Principal campeonato nacional da Europa, a Premier League tem sua ordem de poder bem definida. Manchester City favorito ao título, com cinco conquistas nos últimos seis anos, é seguido de perto pelos outros membros do Big Six – os seis maiores clubes da Inglaterra: United, Liverpool, Arsenal, Chelsea e Tottenham. Além destes, outros 46 clubes já desfilaram pelos gramados ingleses na competição. Na temporada 2023/2024, um novo personagem surge nesse cenário: o Luton Town, que irá rivalizar com os gigantes, no menor estádio da primeira divisão.
Tal qual o roteiro da passagem bíblica de Davi e Golias, o Luton Town tem um investimento muito inferior aos protagonistas do futebol inglês. Manchester United e City, rivais da mesma cidade, gastam, anualmente, mais de 400 milhões de euros com salários; o modesto time, recém promovido à Premier League, tem um elenco com um custo ínfimo, comparado aos demais: pouco mais de 6 milhões de euros.
Localizado na cidade de Luton, no condado de Bedfordshire, o clube foi fundado em 1885, após a fusão do The Wanderers e Excelsior. Ao norte de Londres, cidade que abriga o maior número de clubes, o Luton Town ficou por muitos anos na penumbra do futebol inglês. Títulos de divisões inferiores e uma Copa da Liga Inglesa, em 1987/1988, não elevaram o patamar da equipe, que não disputa o Campeonato Inglês desde 1991/1992.
Em 2023, será estreante na Premier League. Quando foi rebaixado ao segundo escalão do futebol inglês, a competição ainda nem existia: a primeira divisão era organizada pela English Football League (EFL). Foi só a partir do ano seguinte ao rebaixamento do Luton Town que o torneio foi fundado e reformulado.
Desde então, a liga ganhou força e se tornou na maior competição nacional de clubes, quanto ao arrecadamento com direitos de transmissão e no interesse do público. Após vencer o playoff de acesso na Championship em maio, diante do Coventry City, em Wembley. Até o acesso, teve que superar uma série de obstáculos: em 2014, foi rebaixado para a quinta divisão e deixou a liga profissional da Inglaterra. Ao longo da última década, devido a crises financeiras, precisou vender parte de seus terrenos para a Ford, construtora automobilística.
Atualmente, o clube é comandado por um consórcio formado pelos próprios torcedores. A direção é formada por membros da comunidade de Luton, ex-jogadores e ídolos da equipe.
Menor estádio da Premier League
Entre casas, bares e pequenas lojas, se esconde um pequeno portão azul, rodeado por tijolos aparentes, no coração de Luton. Lá, se “esconde” o Kenilworth Road, casa do clube da cidade e que abriga pouco mais de 10 mil torcedores. É o menor estádio da primeira divisão inglesa – um sétimo da capacidade do Old Trafford – e que receberá Haaland, Rashford e Salah a partir desta temporada.
O estádio é a casa do Luton Town desde o início do século 20. Em meio às diversas quedas – três seguidas, entre 2007 e 2009 – que quase levaram o clube à falência em 2008, o estádio se manteve de pé e inóspito para os torcedores rivais. A média na última temporada, que culminou no acesso à Premier League, foi de cerca de oito mil torcedores. A expectativa é que esse número aumente ainda mais em 2023/2024. Para a maioria dos torcedores, será a primeira vez que poderão ver seu clube do coração na primeira divisão do futebol inglês. Muitos não estavam vivos para acompanhar a temporada 1991/1992.
Na Oak Road, rua que leva até o estádio dos Hatters, apelido que reflete a conexão histórica de Luton com a indústria de chapéus, a esperança é que o local seja um “caldeirão” para a equipe se manter na primeira divisão. Nos últimos anos, uma das dificuldades dos clubes que sobem à Premier League é de se manter por mais de uma temporada. A meta é continuar a tendência de Fulham, Nottingham Forest e Bournemouth, que se mantiveram na elite após 2022/2023.
“Os clubes não vão gostar de como o estádio é pequeno e compacto. Eu sento bem na frente da arquibancada principal, e você fica muito perto dos jogadores. Eles podem ouvir cada grito e cada música”, aponta David Foxen, 33 anos, dono de uma página de camisas do Luton Town e torcedor desde a infância. “Será um choque para os jogadores dos grandes times da Inglaterra.”
O Oak Stand é o setor de visitantes do estádio. Durante a campanha de acesso à primeira divisão, uma trend viralizou no TikTok, em que os torcedores gravavam sua experiência como rival do Luton Town. Para chegar às arquibancadas, é preciso passar por pequenas escadas estreitas, de onde é possível visualizar as casa vizinhas, próximas ao Kenilworth.
O Luton Town estreia neste sábado, fora de casa, pela Premier League, contra o Brighton. O primeiro jogo sob seus domínios estava marcado para a semana seguinte, mas o Kenilworth Road precisou passar por reformas estruturais a fim de receber as equipes, torcedores e imprensa. O clube gastou cerca de R$ 62 milhões para adaptar sua casa.
Apesar de manter o orgulho, o clube busca substituir seu estádio há anos, desde a década de 1980. Fundado em 1905, ele não comporta os padrões de qualidade exigidos pela Premier League, Uefa e Fifa – tanto que passa por reformas. “Haaland não vai passar por aquela entrada (principal). Vai passar pela outra entrada de m**** que temos. Não há nenhuma grande entrada aqui. Aceitem. As pessoas podem ridicularizar, mas isso não nos incomoda”, disse Gary Sweet, diretor-executivo do clube, ao The Athletic.
Um novo estádio, o Power Court, já está na fase de construção e deve ficar pronto até 2026. De acordo com o clube, ele deve manter a essência do Kenilworth Road, mas com uma estrutura melhor preparada para receber as partidas do primeiro escalão do futebol inglês. A capacidade de público será de pouco mais de 19 mil torcedores – quase o dobro da casa atual.
Desafios na Premier League
Dos 20 clubes, o Luton Town é o único que não tem patrocínio de casas de apostas na primeira divisão. A equipe é uma das apoiadoras da causa The Big Step, cuja finalidade é promover debates para o fim dos patrocínios do tipo no futebol inglês. Apesar de nobre, a ausência dessa verba pode impactar na formação do elenco da equipe.
Ross Barkley, meio-campo com passagens pelo Chelsea e futebol francês, é a principal contratação da equipe nesta janela de transferências. Anunciado nesta quarta-feira, se junta ao irlandês Chedozie Ogbene, Mads Andersen e Tahith Chong.
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