Maior artilheira da história do torneio, Marta dá adeus à Copa do Mundo após eliminação brasileira

Brasil empata com a Jamaica e está fora do Mundial de 2023; aos 37 anos, atacante, seis vezes melhor da Fifa, fez sua última participação na competição

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Por Daniel Vila Nova
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Seis Mundiais disputados, 17 gols feitos e um vice-campeonato contra a Alemanha. Poucas jogadoras no mundo podem dizer que viveram tanto a Copa do Mundo quanto Marta Vieira da Silva, a Marta. Maior artilheira da história da competição, tanto no masculino quanto no feminino, a atacante escreveu o último capítulo de sua história na manhã desta quarta-feira, dia 2, com o empate do Brasil com a Jamaica pelo Mundial de 2023. O resultado da partida eliminou a seleção brasileira do torneio na primeira fase, o que não aconteceu desde 1995.

“Nem nos meus piores pesadelos com a Copa do Mundo, eu imaginava isso. O povo brasileiro está tendo renovação (na seleção), a única velha aqui sou eu e talvez a Tamires. São meninas de talento, caminho enorme pela frente. Eu termino aqui, mas elas continuam. Vocês pediram renovação, está acontecendo. Eu quero que as pessoas do nosso Brasil continuem tendo o mesmo entusiasmo que tiveram quando começou a Copa. Que continuem apoiando. As coisas não acontecem de um dia para o outro”, afirmou a camisa 10 em entrevista após o empate.

Marta se emociona ao falar sobre o seu legado no futebol feminino durante coletiva de imprensa da Copa do Mundo de 2023. Foto: William West/AFP

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Aos 37 anos, a jogadora do Orlando Pride não participará de mais Mundiais. Acostumada a titularidade absoluta, Marta teve de se adaptar a uma nova realidade durante a competição — pela primeira vez, começou como reserva. “Jamais vou me sentir menos do que qualquer outra atleta. Se eu não tiver dentro de campo, fora de campo estarei ajudando da mesma maneira”, afirmou na véspera ao Jornal Nacional, da Globo.

Ao ser comparada à Cristiano Ronaldo, que durante a Copa do Mundo de 2022 perdeu a titularidade na seleção portuguesa e se demonstrou descontente com a situação, ela ressaltou a admiração ao jogador do Al-Nassr, mas afirmou que não repetirá esse tipo de comportamento. “Se eu vejo que a minha companheira está jogando melhor, está se destacando e está ajudando a equipe, eu quero que ela vá jogar.”

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A nova condição de reserva na Copa do Mundo foi imposta por causa dos problemas físicos enfrentados nos últimos tempos. Apesar de ainda ser genial, Marta já não é mais a mesma jogadora que ganhou seis Bolas de Ouro (2006, 2007, 2008, 2009, 2010 e 2018). Ao longo de 2023, a atacante sofreu com uma lesão na coxa esquerda e desfalcou o Brasil nos últimos confrontos internacionais. Em 2022, Marta já havia ficado fora de boa parte das partidas da seleção por causa de uma lesão no joelho esquerdo.

A jogadora já admitiu que foi seu último Mundial. Comentou sobre sua trajetória na seleção e assumiu que não tentará uma sétima edição, número que somente sua antiga companheira de time, Formiga, alcançou. “Só ela conseguiu, e até hoje nunca me falou o segredo”, brincou Marta. “A gente também tem de pensar em outras coisas na vida”.

Desejo de ser mãe

Um dos sonhos da atleta é ser mãe. “Sempre tive esse desejo, essa vontade”, disse Marta. “Eu não tenho uma foto de quando era bebê, pela dificuldade da minha família. Minha mãe criou a gente sozinha, (eram) quatro filhos. Não tinha condições de pedir um fotógrafo pra tirar uma foto, e quando pediu, deve ter perdido”, completa em sua entrevista à Globo.

Os pensamentos de despedida, no entanto, não atrapalharam a jogadora. Ao menos, foi isso que ela afirmou na véspera de seu último jogo. “Estou tão focada na partida que não parei para pensar que esta pode ser minha última coletiva em uma Copa do Mundo, porque não vai ser. Estou confiante e acredito que vamos seguir na competição”, disse na coletiva de imprensa antes do jogo desta quarta contra a Jamaica.

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Chorando, Marta avaliou seu legado no futebol feminino e se mostrou orgulhosa do que conquistou. “Eu não costumo pensar na Marta. Sabe o que é legal? Eu não tinha uma ‘ídola’ no futebol feminino. A imprensa não mostrava o futebol feminino. Como eu ia entender que poderia ser uma jogadora, chegar à seleção, sem ter uma referência?”, questionou. “Hoje, a gente sai na rua e os pais falam: ‘Minha filha quer ser igual a você'. Hoje, temos nossas próprias referências. Não teria acontecido isso sem superar os obstáculos. É uma persistência contínua. A gente pede muito que a nossa geração continue assim.”

Apesar da reserva, um dos motes da campanha brasileira em 2023 era “ganhar a Copa pela Marta”. Em um Mundial de renovação de elenco, a camisa 10 era o norte de todas as jovens jogadoras que sonhavam com a conquista. “Há 20 anos, em 2003, ninguém conhecia a Marta. Em 2022, viramos referência para o mundo inteiro. Não só no futebol, mas no jornalismo também. Hoje, vemos mulheres aqui (na entrevista), o que não tinha antes. A gente acabou abrindo portas para a igualdade”, afirmou.

Em 2019, após a eliminação para a França nas oitavas de final, a jogadora deu um forte discurso direcionado à nova geração de jogadoras. “É um momento especial e a gente tem de aproveitar. Digo isso no sentido de valorizar mais. Valorize! A gente pede tanto, pede apoio, mas a gente também precisa valorizar. A gente está sorrindo aqui e acho que é esse o primordial, ter de chorar no começo para sorrir no fim. Quando digo isso é querer mais, treinar mais, estar pronta para jogar 90 e mais 30 minutos e mais quantos minutos forem necessários. É isso que peço para as meninas. Não vai ter uma Formiga para sempre, uma Marta para sempre, uma Cristiane... O futebol feminino depende de vocês para sobreviver. Pensem nisso, valorizem mais. Chorem no começo para sorrir no fim.”