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LaLiga se renova, muda símbolo e aposta em tecnologia para combater racismo nos estádios

Organização lança plataforma digital para que os próprios torcedores denunciem casos de discriminação nas arquibancadas

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Foto do author Ricardo Magatti
Atualização:

Criticada repetidamente na temporada passada devido aos episódios de racismo nos estádios, sobretudo os que tiveram Vinicius Junior como vítima, a LaLiga resolveu mudar. A organização responsável pela primeira e segunda divisão do Campeonato Espanhol, alterou seu logotipo, sua identidade visual, trocou de patrocinador e fez a promessa de que irá combater com rigor os insultos discriminatórios nesta temporada, que começa nesta sexta-feira, dia 11.

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Sob o lema “a força do nosso futebol”, a LaLiga diz ter o compromisso de gerar “impacto positivo na sociedade”, tem agora a EA Sports como seu principal patrocinador, dando nome ao torneio, no lugar do banco Santander, elaborou um projeto para captar novos torcedores, principalmente os mais jovens, e investiu alto em recursos audiovisuais, com câmera de cinema, aérea e no banco de reservas, além de novos drones. “Nossa ideia é ter uma experiência imersiva, rejuvenescida e dinâmica”, explica Daniel Alonso, delegado da LaLiga no Brasil, entidade presente em 41 países por meio de 11 escritórios e 45 delegados.

As alterações, ressalta a entidade, não são somente estéticas. Prestes a começar uma “nova era” no futebol espanhol, a LaLiga reciclou sua marca e modificou seus símbolos, embora reforce que se trata de um símbolo de mudança, não uma mudança de símbolos. “A gente quer ser sempre o segundo campeonato no Brasil”, afirma Alonso.

Para isso, a organização tem de proteger um dos principais astros do futebol espanhol atualmente, o brasileiro Vinicius Junior, que foi alvo de ao menos 11 ataques racistas na temporada passada. Os representantes da LaLiga afirmam ter solicitado poder de punir esportivamente os clubes cujos torcedores sejam racistas nos estádios. Deseja autonomia para fechar estádios, tirar pontos das equipes e aplicar multas.

Vini Jr. foi vítima de ao menos dez ataques racistas na Espanha Foto: Pablo Morano/Reuters

Sem esse poder, a entidade, fundada em 1984 e com sede em Madri, resolveu desenvolver uma plataforma, chamada LaLiga versus Racismo, para que os próprios torcedores denunciem casos de discriminação nas arquibancadas.

“É uma plataforma para agregar tudo o que a gente faz. Será um canal de informação para a imprensa, para o torcedor, para entender realmente o que a LaLiga faz e por quê. O que vamos fazer? O que está na nossa mão, que é formação, pedir para os clubes serem mais rigorosos com quem comete crime em seus estádios. Todo mundo é racista? Não. O clube tem essa liberdade. Pode banir esse torcedor”, explica Alonso, principal representante da organização no Brasil.

Ele reconheceu erros da organização na condução dos casos de racismo sofridos por Vini Jr. nas últimas temporadas e disse, em resposta a um questionamento do Estadão, que não se comunicar com a imprensa e com a torcida de forma eficiente foi um dos problemas, mas não o único.

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Javier Tebas é o presidente de LaLiga, que vai apostar na tecnologia para combater o racismo Foto: Oscar Del Pozo/AFP

“Temos que, humildemente, reconhecer que o problema não estava sendo abordado com a intensidade que merecia”, admitiu. O público e a imprensa não sabiam o que a gente estava fazendo. Foi um erro nosso não comunicar o que estava sendo feito e o que não estava na nossa mão”.

Em maio, depois do décimo ataque racista do qual Vini Jr. foi vítima, em Valencia, onde foi chamado de “macaco”, o jogador brasileiro disse que a LaLiga normaliza o racismo, apontou o Espanhol como o “campeonato dos racistas” e alertou para a imagem negativa que a Espanha tem passado ao mundo em razão do comportamento de torcedores.

Javier Tebas, presidente da La Liga, resolveu rebater o atleta. Chegou a dizer que os casos eram “extremamente pontuais”, minimizou a gravidade dos incidentes e insinuou que o atacante do Real Madrid estava sendo manipulado. Depois, teve de se desculpar.

Novo logotipo da LaLiga, mais minimalista em relação ao antigo Foto: Divulgação

“Não comunicar certo foi a única falha? Não. Nosso presidente pediu desculpas. Tivemos algumas falhas. Mas o que não pode ficar em dúvida é nosso compromisso contra o racismo”, assume Alonso. Quando um atleta não entende que a gente o está protegendo, temos de comunicar melhor, explicar que a gente quer protegê-lo, mas o que ele está pedindo não conseguimos fazer. A gente vai comunicar melhor, mas vai trazer novas ações para combater o racismo”.

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Segundo especialistas em marketing e negócios do esporte, a reincidência de casos somada à falta de punições efetivas na atual temporada pode gerar impactos negativos para uma imagem já desgastada da liga espanhola.

“Construção de reputação leva anos. A LaLiga fez um excelente trabalho de internacionalização do futebol espanhol, projetou suas estrelas para o mundo, mas na última temporada, com o incidente envolvendo o Vini Jr, que escancarou outros episódios passados sem a mesma repercussão, se tornou vítima de sua projeção global e foi condenada nas mídias sociais e opinião pública antes mesmo de explicar o que poderia ou não poderia fazer de acordo com o regulamento existente. Agora, não só a Liga, mas clubes, jogadores e torcida têm uma nova oportunidade de deixar isso para trás e coibir de forma exemplar comportamentos inaceitáveis”, opina Ivan Martinho, professor de marketing esportivo pela ESPM.

As ideias elaboradas com o objetivo de reduzir as ofensas discriminatórias nos estádios da Espanha surgiram por meio de um grupo convocado pela LaLiga. Com integrantes de diferentes países, incluindo pessoas que já sentiram na pele o preconceito. “Dessas ideias resultou a plataforma. É uma plataforma para que a gente consiga denunciar, para que jogadores, torcedores e a imprensa tenham informação o mais rápido possível na palma da mão”, afirma Leonardo Cunha, o segundo delegado da organização no Brasil.

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