Mané Garrincha investe por final da Libertadores, mas crise entre CBF e Conmebol pode atrapalhar

Estádio em Brasília é candidato a receber decisão do principal torneio do continente, no entanto, casos de racismo tornaram relação fria entre as confederações

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Foto do author Marcel Rizzo
Foto do author Ricardo Magatti

A administração do estádio Mané Garrincha, em Brasília, espera que uma boa organização para o jogo entre Brasil e Colômbia nesta quinta-feira, 20, pela 13ª rodada das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026, possa auxiliar na escolha do estádio como sede da final da Copa Libertadores, marcada para 29 de novembro.

Por outro lado, a crise recente entre a CBF e clubes brasileiros com a Conmebol por causa dos casos de racismo em jogos pela América do Sul, pode impedir que a decisão do principal torneio de clubes do continente seja novamente no Brasil. O País já recebeu as edições de 2020 e 2023, ambas no Maracanã, no Rio.

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O Estadão apurou que Brasília tem a concorrência de outras duas cidades para a final da Libertadores. Lima, no Peru, com o estádio Monumental, e Montevidéu, no Uruguai, com o estádio Centenário. A Conmebol pretende anunciar a sede nas próximas semanas.

Como diversos representantes da confederação sul-americana estão em Brasília nesta semana, na organização do jogo da seleção brasileira, questões como acessibilidade e segurança foram tratadas com prioridade pelo Governo do Distrito Federal, em parceria com a empresa que administra o Mané Garrincha. Foram 70 mil ingressos disponibilizados, todos vendidos.

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Mané Garrincha, em Brasília, é candidato a receber a final da Libertadores Foto: Dida Sampaio/Estadão

Em setembro de 2024 houve a troca do gramado, com estreia em um jogo do Brasil em outubro, pelas Eliminatórias, com vitória de 4 a 0 sobre o Peru. O piso novo é um trunfo, apesar de a Conmebol ficar responsável pelo gramado quando assume a administração do estádio dias antes da final da Libertadores, normalmente 15 dias antes do jogo.

Houve também investimento no estádio Bezerrão, que serve de local de treinamento para a seleção brasileira em Brasília para o jogo contra a Colômbia. O governo gastou R$ 105 mil para melhoria no gramado e nos vestiários. O Bezerrão deve servir de espaço de trabalho para um dos times finalistas da Libertadores caso o Mané Garrincha seja o escolhido.

Racismo abre crise

Há a preocupação entre os dirigentes brasileiros de que a crise aberta entre clubes, CBF e Conmebol por causa dos recorrentes casos de racismo contra atletas e torcedores brasileiros em jogos pela América do Sul prejudique Brasília na escolha como sede da final da Libertadores.

O mais recente e grave caso de racismo foi no jogo entre Palmeiras e Cerro Porteño pela Libertadores Sub-20, em Assunção, no Paraguai. Há quase duas semanas, torcedores do clube paraguaio imitaram macaco para os jogadores Figueiredo e Luighi, do time brasileiro.

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Luighi chorou e fez um desabafo na entrevista obrigatória pós-jogo, para a TV oficial do torneio, cobrando a Conmebol por providências efetivas. O Cerro foi multado em US$ 50 mil (R$ 283 mil), com a proibição de torcedores no estádio no restante da competição e campanha educativa, punição padrão da entidade em casos assim.

Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, tem se desentendimento com a Conmebol após casos de racismo Foto: Rafael Ribeiro/CBF

Na última segunda, durante o sorteio dos grupos das Copas Libertadores e Sul-Americana, o presidente da Conmebol Alejandro Dominguez, que é paraguaio, fez em português um discurso contra o racismo, dizendo que é um problema da sociedade que alcança o futebol e que vai convocar autoridades dos países da América do Sul para discutirem soluções.

Só que em uma entrevista após o evento, perguntado se conseguia imaginar a Libertadores sem os clubes brasileiros, ele fez uma analogia racista ao dizer que seria como “Tarzan sem a {macaca} Chita”. A declaração causou revolta de dirigentes e torcedores brasileiros, especialmente em Leila Pereira, presidente do Palmeiras. Dominguez se desculpou, em nota, e argumentou ter usado uma frase popular.

Todo esse cenário torna incerta a escolha da sede da final da Libertadores, principalmente porque Uruguai e Peru são países com os quais a direção da Conmebol tem uma ótima relação.

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Ainda durante momento ruim da pandemia, em novembro de 2021, o governo do Uruguai liberou a presença de torcedores na final da Libertadores daquele ano, na vitória de 2 a 1 do Palmeiras sobre o Flamengo, no Centenário. Os uruguaios também intermediaram a compra de vacinas da covid para que a Conmebol imunizasse representantes de clubes que estavam jogando sua competição.

Em 2019, Lima topou assumir a final da Libertadores entre Flamengo e River Plate, 18 dias antes da partida depois que Santiago, no Chile, desistiu de ser sede porque o país vivia uma convulsão social à época, com protestos nas ruas, e também por causa de questões burocráticas. O Monumental lotou mesmo assim, portanto a cúpula da Conmebol recebeu a candidatura de Lima com atenção.