Madruga deseja Prêmio Puskás, curte status de celebridade em Ribeirão e sonha em estourar no Brasil

Dias de ídolo no Botafogo-SP após marcar dois golaços na Série B, volante se inspira em Lucas Paquetá, do West Ham, que se parece com ele fisicamente, para brilhar em grandes times

PUBLICIDADE

Por Toni Assis
Atualização:

Do anonimato ao estrelato! De coadjuvante a celebridade! Candidato ao Prêmio Puskás após fazer um gol de bicicleta contra o Novorizontino no mês de junho, Guilherme Madruga curte a fase iluminada pelos holofotes que ganhou ainda mais depois de marcar outro golaço, desta vez em chute do meio de campo, novamente diante da equipe de Novo Horizonte, pela Série B do Brasileiro no fim de semana. Com status de celebridade em Ribeirão Preto, o volante do Botafogo disse agora ter duas prioridades: ganhar visibilidade no cenário nacional e conhecer o meia Lucas Paquetá, do West Ham, da Inglaterra.

PUBLICIDADE

“Somos muito parecidos fisicamente e as pessoas me chamam de Paquetá do interior. Acho legal porque admiro o seu futebol e procuro me inspirar nele para melhorar dentro de campo. Sempre fui mais de marcar, mas agora estou evoluindo na parte ofensiva e observo bastante o Paquetá, que é um jogador polivalente.”

Em entrevista ao Estadão, Guilherme Madruga apontou mais uma coincidência que o aproxima do atleta revelado pelo Flamengo. O gosto das dancinhas. “Em casa, eu fico ensaiando e bolando umas coreografias de gol, mas não tenho a mesma desenvoltura. Estou até ensaiando uma dancinha para, quem sabe, colocar em prática quando fizer o próximo gol.”

As pessoas dizem que Guilherme Madruga se parece com Lucas Paquetá, atualmente no West Ham, da Inglaterra Foto: João Victor Cristovão / Agência Botafogo

As coincidências, no entanto, param por aí. Ao contrário de Paquetá, que é canhoto, o jovem de 22 anos tem a perna direita como ponto forte. Se o colega famoso gosta de ritmos como o funk, Madruga não abre mão de uma boa música sertaneja. “Sou do Mato Grosso Sul, da cidade de São Gabriel do Oeste, e a moda lá é outra. O Paquetá manda bem nas coreografias e eu sempre sigo as suas postagens nas redes sociais. Espero, um dia, poder encontrá-lo para bater um papo”, comentou.

Publicidade

Jogador de origem humilde, Madruga virou uma espécie de unanimidade em Ribeirão após anotar os dois golaços. Não à toa, a sua camisa (a de número 8) atualmente é a mais procurada pelos torcedores nas lojas da cidade.

“Comecei a jogar com a 5. Depois, passei a usar a 8 e me sinto mais à vontade. É um número que foi consagrado pelo Sócrates aqui em Ribeirão. Gosto de carregar esse fardo, essa responsabilidade. O Doutor teve uma história fantástica e admiro muito a carreira que ele construiu e tudo que representou para o futebol brasileiro e para o Botafogo”. O time do interior joga a Série B do Brasileiro.

No portão da casa alugada onde mora com os pais, é comum encontrar bilhetes com pedidos de camisa, autógrafos e selfies. “O carinho é muito grande e fico feliz. Estar no Botafogo é um sonho, pois disputar uma Série B, uma Copa do Brasil, é a chance de estourar no cenário nacional.”

PAI CORUJA DESAFIOU ATÉ SEGURANÇAS DO CLUBE

O apoio familiar vem sendo fundamental para que Madruga desfrute deste momento especial. Fã de handebol na infância, ele só trocou as mãos pelos pés em função da paixão do pai pelo futebol. Genildo foi um talentoso jogador de várzea que tinha no chute com a perna esquerda sua principal característica. Sem conseguir realizar o sonho de ser um atleta profissional, investiu no filho.

Publicidade

Guilherme Madruga com o pai Genildo em Ribeirão Preto Foto: Arquivo Pessoal

“Meu pai tinha o apelido de Esquerdinha e fazia fama lá na minha cidade. É um apaixonado por futebol e não mediu esforços para me apoiar. Eu gostava mais de handebol porque a modalidade era uma febre em São Gabriel entre os garotos da minha idade. Diante do apoio que recebi deles (pai e mãe) desde cedo, resolvi investir no meu sonho e não me arrependo.”

Fora de casa desde os 13 anos, Madruga chegou a defender o Usipa, de Ipatinga, e também o José Bonifácio, time que carrega o nome de uma cidade no Estado de São Paulo, antes de ir para o Desportivo Brasil. Para conseguir cobrir as despesas com alimentação, alojamento e outros custos do filho, Genildo trocou de emprego várias vezes. “Lembro que o meu pai precisou até pegar dinheiro emprestado nesta fase”, disse Madruga. Agora no Botafogo, o camisa 8 espera dar um salto na carreira para retribuir o apoio da família.

