Empresário bem-sucedido e atualmente um ex-dirigente vencedor, Marcelo Teixeira resolveu abandonar a “aposentadoria” do futebol brigando pelo comando do Santos após 15 anos, cansado de tantos vexames do time, sem suas palavras. Definindo-se um santista ‘doente’ e daqueles que não abandonam as arquibancadas, ele é favorito na eleição deste sábado, dia 9, na qual disputa com Ricardo Agostinho, Wladimir Mattos, Rodrigo Marino e Maurício Maruca a preferência de quase 17 mil sócios.
Confiante na vitória, o candidato de 59 anos admite que pode novamente investir seu próprio dinheiro no clube e tem diversas ações encaminhadas para recolocar o Santos na vitrine nacional, reveladas em entrevista ao Estadão. Nem mesmo a queda à Série B o abala. A ideia é “usar” a passagem pela divisão para mostrar o quão grande o clube é. “Não vou pensar pequeno só porque o time caiu”, admite.
E não são poucas as ações que Marcelo Teixeira tem encaminhadas para acabar com “15 anos de má gestões.” Entre as tratativas já há um patrocínio alto encaminhado de valores que podem bater os R$ 100 milhões, a transformação da Vila Belmiro para uma moderna arena para 35 mil lugares, em parceria com a WTorre, um acerto para mandar jogos no Pacaembu, que será reaberto em janeiro, e também por um tour pelo País, utilizando as arenas espalhadas de norte a sul. O elenco da queda será totalmente reformulado, mas Marcelo Teixeira já avisa que os arquirrivais não terão facilidade para tirar peças do elenco a preço de banana. O editor e colunista Robson Morelli apontou sete lições para o Santos após a queda. Veja.
“Os rivais ficaram mal-acostumados, pois os atuais dirigentes são maleáveis. Comigo será bem duro tirar jogador daqui, só com o pagamento da multa ou bom dianheiro”, adiantou, já ciente de que o Corinthians “cresceu o olho” em Soteldo e Marcos Leonardo, por exemplo. “Pretendo manter as principais peças, mas são raras, com qualidades são poucos”, disparou. “E não queremos ter ninguém que fique obrigado, o Santos é maior que qualquer jogador do elenco.”
Santos tem um time frágil
Marcelo Teixeira ficou desgostoso com a queda à Série B às vésperas da eleição, apesar de já vir trabalhando com a possibilidade há tempos. Frustrado com o grupo, não poupou críticas e prometeu uma reformulação grande em tudo. Até mesmo nomes badalados devem sair. Admitindo que teve uma noite péssima de quarta-feira, chegou a se emocionar e não segurou as lágrimas ao lamentar a dor da queda, a qual espera ser a última na história de 111 anos de glórias do Santos.
“Sempre temos de pensar em tudo, ter plano A e plano B. Esse time é frágil, muito limitado, muito ruim. Não dá nem para jogar a Série B”, mostrou sinceridade. “(Caso seja eleito), não vou radicalizar, mas faremos uma grande reestruturação, com novos nomes, a vinda de profissionais em uma nova linha de trabalho com outra política”, disse. “Não deu para definir nomes (de dispensados), pois não sabemos de contratos, mas vamos ter de atacar, de forma emergencial, drasticamente esse elenco. Impossível trabalhar com 50 jogadores.”
Vestido com uma camisa 5 do Santos e fazendo questão de lembrar do astro Clodoaldo, Teixeira espera resgatar nomes históricos do clube, trazê-los de volta, usar a experiência desses ícones para ajudar na descoberta de novos astros. A categoria de base terá um olhar diferenciado. Na sua visão, ela se tornou uma das decepções do clube. “Tudo me decepcionou neste Santos. Você vê a base fatiada, o profissional inchado, o clube não revela e o marketing está com ações fora da realidade, sem arrecadação. Temos de dar um choque de medidas”, afirmou, reclamando dos sucessores e falando em gestão de competência.
“(Os problemas vieram) pela má gestão. É inadmissível o Santos ter em 2009 o melhor Centro de Treinamentos, que era referência, e depois deixar tantos campeões paulista, da Copa do Brasil e da Libertadores saírem, o clube não investir e não crescer em títulos e no patrimônio. O Santos parou em tudo, o reflexo é a estagnação que teve nos últimos anos”, disparou, referindo-se também aos resultados de campo. “São erros sucessivos de administração, que vendem ativos para cobrir dívidas e passivos. É gravíssimo. Hoje, além da queda, somos o time da fila ( a última conquista nacional foi a Copa do Brasil de 2010). Vamos resgatar a altoestima do torcedor, dar alegria. A principal missão é qualificar o elenco, reduzindo custos, mas tendo um time competitivo.”
Corte de gastos
Reduzir gastos será uma das obrigações. “Hoje o Santos possui uma folha de pagamento alta (não revelou quanto) já para Série A, incompatível com a qualidade de elenco. Permanecendo a gente já mexeria para qualificar e equilibrar a folha na Série B. Temos os prós e contras de disputar uma divisão diferente pela primeira vez e temos de ver pelo lado positivo, agregando, conscientizando, mobilizando em torno da nova fase, lotando todos os estádios. Santos será vitrine, o protagonista”, ressaltou, revelando que buscará cotas de TV de acordo com a grandeza da equipe. Parte do dinheiro de TV de 2024 já foi adiantado em 2023.
