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Messi alcança a glória máxima e ergue o troféu tão sonhado em sua despedida de Copas

Camisa 10 conquista o Mundial em sua quinta tentativa e fatura a taça que desejava desde os dez anos

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Foto do author Ricardo Magatti
Atualização:

Um franzino garoto argentino de dez anos estipulou para si uma ambiciosa meta: “Tenho dois sonhos. Quero jogar a Copa do Mundo e quero ser campeão da Copa do Mundo”, dissera, em entrevista a um programa de televisão local. O objetivo era ousado para muitos. Não para o sonhador menino em questão, Lionel Andrés Messi Cuccittini.

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Vinte e cinco anos depois daquela entrevista, Messi realizou, enfim, o segundo de seus sonhos em sua derradeira tentativa. Aos 35 anos, em sua quinta participação em Mundiais, ergueu a taça mais cobiçada entre os futebolistas e definiu seu legado no torneio que é o Santo Graal do futebol mundial.

Sua carreira não seria reduzida em importância sem o troféu, mas, com ele, torna ainda mais fabulosa a jornada de um dos maiores jogadores da história, ainda mais depois do que fez na final diante da França, com dois gols e uma fria cobrança na disputa de pênaltis. A conquista o coloca ao lado do ídolo Diego Maradona.

Messi comemora gol em jogo contra a Holanda na Copa do Mundo no Catar Foto: AP Photo/Ricardo Mazalan

Despede-se com recordes batidos e à frente de lendas como Maradona, Batistuta e o alemão Lothar Matthäus. Tornou-se no Mundial catariano o argentino com mais gols em Copas do Mundo (13), o atleta que mais partidas de Copas disputou (26), e foi o vice-artilheiro desta edição, com sete gols. Mbappé foi o máximo goleador, com oito.

Único a marcar em todas as fases de uma Copa do Mundo, o argentino superou Pelé ao anotar seu 13º gol em Copas e subir para o quarto lugar na artilharia histórica dos Mundiais.

Se o futebol devia uma Copa a Messi, como afirmou seu companheiro Di María em 2018, não deve mais. O problema foi sanado no Catar, o palco onde o astro argentino apresentou sua melhor e mais vibrante versão. A consequência de conduzir a Argentina à terceira conquista mundial foi ser eleito o craque da Copa, o que já havia acontecido no Brasil, em 2014, quando foi vice.

TRAJETÓRIA DE SUCESSO

A trajetória até a glória foi cheia de percalços, derrotas, decepções e teve até despedida temporária da seleção alviceleste. A impressão é que Messi se despediria da seleção argentina sem o que ele mais queria.

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Messi estreou em Copas aos 19 anos. Na Alemanha, em 2016, não foi titular do time de José Pekerman que tinha Crespo, Saviola e Tevez. Foi naquela edição que saiu o primeiro gol do astro em Copas, na goleada por 6 a 0 sobre Sérvia e Montenegro. A Argentina foi eliminada nas quartas de final para a Alemanha, e ele ficou os 120 minutos no banco de reservas. Pekerman ouviu muitas críticas por isso. Argumentou depois que não usou Messi porque ele estava machucado.

Na África do Sul, quatro anos mais tarde, Messi chegou como o melhor atleta do mundo. Foi comandado pelo ídolo Diego Maradona, que tentou de tudo para tornar o jogador, então com 23 anos, um líder também fora de campo. O treinador queria diminuir a timidez de seu principal jogador. Não deu certo. Messi não rendeu o que se esperava e a Argentina caiu de novo para a Alemanha e novamente nas quartas. Aquela Copa foi a pior para o atacante. Foi a única em que não marcou um gol sequer.

No Brasil, em 2014, os argentinos viram pela primeira vez o melhor de Messi em Copas, emulando atuações parecidas com as do Barcelona. Foi decisivo sobretudo na primeira fase. Ficou perto de alcançar o topo, mas não conseguiu. Mais uma vez os alemães foram algozes. O time de Alejandro Sabella foi derrotado por 1 a 0 na prorrogação.

Higuaín empilhou chances perdidas, mas o camisa 10 também desperdiçou gols que não perdia. Com o placar zerado, teve da entrada da área, numa posição em que geralmente acertava o gol, a oportunidade de obter a glória, mas chutou para fora. O consolo que não lhe consolou foi ter sido eleito o craque daquela Copa, na qual foi às redes quatro vezes e deu uma assistência.

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Entre a Copa de 2014 e a de 2018, chegou a falar que não mais defenderia a seleção argentina. Estava desiludido depois de três vices em sequências. O do Mundial e dois em finais da Copa América perdidas para o Chile, em 2015 e 2016. Mas mudou de ideia e foi à Rússia.

Em solo russo, a Argentina fez um Mundial medíocre. Messi não se sobressaiu num time atrapalhado por uma comissão técnica rachada e pelo ego e personalidade explosiva do técnico Jorge Sampaoli. O camisa 10 aparentou desânimo. Não estava confortável nem feliz. O boato era de que havia brigado com a mulher, Antonella Roccuzzo.

O time foi eliminado nas oitavas de final. Caiu para a França ao perder por 4 a 3 em um dos melhores jogos do torneio, no qual Messi deu duas assistências, mas foi ofuscado pelo brilho de Mbappé.

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No Catar, nada atrapalhou Messi e o grupo, o melhor do qual fez parte, segundo o craque argentino. “Estou desfrutando muitíssimo”, disse ele após a vitória sobre a Croácia que colocou a Argentina na final. “É muito emocionante o que estou vivendo nesta competição, é emocionante ver a reação das pessoas, aqui e na Argentina”.

Mais do que ganhar, Messi desfrutou. Aproveitou nos 30 dias em Doha que marcaram o seu adeus em Copas. “Acredito que aproveitei muito mais do que antes, quando não pensava e só queria jogar”, afirmou. “Antes, só pensava na partida seguinte, em ganhar. Muitas coisas importantes passavam despercebidas. Hoje, tento aproveitar o momento. Vejo as coisas de outra maneira e dou importância aos pequenos detalhes, a coisas que não me importava”.

Ele foi comportamentalmente o mais Maradona possível. Provocou, insultou, reclamou e vibrou. Em campo, fez gols de fora da área, passes de gênios, lançamentos precisos, arrancadas que entortaram marcadores, chutes de todas as posições e uma quantidade de gols que nunca tinha anotado no torneio. Foram cinco, que lhe renderam a artilharia. Além de três assistências.

Messi foi o “enganche”, o meia clássico, que geralmente é, mas também foi um atacante finalizador, um raro volante, dando carrinhos e ajudando seus companheiros na defesa, e até centroavante, como mostrou no terceiro gol da Argentina sobre os franceses. Procurou o tempo todo espaços vazios, achou brechas nas defesas adversárias e mostrou a genialidade dos tempos de Barcelona.

Também provou ser o capitão que por muitos anos a Argentina procurou. Bateu pênaltis, faltas, e liderou os companheiros com os pés e as palavras, nas quais tanto tropeçou em seus primeiros anos com a braçadeira. Foi ele que abriu a disputa de pênaltis vencida sobre a França. Com frieza, venceu o goleiro Lloris. Viu seus companheiros fazerem o mesmo e pôde, enfim, celebrar.

Todos foram lhe abraçar depois que ele desabou no gramado e chorou. A música parou por um instante e Messi quebrou o protocolo da Fifa. Pegou o microfone e desabafou: “Vamos, Argentina. Somos campeões mundiais”. O futebol não deve mais uma Copa a Messi.

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