Dias após a eliminação na semifinal da Libertadores e derrota no clássico para o Santos no Brasileirão, Leila Pereira convocou uma coletiva de imprensa. No Centro de Treinamento do Palmeiras, na tarde desta quarta-feira, a presidente do clube paulista rebateu as reclamações de parte da torcida, que pichou os muros do Allianz Parque e de unidades da Crefisa, patrocinadora do clube, cobrando contratações e pedindo a saída do diretor de futebol.
“Não é tocando tambor e jogando bomba que vou contratar jogadores. Esses atos de vandalismo contra uma patrocinadora que só colaborou com o Palmeiras. Na pandemia, enquanto a maioria dos patrocinadores cortou os patrocínios, a Crefisa e a FAM em nenhum momento suspendeu os pagamentos para o Palmeiras. Por isso que o Palmeiras conseguiu manter o emprego dos nossos trabalhadores intacto. Essas torcidas organizadas não construíram nada. Eles são caso de polícia. Essas pessoas são o grande câncer do futebol brasileiro. O Palmeiras não é de ninguém, é de nossos milhões de torcedores. A grande diferença é que só estou para ajudar o Palmeiras, não esses torcedores organizados, que é muito importante separar, quando reclamo é dos organizados”, comentou Leila.
“O Palmeiras tem planejamento, sim, mas nosso planejamento é feito dentro da Academia de Futebol. Em hipótese nenhuma vamos planejar por pressão de torcida organizada. A grande parte dos nossos torcedores compreende. Claro que ficamos chateados quando fomos desclassificados, mas é impossível ganhar todos os anos. Sou presidente há quase dois anos, nós conquistamos cinco títulos. Não sei se outro presidente com tão pouco tempo conquistou tanto quanto a nossa gestão. A grande emoção era quando não caía. Hoje as pessoas ficam estressadas porque de quatro Libertadores, ganhamos duas e em duas saímos na semifinal. Isso é ridículo”, explicou a presidente.
Na coletiva para os jornalistas na Academia, Leila Pereira fez questão de começar relembrando o início de sua gestão e deixando claro que contratações foram feitas desde sua chegada. Além disso, a presidente do Palmeiras também comentou a decisão de o Palmeiras ser mais cauteloso no mercado em 2023, ponto reclamado pela torcida desde o início do ano.
“Ano passado, contratamos e alguns não se adaptaram. É um investimento alto e você não tem a certeza de que ele vai performar, é muito subjetivo, alguns atletas não se adaptaram, tivemos de emprestá-los. Em 2023, tivemos um pouco mais de cuidado, por responsabilidade financeira. Eu não vou sobrecarregar o Palmeiras financeiramente para dar satisfação a jornalistas, com todo respeito que tenho a vocês, alguns torcedores. Eu tenho muita restrição para jogadores que estão se aposentado e querem se aposentar no Palmeiras. Não é nossa mentalidade, não quero. Não quero uma performance de um ano, eu quero continuidade. Quem paga essa contratação é o clube e eu não posso sobrecarregar o clube acima do que é possível pagar. Eu penso o Palmeiras a longo prazo. Quero que o Palmeiras continue sendo protagonista sempre”, explicou.
Leila x Organizadas
Não é de hoje que Leila Pereira e as torcidas organizadas do Palmeiras estão em conflito. As principais torcidas do clube, como a Mancha Alvi Verde, vem reclamando da postura da mandatária do time no atual mandato. Após a eliminação na Libertadores, os muros do Allianz Parque e sedes da Crefisa foram pichadas chamando Leila de mentirosa. Sobre os atos de vandalismo, a presidente foi direta na coletiva.
“É inadmissível. Pressão é normal, mas é inadmissível atos de vandalismo contra um parceiro que está há nove anos no Palmeiras só colaborando com o clube. Quando a Crefisa e a FAM chegaram ao Palmeiras, em 2015, um ano anterior o Palmeiras estava quase rebaixado. Ninguém nos procurou, nós, espontaneamente, viemos oferecer. A Crefisa e a FAM já colocaram no Palmeiras, ao longo desse tempo, cerca de R$ 1,2 bilhão”, disse Leila ao comentar sobre o tema.
Outra questão que incomoda a torcida palmeirense é o valor pago pelas empresas de Leila Pereira para patrocinar o clube paulista. Com as marcas estampando o uniforme do Palmeiras desde 2015, Crefisa e FAM têm pago nos últimos anos cerca de R$ 80 milhões para o time. Nesta semana, o Corinthians anunciou mais um patrocínio em seu uniforme e estima-se que a equipe do Parque São Jorge chegue a R$ 123 milhões por temporada na camisa. Questionada sobre o assunto, Leila respondeu.
“Temos contrato e vamos honrar até o final. Vou ser candidata a reeleição no Palmeiras e se o associado tiver confiança no meu trabalho e eu for reeleita, terei o maior prazer de continuar patrocinando. Mas nós faremos uma BID, uma concorrência, porque se vier alguém pagamento acima do valor que vou me propor a pagar, desde que seja uma empresa idônea... Não posso dizer que a camisa de um clube é R$ 123 milhões, você viu o contrato? Você não viu. Então, como pode falar que a camisa de um clube vale R$ 123 milhões porque falaram? Tem de ser responsável, tem de ter a certeza de que vale. Me prove que essa camisa do Corinthians estão pagando R$ 123 milhões. Me mostrem o papel que eu pago R$ 123 milhões. Quero que comprove que essas empresas pagam R$ 123 milhões por ano”, disse Leila.
Avaliação da temporada
Questionada sobre o desempenho do Palmeiras na temporada de 2023, Leila Pereira não se esquivou. Para a presidente, os resultados do time de futebol masculino é bom. Apesar das eliminações na Copa do Brasil, na Libertadores e de estar longe do título Brasileiro deste ano, Leila vê os resultados apresentados em 2022 e 2023 acima do esperado.
“Eu, quando renovei o contrato do Abel, falei com ele que queria pelo menos um título por ano. Fui modesta. Ano passado tivemos três. Esse ano nós tivemos dois. Nós trabalhamos para ganhar todos os campeonatos. Infelizmente não conseguimos na Copa do Brasil e na Libertadores, por detalhes. Gostaria que tivesse sido melhor, que nós sempre lutamos para conquistar o maior número de títulos possível sabendo que é difícil. Estamos na luta do Brasileiro, complicado, mas estamos na luta. A gente luta sempre para conquistar o maior número possível”.
Um dos alvos da torcida em 2023 é o diretor de futebol Anderson Barros. No clube desde antes do início da gestão de Leila Pereira, o dirigente tem seu trabalho questionado desde o fim da última temporada por não acertar tanto nas contratações e ter um perfil mais discreto.
“Ele no Palmeiras conquistou somente nove títulos, sendo duas Libertadores. É responsável direto pela contratação do maior treinador de futebol do São Paulo. Do São Paulo não, do Palmeiras. Não tenho dúvidas que é um profissional que qualquer clube gostaria de tê-lo. É uma pessoa equilibrada, correta, respeitosa, que eu tenho profundo orgulho de ter ao meu lado. Enquanto eu estiver aqui, o Anderson Barros será meu grande parceiro”, justificou a presidente.
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