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Juiz pivô da ‘Máfia do Apito’ revela torcer para o Corinthians e diz ter pensado em ‘fazer besteira’

‘É fácil manipular jogo dentro de campo. O árbitro manipula quando quiser’, revelou Edilson Pereira de Carvalho após quase 20 anos do escândalo

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Foto do author Sergio Neto

Alerta: a reportagem abaixo trata de temas como suicídio e transtornos mentais. Se você está passando por problemas, veja ao final do texto onde buscar ajuda.

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Edilson Pereira de Carvalho, hoje ex-árbitro de futebol, foi o protagonista da ‘Máfia do Apito’, escândalo que estourou em 2005 e jogou luz sobre um problema que tomou conta do noticiário esportivo brasileiro: a manipulação de resultados de jogos de futebol. Seu envolvimento culminou em sua exclusão do esporte. O reflexo das decisões aparecem até hoje, quase 20 anos após o ocorrido.

Na ocasião, o então juiz de futebol passou a vender resultados em benefício de um grupo que fazia fortuna pela internet. Na época, em depoimento à Polícia Federal, ele admitiu que manipulou situações dentro de campo em troca de comissões em dinheiro.

Edilson concedeu um depoimento ao canal do Youtube ‘Cartoloucos’, em que revela os motivos que o fez se envolver no escândalo e as consequências para sua vida, especialmente sua saúde mental. Entre tantas revelações, Carvalho abriu ao espectador qual seu clube de coração.

O árbitro Edilson Pereira de Carvalho foi o pivô do escândalo da Máfia do Apito, em 2005 Foto: Sebastião Moreira/AE

“Eu queria estar do outro lado. Ser lembrado pelo árbitro que eu fui”, contou Edilson, que afirmou não guardar lembranças da época em que atuava no futebol. “Tinha mais de 80 fitas. Amarrei tudo num lençol, dei um nó, peguei no quintal e meti gasolina. Hoje me arrependo muito de ter feito isso.”

Cara fechada e discussões em campo

Enquanto ainda era árbitro, Edilson fazia parte do quadro de profissionais da Fifa. Era conhecido por sua cara fechada e, em algumas situações, por ser debochado. Além disso, tinha o costume de discutir com jogadores durante as partidas.

Ao canal, Edilson contou que hoje trabalha com distribuição de mercadorias em compras feitas pela internet, no setor de logística. Depois do episódio, o ex-árbitro ficou recluso em sua casa, mesmo tendo de contribuir para o sustento da família. Apesar da ‘Máfia do Apito’ ter acontecido em 2005, os problemas de Edilson surgiram em 2008. Segundo ele, os atos de manipulação interferiram diretamente na busca por empregos e até mesmo quando saía nas ruas e era reconhecido.

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No depoimento, Edilson mostrou-se incomodado com o termo utilizado no escândalo. “Máfia? Para dois árbitros?”, disse em referência a Paulo José Danelon, outro juiz envolvido na manipulação de resultados a favor de apostadores. “Máfia de duas pessoas?! Já começou errado esse título.”

À época, foram anuladas 11 partidas apitadas por Edilson. Ele admitiu que, deste montante, apenas o duelo entre Vasco e Figueirense foi, de fato, manipulado. Em outras situações como em um confronto entre Corinthians e Guarani, por exemplo, não houve interferência. Mas, mesmo assim, continuou recebendo dinheiro de forma ilegal. Ao todo, foram aproximadamente R$ 70 mil recebidos.

“Eu já pensei em fazer besteira”, disse Edilson. “Três vezes coloquei o revólver no meu ouvido. Graças a Deus que eu não fiz isso. Eu sofri demais durante 5 anos”, relatou.

Com a decisão de disputar novamente as partidas apitadas por Edilson, o Corinthians acabou se beneficiando pois, na ocasião, Internacional e Fluminense acabaram perdendo posição. Segundo o ex-árbitro, isso não significa que o time do Parque São Jorge não seria campeão sem sua interferência. Edilson reconhece que o time tinha um elenco de alto nível.

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Edilson emenda a análise sobre o elenco corintiano para revelar que, sem o uniforme de árbitro, torce para o time de Parque São Jorge. “Sempre fui. Meu pai era corintiano, minha mãe corintiana... eu ficava ali assistindo. Fanático na televisão”, contou. Apesar disso, afirmou nunca ter favorecido o Corinthians em nenhuma ocasião, seja no profissional ou nas categorias de base.

Duas décadas depois do escândalo que abalou o futebol brasileiro e sua vida, Edilson não acredita que haja manipulação de jogos atualmente, mas reconhece que o problema pode voltar a se repetir. “Hoje está muito mais difícil, mas pode acontecer. Por que não? Um dia vai acontecer. Daqui um ano, dois, três... vai acontecer.”

O que foi a ‘Máfia do Apito’?

No Brasil, quando se fala em escândalo de manipulação de resultados, logo vem à mente o caso que ficou conhecido como a “Máfia do Apito”. Em 2005, o então árbitro de futebol Edilson Pereira de Carvalho foi protagonista das investigações que levantaram o envolvimento de árbitros com empresários que comandavam sites especializados em apostas pela internet.

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Além de Edilson, outras seis pessoas foram processadas por estelionato e formação de quadrilha. Uma das consequências do escândalo foi a anulação e remarcação de jogos que tiveram a participação de algum dos acusados. No total, 11 jogos do Campeonato Brasileiro daquela temporada foram disputados novamente.

Em agosto de 2009, o Tribunal de Justiça de São Paulo arquivou o processo. O caso teve ampla repercussão. Um exemplo é o texto do novo Estatuto do Torcedor, sancionado em 2010 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A manipulação de resultados no esporte é considerada crime e os envolvidos podem ser presos.

Onde buscar ajuda?

Se você está passando por sofrimento psíquico ou conhece alguém nessa situação, veja abaixo onde encontrar ajuda:

Centro de Valorização da Vida (CVV)

Se estiver precisando de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.

Canal Pode Falar

Iniciativa criada pelo Unicef para oferecer escuta para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. O contato com o Canal Pode Falar pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.

SUS

Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. Há unidades específicas para crianças e adolescentes. Na cidade de São Paulo, são 33 Caps Infantojuventis e é possível buscar os endereços das unidades nesta página.

Mapa da Saúde Mental

O site Mapa da Saúde Mental traz mapas com unidades de saúde e iniciativas gratuitas de atendimento psicológico presencial e online. Disponibiliza ainda materiais de orientação sobre transtornos mentais.

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