Luis Rubiales está oficialmente fora do futebol. Depois de ter beijado à força a jogadora Jenni Hermoso, o mandatário resistiu às pressões, disse que era um beijo consentido e que não havia problema nele, mas, neste domingo, ele não suportou as cobranças e oficializou sua renúncia da presidência da Real Federação Espanhola de Futebol (Rfef) e da vice-presidência da Uefa. A decisão foi comunicada por carta aberta, divulgada pelo próprio Rubiales.
A luta foi grande, mas, no fim, Rubiales não resistiu às pressões e às denúncias que vinha sofrendo de todas as partes, do time feminino e de alguns jogadores da seleção masculina do país. A última atualização sobre o caso ocorreu na sexta-feira, quando o Ministério Público da Espanha abriu uma ação contra ele por agressão sexual e coerção. Luis Rubiales beijou à força a atleta Jenni Hermoso na entrega de medalhas após o título da Copa do Mundo feminina, realizada na Austrália e Nova Zelândia.
Na última terça-feira, a jogadora se reuniu com representantes do Ministério Público e formalizou uma denúncia contra Rubiales, o que abriu caminho para o caso ser levado à esfera criminal.
A acusação de coerção, que se junta à de agressão sexual, se dá por causa da conduta de Rubiales após o beijo. De acordo com os promotores espanhóis, Hermoso relatou ter sido pressionada a falar em defesa do presidente assim que a imagem do episódio começou a correr o mundo, minutos depois do título. O Ministério Púbico pediu que o dirigente comparecesse perante o tribunal para prestar depoimento preliminar. Se o juiz concordasse, seria conduzida uma investigação formal que terminaria com uma recomendação para que o caso fosse arquivado ou iria a julgamento.
Até então, havia dificuldade em levar a questão aos tribunais, uma vez que o artigo 191.1 do Código Penal da Espanha determina que a atuação em casos de agressão sexual só pode ocorrer quando a denúncia vem da própria vítima ou de um representante legal. O MP só costuma dar o pontapé inicial em casos nos quais as vítimas são menores ou possuam algum tipo de deficiência.
Com a denúncia de Hermoso e ação do Ministério, de acordo com uma nova lei sobre consentimento sexual aprovada no ano passado, o dirigente poderá enfrentar multa ou pena de prisão de um a quatro anos se for considerado culpado.
Na esfera esportiva, Rubiales já enfrentou consequências e foi afastado por 90 dias pela Fifa, enquanto uma investigação interna é conduzida pela entidade. Era esperado que o dirigente renunciasse, mas, em assembleia geral extraordinária da Federação Espanhola, ele garantiu que não entregaria o cargo, disse ser vítima de perseguição e defendeu-se dizendo que o beijo foi consentido.
Hermoso o rebateu e afirmou que não houve consentimento em nenhum momento. A atacante e as demais companheiras de seleção comunicaram que não defenderão mais a Espanha enquanto “os atuais dirigentes continuarem no poder”.
RESISTÊNCIA
O que não faltou a Rubiales desde que o episódio ocorreu foi resistência. Ele chegou a falar publicamente que não iria renunciar, defendendo com veemência sua inocência. Chegou a ser aplaudido por isso. O mandatário tentou manobras políticas, visto que tinha cargos altos em duas entidades poderosas do futebol europeu. Junto à Uefa, protocolou um pedido inédito pela exclusão de todas equipes espanholas de campeonatos na tentativa de conquistar o apoio de massivos clubes como Real Madrid e Barcelona.
Sua mãe chegou a fazer greve de fome em uma igreja. Segundo o jornal espanhol Marca, Ángeles Béjar deu entrada no Hospital Santa Ana de Motril, em Granada, com problemas de locomoção, enjoo, náusea e inchaço nas pernas, agravados por uma doença renal crônica sofrida, todas consequências de seus atos que duraram três dias. Ela deixou o pronto-socorro da unidade acompanhada do filho no fim de agosto.
CARTA ABERTA
Confira, abaixo, a carta aberta em que Luis Rubiales anuncia sua saída da Rfef e da Uefa:
Boa noite.
Hoje, pelas 21h30, transmiti ao Presidente em exercício, Dr. Pedro Rocha, a minha renúncia ao cargo de Presidente da RFEF. Também informei que fiz o mesmo com o meu cargo na Uefa para que o meu cargo na Vice-Presidência possa ser substituído.
Após a rápida suspensão realizada pela Fifa, além dos demais procedimentos abertos contra mim, é evidente que não poderei retornar ao meu cargo. Insistir em esperar e agarrar-se a isso não vai contribuir com nada de positivo, nem para a Federação nem para o futebol espanhol.
Entre outras coisas, porque existem poderes de fato que impedirão o meu regresso. Aí está a gestão da minha equipe e, acima de tudo, a felicidade que tenho pelo enorme privilégio destes mais de cinco anos à frente da RFEF.
Não quero que o futebol espanhol seja prejudicado por toda esta campanha desproporcional e, acima de tudo, tomo esta decisão depois de ter a certeza de que a minha saída contribuirá para a estabilidade que permitirá à Europa e à África permanecerem unidas no sonho de 2030, que permitirá trazer ao nosso país o maior evento do mundo.
Devo olhar para frente, olhar para o futuro. Agora há algo que me ocupa firmemente. Tenho fé na verdade e farei tudo o que estiver ao meu alcance para que ela prevaleça. Minhas filhas, minha família e as pessoas que me amam sofreram os efeitos de perseguições excessivas, bem como de muitas falsidades, mas também é verdade que nas ruas, cada dia mais, a verdade prevalece. Daqui transmito a todos os trabalhadores, deputados, federações e gente do futebol em geral, um grande abraço, desejando-lhes muitas felicidades.
Obrigado a todos que me apoiaram nesses momentos.
Luis Manuel Rubiales Béjar
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.