O avião que Leila Pereira comprou e vai oferecer para uso do Palmeiras durante a temporada é mais um dos negócios da presidente que entra no clube, a exemplo do patrocínio da Crefisa, que começou em 2015, quando ela e seu marido João Roberto queriam ajudar de alguma forma o time do coração. Por anos, Leila disse que não tinha interesse em se tornar presidente do clube. Com o tempo, isso mudou e ela tem agora um mandato de três anos no comando do Palmeiras. Foi a primeira mulher a assumir o posto na história do clube.
O modelo E-190 da Embraer comporta 114 passageiros e foi comprado com objetivo de facilitar a logística da equipe em viagens nacionais e, sobretudo, internacionais. Leila pagou R$ 280 milhões pela aeronave. E vai colocá-la à disposição do futebol. O Palmeiras gasta até R$ 1,5 milhão por mês em voos comerciais para se deslocar de São Paulo, segundo apuração do Estadão. Leila pretende reduzir esse custo em até R$ 500 mil, levando-se em conta até cinco jogos fora de casa por mês.
Não será nada de graça para o Palmeiras. O clube, que ela mesma administra, vai pagar pelo uso do avião fretado. O negócio vai acontecer da mesma forma que a presidente administra a Crefisa e o Palmeiras. Leila está dos dois lados da mesa. Assim será com o uso da aeronave. Ela oferece e ela aceita. Ela vende e ela compra.
O maior argumento da iniciativa, inédita no futebol brasileiro (não tenho notícias de que outro clube tenha um avião particular para sobrevoar o Brasil e a América do Sul), é a redução de custos por temporada. Até porque não tem sentido a presidente oferecer mais gastos ao clube que ela comanda.
Do ponto de vista da logística, da comodidade do time e dos horários praticados para as viagens, não há dúvidas de que o avião fretado chega em boa hora para uma equipe profissional de futebol que faz, em média, 80 partidas por ano. O elenco de Abel Ferreira vai descansar mais e vai poder se preparar melhor para a maratona. Do ponto de vista financeiro, se os custos forem abertos, e eles devem ser para a lisura do negócio, o Palmeiras deixará de gastar e isso é sempre bem vindo. R$ 500 mil x 10 meses dá uma economia de R$ 5 milhões, mesmo valor da premiação da conquista do time da Supercopa do Brasil diante do Flamengo. Mas como se trata de um serviço, o Palmeiras terá de buscar outras possibilidades parecidas para saber se está realmente fazendo o melhor negócio do mercado.
Há, no entanto, mais do que isso. Leila se vale do Palmeiras para divulgar seus negócios particulares. Ela está montando uma empresa aérea. Leila e seu marido José Roberto Lamacchia fundaram uma companhia aérea em 5 de outubro de 2022. Nomeada Placar Linhas Aéreas S/A, a empresa trabalha para obter as certificações necessárias da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) para poder começar a operar no País. O casal também tem um jato executivo próprio, um Falcon 8X de matrícula PR-JRY.
O Palmeiras também pode ajudar Leila a divulgar seu novo empreendimento, a exemplo do que já acontece com a Crefisa e a FAM (Faculdade das Américas), mas com um outro tipo de parceria. Para estampar as marcas, as empresas pagam ao Palmeiras cotas que já chegaram a R$ 120 milhões por ano, na forma mais comum de patrocínio no futebol brasileiro.
O novo negócio é diferente. O Palmeiras teria de bancar os custos de uso da aeronave, como combustível e horas da tripulação e alimentação. Existe ainda a possibilidade de o avião ser envelopado, para que todos soubessem da chegada do Palmeiras às praças dos jogos. De qualquer forma, a contratação do serviço, que será usado mais para o segundo semestre (o avião ainda não chegou ao Brasil), terá de ser aprovada pelo Conselho do clube. Se o acerto for firmado, de fato, Leila terá mais um dos seus negócios particulares dentro do Palmeiras.
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