David Beckham talvez não esperasse por essa. A escolha dele de ser embaixador da Copa do Mundo do Catar gerou a ameaça de destruição de 10 mil libras em dinheiro vivo. Um protesto do humorista britânico Joe Lycett contra as violações dos direitos humanos e LGBT+ cometidas pelo país-sede.
No último dia 13, Lycett deu um ultimato ao jogador pelas redes sociais: desista do cargo ou veja o dinheiro ser picotado. O montante, equivalente a quase R$65 mil, corresponde a mil libras para cada milhão que o meio-campista supostamente receberia por ocupar a posição.
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O prazo é até o meio-dia de domingo, 20, data da cerimônia de abertura da Copa - ao que tudo indica, pelo fuso londrino. A alternativa dada ao jogador é desfazer os laços com a organização do torneio. Se ele topar, o dinheiro será destinado a instituições que apoiam pessoas queer no futebol. Do contrário, vira confete.
Na quarta, 16, o comediante divulgou e-mail enviado à assessoria de Beckham cobrando um posicionamento. Até agora, recebeu apenas silêncio como resposta. Hoje, 18, ele fez novo post no Instagram: a foto de uma enorme máquina trituradora com a legenda “faltam 48 horas”.
Lugar de representatividade e influência
O humorista considera Beckham um ícone gay. E argumenta para isso que ele foi o primeiro jogador de futebol da Premier League a posar para fotos em revistas para esse público e a falar abertamente sobre os fãs da comunidade.
“Você se casou com uma Spice Girl, que é a coisa mais gay que um ser humano pode fazer”, diz Lycett com bom humor em vídeo publicado nas redes sociais e no site benderslikebeckham.com - onde promete transmitir a trituração do dinheiro em live no domingo. (Veja o vídeo completo e legendado abaixo)
Por essa representatividade, o comediante esperaria uma defesa mais enfática do já denominado ídolo metrossexual. “Você sempre falou sobre o poder do futebol como uma força do bem”, enfatizou Lycett no vídeo.
Parceria antiga
O acordo de Beckham com o comitê da Copa do Catar não é recente. Reportagem de maio já mostrava como o jogador compareceu ao salão quando o País foi escolhido.
A aproximação seria para o astro do futebol endossar não apenas o mundial, mas o Catar em si. Deste modo, o ato de Lycett sugere conivência de Beckham com as medidas LGBTfóbicas catarianas por interesse financeiro: o jogador não tem falado a respeito.
Denúncias de infrações contra direitos humanos
No País, práticas não heterossexuais são ilegais. E podem ser punidas com prisão e, potencialmente, com a morte se o acusado for muçulmano.
Ainda em outubro deste ano um relatório da Human Rights Watch denunciou espancamentos e até assédio sexual contra pessoas LGBT+, culminando em prisões sem registros. Além de obrigar mulheres trans a se submeterem a terapias de conversão para serem soltas.
Conforme a instituição, ao menos seis pessoas foram detidas pela polícia entre 2019 e 2022 em uma prisão subterrânea em Doha. “Eles assediaram verbalmente e submeteram os presos a abusos físicos, variando de tapas a chutes e socos até sangrarem. Uma mulher disse que perdeu a consciência”, descreve o texto
Mas as reações à escolha do Catar como sede da Copa não ficaram restritas à comunidade LGBT+. Outro ponto sensível são as condições laborais degradantes dos trabalhadores do País, especialmente os envolvidos nas obras do mundial - grande parte imigrantes.
As autoridades do Catar dizem se tratar de uma visão desatualizada das relações de trabalho e que muito mudou. Mesmo assim, diversas organizações pelo mundo, como a Anistia Internacional (Anistia Internacional) criticam a escolha e seleções planejam protestos silenciosos durante a Copa .