“Na negociação com a nova liga, vamos pontuar isso. Temos uma marca com força, camisa, mesmo na Série B, temos de buscar uma valorização e tem de ser como sempre foi para um gigante. Nossa camisa na Série B será a maior, vai ter audiência, atenção e possibilidade de trazer um retorno financeiro”, apostou.
Nessa linha de valorizar a história do Santos, seu passado, mas também resgatar seu presente, o candidato confia que manterá todos os acordos que vinha negociando para ter um patrocínio forte para os próximos anos. O empresário evita falar em valores, mas trabalha para ter um investimento de até R$ 100 milhões. Ele já teria acertos nesse sentido com novos parceiros.
“O projeto do Marcelo Teixeira de 2024 agrega credibilidade, experiência e ações que venham a dar uma confiança nos nossos parceiros. Teremos uma série de projetos, o match day, que vamos implantar independentemente de onde tiver jogando. Não acho (que os parceiros vão voltar atrás pela queda), as negociações estão em curso com fornecedor de material esportivo, hoje a Umbro, e vencendo a eleição vamos negociar, ampliando bem o que é feito”, anunciou. Marcelo não abre mão de ver todos os contratos do clube em tempo recorde se for eleito, o que não quer dizer mudar tudo.
“Faremos uma licitação geral para que o Santos tenha o melhor projeto e a melhor parceira na camisa. Com o Pacaembu, que vai ser reaberto em janeiro, estamos negociando e não mudará em nada, faremos jogos lá, a estreia do novo Pacaembu com jogo oficial. Já assinamos a carta de intenção, me comprometi. Vamos fazer o match day no Pacaembu e instalá-lo na construção da nova arena. Pretendemos ter memorial das conquistas nos dois estádios. Faremos interatividade com torcedor no Brasil e no mundo acompanhando nossas atividades. Até da base. A verdade tem de ficar clara. Meu pensamento é o ponto central e não vou pensar pequeno porque caiu. Nenhum projeto será modificado.”
Conforto à torcida santista
O torcedor do Santos deu enorme demonstração de apoio ao time na reta final do Brasileirão. Mesmo com resultados bem ruins e muitos tropeços, e apesar das destruições na Vila e suas imediações após a queda. Teixeira sabe que precisa do apoio das arquibancadas e fará de tudo para oferecer conforto aos santistas. Tê-los no estádio é uma meta e para isso será implantado “imediatamente” o reconhecimento facial para acabar com o cambismo.
Trens para a Vila
Com a obra da nova Vila Belmiro encaminhada, Teixeira revelou com exclusividade que o torcedor da capital, do ABC e até do interior terão caminhos mais rápidos para chegar ao estádio. “Alinhamos com o governo do Estado, que vai investir na malha ferroviária, que teremos trens exclusivos, do interior, do ABCD e da capital, em todos os dias de jogos voltados, direcionados e ampliados para atender a torcida”, anunciou. Nas tratativas, seriam menos de 40 minutos para o deslocamento até a Baixada.
“Com (rodovias) Imigrantes e Anchieta estranguladas, com graves problemas de locomoção, nós criamos a opção da malha ferroviária. O projeto já existia, mas demos a solução para dias de jogos. Ela acabará com encontros de torcidas. Será algo fantástico.”
O time para 2024
Fora da Copa do Brasil e das competições sul-americanas em 2024, o plano de Marcelo Teixeira é montar um único time para 2024, que disputaria o Paulistáo com obrigação de se classificar ao mata-mata após três anos amargando quedas na primeira fase do torneio e que já teria o perfil suficiente para passar sem sustos na Série B.
“Errar o menos possível. Temos uma dívida alta, um passivo considerável e precisamos de uma série de ações para ter um controle. Será fundamental não apenas aumentar a receita, mas que tudo seja compatível”, disse. “Vamos jogar na capital, mas pretendemos atuar em outras cidades também e vamos explorar bem essa questão, mobilizando torcidas onde o time estiver, lotando estádios.”
Por fim, ele resumiu todo o prognóstico para o próximo triênio, de 2024 a 2026. “A ideia é profissionalizar sempre, reconhecer valores dos ídolos, profissionalizar departamentos, ter governança, austeridade financeira, metas e prazos a serem cumpridos. E a marca Pelé, que vou acompanhar de perto, para que possamos aproximar a marca do time.”
Para ser eleito, o candidato terá de ter maioria na votação neste sábado e superar seus rivais Ricardo Agostinho, Wladimir Mattos, Rodrigo Marino e Maurício Maruca com ideias semelhantes no sentido de dar ao Santos mais dinheiro e um time forte. A votação se dará das 10h às 17h. Quase 8 mil (7.662) associados escolheram votar pela internet. O pleito acontece na Vila Belmiro, no Ginásio Athiê Jorge Coury e no Salão de Mármore do estádio.
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