do torcedor estabelece a responsabilidade objetiva de quem recebe a partida. Então, em qualquer fato, evento ou incidente que ocorram no estádio ou nas imediações do estádio, o clube é responsável e tem que indenizar quem quer que seja que tenha sofrido o dano”, argumenta Juliano Pereira Nepomuceno, advogado de Felipe, ao Estadão.

“Além disso, houve negligência do Palmeiras à medida que os portões foram abertos e essa abertura permitiu que houvesse confronto entre as torcida do Palmeiras e do Flamengo”, acrescenta. No processo, estão anexados imagens da briga e do momento em que Gabriella é atingida pelo vidro da garrafa.

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Gabriela Anelli morreu em julho do ano passado, após estilhaços de uma garrafa acertarem seu pescoço Foto: Cesar Greco/Palmeiras

O Estadão apurou que, como os torcedores brigaram do lado de fora do estádio, o Palmeiras entende que a segurança é de responsabilidade das autoridades de segurança pública e não pode ser responsabilizado pela morte da palmeirense. O clube colaborou com as autoridades de segurança pública e forneceu imagens das câmeras de biometria facial que ajudaram na identificação do suspeito. A agremiação ainda não foi notificada judicialmente.

Jonathan Messias Santos da Silva é o suspeito de ter matado a torcedora. Ele foi indiciado por homicídio doloso na modalidade de dolo eventual. Em agosto, ficou em silêncio no depoimento concedido ao Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). Na época, a defesa de Jonathan afirmou que um grupo de peritos havia sido contratado e pretendia apresentar um laudo próprio. Mais de um ano depois da morte de Gabriella, ele ainda não foi julgado. O caso corre no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e não há data para o julgamento do acusado.

O ação judicial foi distribuída há uma semana ao juiz Danilo Fadel de Castro, da 10ª Vara Cível. Segundo o advogado, os pais de Gabriela também acionariam a Justiça. Cada um pediria R$ 5 milhões por danos morais. Os valores seriam maiores porque os traumas são maiores aos pais, justificou a defesa. Mas os dois desistiram do processo depois que o filho relatou as ameaças.

Até mesmo amigos de Felipe se indignaram com a decisão de o irmão de Gabriela acionar a Justiça contra o clube. Ele vai aos jogos no estádio com frequência e a irmã fazia parte da Mancha Alvi Verde, principal torcida organizada ligada ao Palmeiras, e namorava com um integrante da Porks. Também chegou a integrar a escola de samba da Mancha para participar do desfile no carnaval paulistano. “Eles estão com medo, têm um certo receio porque vão ao estádio e acham que vão ser hostilizados”, conta o advogado.

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Pai, mãe e familiares de Gabriela Anelli durante o velório da torcedora palmeirense Foto: Taba Benedicto/Estadão

Gabriela foi atingida pelos estilhaços da garrafa e levada em estado grave para a Santa Casa, no centro da cidade, mas não resistiu aos ferimentos e morreu em decorrência de “hemorragia aguda externa traumática” dois dias depois. Os familiares da torcedora chegaram a fazer uma campanha na redes por doações de sangue para ajudá-la. “Esse acidente causou muita repercussão e, agora, estamos ajuizando a ação buscando reparação por danos morais contra o Palmeiras”, realça Nepomuceno.

O crime

O fato aconteceu por volta das 17h45, mais de três horas meia antes do início do jogo, perto dos portões C e D do Allianz Parque, na rua Padre Antônio Tomas. Havia uma proteção de metal para separar os flamenguistas dos palmeirenses, mas ela não foi suficiente para evitar a morte da torcedora, e foi muitas vezes aberta, dando brecha para que os torcedores arremessassem pedras e garrafas.

Vídeos mostram, de fato, a divisória de metal aberta para a passagem de uma viatura da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e palmeirenses e flamenguistas arremessando garrafas por entre esse vão e também por cima da proteção. As imagens evidenciam que havia pouco policiamento no momento da briga.

Somente uma viatura da GCM estava próxima, mas, segundo a PM informou ao Estadão, o policiamento na região do estádio e nas ruas adjacentes era realizado pelo 2º Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) no momento do incidente

O corpo de Gabriela foi enterrado no dia 11 de julho, no cemitério Memorial Parque Paulista, em Embu das Artes, na região metropolitana de São Paulo. Torcedores da Mancha Alvi Verde e de outras organizadas homenagearam Gabriela com bandeirões, fogos e cantorias. A pedido da família, o hino do Palmeiras foi cantado em uníssono antes de a palmeirense ser enterrada. Torcedores palmeirenses condenaram a falta de policiamento no local da briga.

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