“Meus pais tomaram a decisão para que eu saísse de casa a fim de viver meu sonho. Era muito novo e não tinha dimensão disso tudo. Mas foi a melhor decisão da minha vida. Depois de oito anos, voltamos a morar juntos em Ribeirão Preto e o apoio deles é importante.”

A relação de Madruga com o pai é cercada de fatos inusitados. O fanatismo de Genildo pelo filho já criou situações curiosas. “Uma vez ele subiu em uma marquise para ver o treino que era fechado ao público. Ao perceber a presença de um estranho, um funcionário do clube foi ver o que estava acontecendo. Meu pai se recusou a sair e uma confusão se formou. Quatro seguranças tiveram de tentar resolver o problema, mas o impasse só teve fim quando a minha mãe apareceu e o convenceu a descer”, contou o atleta de sorriso fácil e bastante simpático.

Publicidade

Em uma outra atividade de campo, novamente de portões fechados, Genildo subiu no caminhão e conseguiu burlar o esquema montado pelo clube. Depois dos trabalhos, ao ser interpelado por um repórter, acabou “entregando” a escalação que o Botafogo utilizaria na partida seguinte. O técnico ficou uma fera.

PRÊMIO PUSKÁS E CAMPANHA NAS REDES SOCIAIS

Embalado por ser um dos indicados ao prêmio Puskás, Madruga comentou sobre a repercussão e a importância de aproveitar esse momento. “No meu grupo de infância do WhatsApp, o gol de bicicleta virou assunto e todo mundo ficou comentando, falando sobre o que aconteceu. Essa repercussão é sempre boa.”

Em suas redes sociais, postagens com a citação “Viciado em Puskás” e “Madruga Puskás” dão conta da mobilização que o atleta vem buscando para tentar ganhar o prêmio de gol mais bonito do ano. “Logo após o gol, tínhamos começado a campanha Madruga no Puskás, mas não tinha certeza se seria escolhido”, afirmou o jogador.

O Prêmio Puskás avalia o gol mais bonito marcado no período correspondente ao dia 19 de dezembro de 2022 a 20 de agosto de 2023. O prazo para a votação popular no site da Fifa terminou no último dia 10 de outubro. Além dos votos dos fãs, um conselho técnico formado por ex-jogadores vai ajudar a escolher o vencedor do Prêmio, que será anunciado na cerimônia do The Best 2023. A data e o local ainda não foram divulgados.

Além de Guilherme Madruga, Bia Zanerato, que fez um gol pela seleção brasileira na goleada de 4 a 0 sobre o Panamá durante a disputa da Copa do Mundo feminina também concorre ao prêmio de gol mais bonito do ano.

VOTE EM MIM

Na TV oficial do Botafogo, o volante pediu o apoio para tentar seguir os passos de Neymar e Wendel Lira, brasileiros que ganharam o troféu nas edições de 2011 e 2015, respectivamente. “Quero a ajuda de vocês, a nação botafoguense e o povo brasileiro. Quero unir forças para que eu consiga trazer esse prêmio para o Brasil. Votem bastante, conto com o apoio de vocês”, disse.

O gol que o colocou nos holofotes da fama, no entanto, esteve perto de não acontecer. Antes de balançar as redes, Guilherme Madruga sofreu um corte na cabeça e passou a jogar com um curativo e uma touca de natação para proteger o local. Minutos antes do lance fatídico, o médico chegou a conversar com o técnico pedindo a sua substituição. “Ainda bem que a mudança não aconteceu.”

A obra de arte protagonizada por Madruga provocou até um “mea culpa” do narrador Henrique Guidi, que transmitiu a partida pelo SporTV. O locutor narrou o gol como sendo do defensor Márcio e, em conversa com a assessoria do clube, topou regravar o lance por ter certeza de que o golaço teria potencial para ser candidato ao Prêmio Puskás.

Publicidade

O momento atual em nada se parece com os primeiros treinos e jogos de Madruga no Botafogo-SP. De opção para a zaga nos tempos em que foi comandado por Paulo Bayer, ele passou a ter chances como volante quando foi orientado por Adilson Batista. “No Paulistão, saí do banco na maioria dos jogos e em algumas vezes não entrei bem. E quando perdia, meu desempenho acabava ficando exposto. É um clube que tem muitos torcedores e nas minhas redes o pessoal criticava também. Tive de manter a cabeça no lugar. Não desisti e me preparei para evoluir, pois sabia que tinha de melhorar para entregar mais ao Botafogo”, afirmou.

Emprestado ao clube de Ribeirão até o fim do ano, Madruga disse que ainda tem um longo caminho a percorrer no futebol, mas deixou escapar um sonho: “Deixo a parte de renovação com os meus empresários para ficar tranquilo aqui no Botafogo e performar da melhor maneira. Aqui, sei que estou sendo observado e tenho como sonho poder, um dia, vestir a camisa da seleção brasileira”, disse.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.