A vida do professor de desenho e bombeiro militar Alexandre Porto mudou bastante no dia 2 de julho de 2014, mais de oito anos atrás. Naquele dia, o mineiro de 44 anos conseguiu entregar um retrato seu para Lionel Messi durante a Copa do Mundo no Brasil. A partir daí, sua carreira como desenhista deslanchou. Como forma de gratidão e admiração, ele passou a acompanhar de perto a carreira do camisa 10 e vai torcer para a Argentina na final diante da Croácia, nesta terça-feira.
Após o encontro, Porto ficou famoso a ponto de criar o curso online de desenho chamado “Desenhos Realísticos com Alexandre Porto”. Desde 2017, já passaram sete mil alunos pelas aulas virtuais. Durante muito tempo, o curso foi sua principal fonte de renda – hoje, ela se equilibra com os vencimentos que recebe como bombeiro militar. O curso custa R$ 390, parcela única, e garante acesso vitalício ao conteúdo e suporte de um ano do professor.
O autógrafo e o encontro com Messi funcionaram como uma das maiores chancelas para seu talento. A partir do encontro com Messi, ele foi recebido pelo uruguaio Luis Suárez, na Copa América do Brasil, o que ampliou seu prestígio. “Passei a ser mais reconhecido e conquistei grande notoriedade pelo desenho. O encontro me abriu muitas oportunidades”, diz Porto. O encontro com o craque argentino é vista como uma conquista. “Foi a realização de um sonho. Consegui chegar aonde poucos chegaram, pelo meu talento. Foi um reconhecimento”, diz.
Como gratidão e por amor ao bom futebol, Porto torce por uma final entre Argentina e França na Copa do Catar. “Torço pelo Messi, nem tanto pela Argentina”, esclarece.
Porto foi o único fã brasileiro a ter contato com o craque na na Cidade do Galo, em Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte, onde a delegação argentina se hospedou durante o Mundial do Brasil. O encontro improvável aconteceu por uma série de contatos com alunos de desenho e profissionais que cuidavam da segurança na concentração e, por fim, a emissora de tevê ESPN, da Argentina. Ele conta se tudo ocorrera ontem.
Depois de dedicar quase um mês a um quadro com papel e grafite, em 80 x 60 centímetros, o autor esteve frente a frente com o retratado. A reprodução é fiel de uma foto com técnicas do hiper-realismo, escola que transpõe detalhes da realidade para retratos e paisagens. O processo mental de se lembrar do retratado ajuda na captação dos detalhes, gerando maior fidelidade. “Ele foi bem simpático. Disse que o desenho era ‘belíssimo’ e perguntou se eu tinha usado apenas lápis comum”, recorda-se o bombeiro que encaminha com rapidez a prova do encontro: um outro quadro autografado pelo craque.
O Estadão já havia se encontrado com Porto em 2014 durante a Copa. A passagem de Messi causou um rebuliço em BH. Torcedores iam da periferia à porta do CT à espera de um autógrafo que nunca veio. Estabelecimentos comerciais como a Pizza Sur prestaram homenagens ao craque criando pizzas especiais. Também estavam de olho nos 25 mil argentinos que passaram pela capital mineira no período do Mundial. A passagem do craque é lembrada até hoje.
Bombeiro há 24 anos, Porto trabalha atualmente na central 193 da cidade administrativa do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, recebendo chamados e gerenciando as viaturas para as emergências. Ele conta que ser bombeiro era um sonho de infância. “Nas brincadeiras de rua, sempre queria ajudar as pessoas”, afirma.
A vocação para o desenho é da mesma época. Quando era criança, gostava de desenhar nas paredes de sua casa. Com o tempo, sua mãe, dona Célia, parou de brigar. Achou que o menino da periferia de Belo Horizonte tinha talento. Até Messi concordou.
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