Quando estava se recuperando de um linfoma, José Roberto Lamacchia recebeu uma sugestão de sua mulher, Leila Pereira: “Beto, por que você não patrocina o Palmeiras?”, perguntou ela. Ele relutou, mas se apresentou ao time para o qual torce desde criança. Há oito anos, suas empresas são as únicas que patrocinam a equipe paulista. Agora, o empresário de 78 anos tem planos de colocar sua Crefisa em outro clube: o Vasco.
Avesso a entrevistas, Lamacchia se habituou a trabalhar nos bastidores, com raras aparições em público. Mas, ao tenta expandir sua relação com o futebol para o Rio, com o Vasco, decidiu aparecer e passou a ser mais conhecido de quem acompanha o futebol nacional. Palmeiras e Vasco têm torcidas com boa relação.
Lamacchia manifestou publicamente seu interesse em adquirir os naming rights de São Januário caso o ex-jogador Pedrinho fosse eleito presidente do clube neste ano. Pedrinho foi escolhido para comandar o Vasco entre 2024 e 2026. Portanto, são grandes as chances de o estádio cruzmaltino passar a levar o nome da instituição financeira. “Uma honra, seu José”, respondeu o ex-comentarista do Grupo Globo.
“O compromisso de adquirir o naming rights de São Januário é mais um passo que reforça a minha parceria com José Roberto Lamacchia. Além do futebol, José Lamacchia é uma referência no mundo empresarial e é um privilégio tê-lo ao meu lado”, disse Pedrinho, citando virtudes do amigo.
Executivo discreto
Paulista de Birigui, Lamacchia fundou a Crefisa em 1966 com o dinheiro da venda de um banco que pertencia ao seu pai. Além de presidente do Palmeiras, da Crefisa e da FAM, ele e Leila Pereira gerem outras 12 empresas do grupo empresarial. O casal está junto há 40 anos. Eles se conheceram em uma festa de carnaval organizada no apartamento de Lamacchia, em Ipanema, no Rio. Na época, Leila cursava jornalismo e tinha 18 anos. Ele, já empresário, tinha 38.
Beto, como Leila o chama, morava em São Paulo e visitava a então namorada no Rio regularmente. Até que ela se mudou para a capital paulista em 1996. Três anos depois, os dois se casaram.
Foi o palmeirense, filho do banqueiro Luiz Lamacchia, que potencializou a vocação para os negócios de Leila, fazendo com que ela entrasse no mundo empresarial e se tornasse executiva. A carioca assumiu o comando da Crefisa em 2008. Em 2023, tornou-se a quarta mulher mais rica do País, segundo levantamento da Forbes.
Lamacchia ainda participa do dia a dia de suas empresas, mas é Leila que está à frente dos negócios. O empresário pouco fala de sua vida privada e profissional e é avesso a entrevistas, ao contrário da mulher, que faz aparições públicas frequentes e dá muitas entrevistas, sobretudo depois que se tornou presidente do Palmeiras.
O banqueiro acompanha a mulher nos principais eventos, incluindo as viagens para compromissos internacionais. Esteve por exemplo, em Abu Dabi, nos Emirados Árabes Unidos, onde o Palmeiras disputou o Mundial de Clubes em 2021, e em Montevidéu, no Uruguai, palco do terceiro título da Libertadores do time alviverde. É comum também vê-lo nos jogos do time no Allianz Parque.
Depois do Palmeiras, o Vasco
Como a mulher, Lamacchia foi eleito duas vezes conselheiro do Palmeiras. Antes de integrar o Conselho Deliberativo do clube, já era sócio desde 1955 e, depois, se tornou sócio vitalício. Foi ele que incentivou e influenciou Leila a entrar na política palestrina depois da parceria bem-sucedida entre suas empresas e a agremiação.
Se sua mulher não era, mas se tornou palmeirense, o empresário nunca mudou de time. “Ele sempre foi muito palmeirense. Foi por causa dele que virei palmeirense”, contou Leila, em uma entrevista neste ano.
Desde o início da parceria, as empresas de Lamacchia já investiram mais de R$ 1 bilhão no Palmeiras. Anualmente, o clube recebe R$ 80 milhões para exibir os nomes da Crefisa e FAM em seu uniforme. O valor pode chegar a R$ 120 milhões, dependendo do cumprimento de metas pré-estabelecidas, como a conquista de títulos. Neste ano, o Palmeiras ganhou o Paulistão e lidera o Brasileiro. O executivo investiu alto em seu time do coração, mas obteve retorno financeiro considerável ao expor suas marcas, sobretudo em razão da visibilidade e dos títulos que a equipe ganhou nas últimas temporadas.
“Ótimo negócio. Não entendo como outras grandes empresas, como bancos e montadoras, não patrocinam os times do País. O retorno é excelente. Vale a pena patrocinar, no nosso caso, para a FAM mais ainda do que para a Crefisa”, disse Lamacchia em entrevista à ESPN em 2017.
Depois de investir no seu time, Lamacchia quer colocar dinheiro na equipe mais próxima de sua mulher. Leila garante não torcer para o Vasco, mas seus irmãos são vascaíno, bem como era seu falecido pai. E a torcida do time cruzmaltino acredita que ela seja vascaína tanto que, em 2018, no jogo que confirmou o título brasileiro do Palmeiras em São Januário, os torcedores cantaram “au, au, au, Tia Leila é bacalhau”.
Existe uma proposta, desenvolvida por torcedores, para reformar e ampliar São Januário que agradou a Pedrinho. O projeto prevê a ampliação do estádio para 46 mil pessoas, e, entre outras ações, a criação de um setor popular, de praças e a integração à Barreira do Vasco, favela vizinha ao estádio.
“O Pedrinho abraçou a nossa proposta pra Reforma. A gente celebra demais isso, porque este abraço dá legitimidade ao trabalho e horizonte concreto de realização do projeto”, comemorou o perfil “Nosso São Januário” nas redes sociais.
Doações a hospital e a ex-prefeito
O executivo teve duas decisões não relacionadas ao futebol que repercutiram. Em 2018, depois de tratar o linfoma no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, ele decidiu doar R$ 35 milhões para a reforma de duas alas do Hospital das Clínicas da USP, onde também trabalhava o hematologista Vanderson Rocha, que foi um dos responsáveis pelo tratamento do câncer de Lamacchia.
Em 2020, o dono da Crefisa foi um dos doadores da campanha de Bruno Covas. Doou R$ 200 mil ao ex-prefeito, que foi reeleito naquele ano, mas morreu meses depois, em maio de 2021, vítima de câncer no sistema digestivo.
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