A compra do Newcastle por parte de um consórcio da Arábia Saudita tem sido tema de conversa na Inglaterra e no mundo do futebol em geral. As reações têm-se multiplicado e variam entre a expectativa do que o time de Newcastle poderá alcançar e a insatisfação causada pelas diferenças orçamentais com os restantes clubes do país. O último a falar sobre o assunto foi o treinador do Liverpool, o alemão Jurgen Klopp. Em declarações à Sky Alemanha, o técnico não poupou nas palavras para comentar o tema.
"Estava à espera de uma declaração oficial do Richard Masters (diretor-executivo da Premier League). Não quero falar muito sobre um assunto que não me diz respeito. Mas, para mim, não há duas opiniões relativamente aos problemas de direitos humanos na Arábia Saudita", disse Klopp. "Se falarmos apenas de futebol, a longo prazo, temos de dizer que eles serão uma superpotência. Este é o terceiro clube no mundo do futebol, que conheço, que pertence a um país e, obviamente, significa que pertence à família mais rica do planeta", disse o alemão.
Ao falar da compra do Newcastle, que vai passar a ser o time mais rico do planeta, o alemão relembrou a criticada Superliga Europeia, liga encabeçada por Real madrid, Barcelona e Juventus que visava substituir a Liga dos Campeões. O projeto caiu por terra após ser acusado de isolar financeiramente e esportivamente outros clubes da Europa.
"As possibilidades são imensas. Com a Superliga, todo mundo ficou justificadamente chateado. Isto é basicamente a Superliga, mas para apenas um clube. Assim, o Newcastle garante que terá um papel dominante no mundo do futebol nos próximos 20 ou 30 anos", continuou.
Apesar disso, Klopp sublinhou que dinheiro não é, objetivamente, sinal de bons resultados. "Podem-se fazer muitas coisas com dinheiro, mas haverá muitos bons jogadores no mundo do futebol e o Newcastle também os encontrará", concluiu.
Entenda
o Newcastle foi adquirido pelo Public Investment Fund (PIF, sigla em inglês), fundo de investimentos da Arábia Saudita, no qual o príncipe herdeiro do país, Mohammed bin Salman, é presidente. O grupo pagou 305 milhões de libras (cerca de R$ 2,2 bilhões na cotação atual) por 80% do time.
A oferta de aquisição anterior foi desaprovada por ativistas que denunciam violações aos direitos humanos no país. Com uma fortuna estimada em US$ 1,4 trilhão (R$ 8,1 tri), Mohammed bin Salman também é um dos nomes ligados à morte do jornalista Jamal Khashoggi, crítico fervoroso do governo saudita e colunista do jornal americano The Washington Post. Ele foi morto e esquartejado no consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, em 2018. Após o episódio, Salman negou que tenha ordenado o assassinato, mas afirmou que o caso está na sua esfera de responsabilidade.
O interesse de grupos árabes em investir no futebol europeu cresceu nas últimas duas décadas, como forma de aumentar as relações do Oriente Médio com o ocidente, culminando com a escolha do Catar para sediar a Copa do Mundo de 2022. O futebol foi o caminho encontrado para isso. Tanto Manchester City quanto Paris Saint-Germain, considerado os dois clubes com maior poder financeiro na Europa, contam com o dinheiro árabe desde os anos 2000 para investimento em infraestrutura e compra de jogadores.
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