O movimento encabeçado por alguns dos principais jogadores do futebol brasileiro, como Neymar, Lucas Moura e Thiago Silva, contra os jogos no gramado sintético tem influência política e foi criado para os clubes contrários à superfície atacar os que jogam no piso artificial. A avaliação é de Alessandro Oliveira, CEO da Soccer Grass, empresa responsável pelo gramado do Allianz Parque desde 2020.
Para Oliveira, existe uma clara ação política nesse manifesto, divulgado na manhã de terça-feira nos perfis nas redes sociais de cada um dos jogadores que apoiam a proibição do jogo de futebol no piso sintético. A ação não é orgânica, a ofensiva era ensaiada há tempos e foi posta em prática com a ajuda dos atletas, como admitiu sem querer o atacante Tiquinho Soares, ao escrever que, como atleta do Santos, precisa defender a instituição e suas “ideologias”, dando uma justificativa para os botafoguenses que foram lhe cobrar nas redes sociais.
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A gente sabe que tem uma influência política muito grande de alguns clubes para que tire os gramados sintéticos dos estádios. Não acho um movimento muito inteligente, é um tiro no pé.
Alessandro Oliveira, CEO da Soccer Grass
O empresário acredita que os jogadores que mais se queixam de atuar na grama sintética hoje sejam os mais velhos. De fato, o movimento é liderado por atletas experientes, com mais de 30 anos, casos de Neymar, de 33, Lucas Moura, de 32, Philippe Coutinho, também de 32, e Thiago Silva, de 40. Todos que retornaram ao Brasil depois de longos períodos no futebol europeu.
“Eles já não conseguem mais acompanhar o futebol da Europa, vêm para o Brasil e sentem dificuldade. Aqui é o mesmo futebol, a mesma corrida, você precisa ter o mesmo preparo”, diz ele, sem citar nomes, em entrevista ao Estadão.
Sem mencionar lesões ou se aprofundar nas razões que levaram a protagonizar a campanha, intitulada “futebol é natural, não sintético”, os jogadores citam a necessidade de oferecer “qualidade para quem joga e assiste” e exigem ser consultados.
“É uma polêmica rasa. Você não tem nada tecnicamente que possa brigar contra o sintético. Existem menos lesões, o futebol flui, o jogo é regular. Meu entendimento é de que é uma briga política”, afirma o CEO da Soccer Grass.
No comunicado, os atletas não mencionam contusões no campo sintético, embora essa seja uma queixa antiga de alguns dirigentes, técnicos e jogadores. Não há, contudo, um consenso na área médica quanto à maior incidência de lesões em gramados artificiais em comparação ao natural.
Em 2023, a revista científica inglesa The Lancet analisou mais de mil estudos sobre o tema para concluir que não há uma correlação entre o sintético para o aumento de lesões. Inclusive, de acordo com a publicação, a incidência de problemas físicos nos campos artificiais é menor quando comparado ao natural – 14% inferior, em média.

“Para eles (jogadores), está tudo bem jogar em um campo com buraco, aquaplanagem? É meio insano isso”, questiona o empresário.
Palmeiras, no Allianz Parque, Botafogo no Engenhão, Atlético-PR na Ligga Arena são as principais equipes do País que jogam em estádios cujos gramados são artificiais. Em breve, o Atlético Mineiro fará o mesmo, já que o campo natural da Arena MRV está sendo trocado por um sintético.
O clube paulista rebateu o apelo de Neymar e afirmou que a publicação dos jogadores se trata de uma “crítica rasa e sem base científica”.
Oliveira garante a grama sintética que fornece ao Allianz Parque se aproxima muito do gramado natural. No ano passado, sua empresa se viu obrigada a trocar o termoplástico, que derreteu, pela cortiça, um material orgânico, natural, de origem vegetal, com capacidade de isolamento térmico e que pode ser obtido na natureza, da casca da árvore conhecida como sobreiro, típica da Península Ibérica.
A Fifa certifica anualmente todos os gramados sintéticos a partir de inspeções a fim de aferir que o campo siga os mesmos parâmetros de grama natural em perfeito estado. Neste ano, a entidade fará essa inspeção no dia 18 de março.
Nos testes feitos pelos técnicos dos laboratórios credenciados pela Fifa, são analisados fatores como rolagem e quique da bola, absorção de impacto, planicidade e drenagem do gramado. Em resumo, a Fifa vai nos melhores gramados naturais, faz uma série de avaliações e depois repete no sintético.
A Fifa vai ao Allianz no dia 18 de março. Desafio os clubes deixarem fazer o mesmo teste no Morumbi, no Maracanã. Não tenho problema em pagar os testes e mandar fazer. Seria o correto, mas acho que eles não vão querer.
Alessandro Oliveira, CEO da Soccer Grass